Em Goiás, 305 mil pessoas ficaram sem remuneração por causa da pandemia
No mês de maio, 479 mil pessoas, o que representa 15,4% da população, foram afastadas do trabalho por conta do distanciamento social. Economista classifica cenário como de "caos" e teme dificuldade na recuperação da economia
O avanço da pandemia do novo coronavírus e das medidas de isolamento social em Goiás fizeram o desemprego aumentar no Estado. Em maio, 479 mil pessoas, ou seja, 15,4% da população, foram afastadas do trabalho por conta da necessidade de confinamento. Destas, 305 mil ficaram sem remuneração. Economista prevê dificuldade na recuperação da economia e estima que processo deve durar cerca de 6 meses.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados na quarta-feira (24). O levantamento aponta que, apesar do alto número de pessoas afastadas do trabalho por causa do isolamento, Goiás ficou na 9ª posição entre os estados com menor índice de afastamento, abaixo da média brasileira, que registrou 18,6%, contra 15,4% no estado goiano.
Ainda de acordo com a pesquisa, 81,3% da população do Estado não se afastou do trabalho, o que representa 2,5 milhões de goianos. Neste quesito, Goiás também ficou acima da média nacional, que alcançou 77,5%.
Sem ou com baixa remuneração
O levantamento apontou ainda que 37% das pessoas ocupadas no Estado tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido. Os trabalhadores receberam, em média, R$ 422 a menos do que o comum, com carga horária também inferior à convencional.
Em maio, Goiás atingiu a 5ª maior taxa de desocupação, com 449 mil pessoas desocupadas, o que representa 12,6% da população, acima da média nacional de 10,7%. No mesmo mês, 40% dos residentes no Estado receberam auxílio emergencial do Governo Federal.
Caos e dificuldade de recuperação
O economista e coordenador do Centro de Pesquisa de Mestrado da Unialfa, Aurélio Troncoso, avalia o cenário goiano como de “caos”. Ele ressalta que, embora Goiás tenha índice de demissão considerado baixo, quase 500 mil pessoas estão paradas no Estado. “A maioria não teve nenhuma remuneração e 37% tiveram redução da carga horária e, consequentemente, da remuneração”.
Segundo ele, o resultado é um impacto negativo na economia, visto que mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) é ligado diretamente ao consumo da população. O profissional explica que o isolamento social acarretou uma cadeia prejudicial à economia. “Entendemos que é uma medida necessária do ponto de vista da saúde, mas isso acarretou consequências econômicas. As pessoas consomem menos porque estão sem dinheiro. As empresas deixam de produzir e empregar também. É uma cadeia”, avaliou.
Troncoso afirma que a população e o Estado terão problemas até a recuperação da economia. Ele estima que o processo dure até 6 meses para voltar à normalidade. “É certo que teremos uma retração na economia goiana, que está diretamente ligada ao consumo e à renda das famílias. Não é porque liberou o comércio que todos vão comprar. Muitos estão sem dinheiro, outros têm medo da contaminação e não saem para as compras”. Por isso, de acordo com ele, a atividade comercial ainda será menor inicialmente.
Para que a economia volte gradualmente, o economista sugere que o Governo Estadual auxilie os empresários. “É preciso atrair investidores e ajudar os que já estão aqui”, ressalta. Ele cita que medidas como a redução de incentivos fiscais, IPTU, IPVA, ICMS pode estimular as empresas e garantir a geração de empregos.
“O Governo não pode pensar só em arrecadar. Ele precisa ter o básico para pagar o que deve, o funcionalismo público e outras dívidas, mas o resto pode servir de ajuda para os empresários. O Estado tem condição para isso”, disse.
Auxílio emergencial insuficiente
O economista é categórico ao afirmar que o auxílio emergencial no valor de R$ 600 – e R$ 1,2 mil para mães de família solteiras – não é suficiente para a manutenção das famílias e para manter a economia girando. Mas, segundo ele, o Governo Federal não possui estrutura para pagar um valor maior.
“Durante os três meses de auxílio serão gastos cerca de R$ 90 bi. É um dinheiro doado, que não volta ao Governo”. Ele afirma, ainda, que é preciso pensar em saídas para buscar dinheiro caso haja necessidade de prolongamento do auxílio.
Troncoso afirma que uma das saídas seria a emissão de papel-moeda para que o Banco Central compre títulos públicos do Tesouro. “Seria uma dívida do Brasil com o próprio país. A taxa Selic não é atrativa para investidores, pois é muito baixa. Então o BC compraria esses títulos e faria um crédito na conta da instituição. O Governo conseguiria dinheiro e o colocaria em forma de auxílio para as famílias”, destacou.
Outra alternativa sugerida é a cobrança de dívidas internacionais. “O Brasil foi avalista de países como Cuba e Venezuela, por exemplo. Eles deixaram de pagar a dívida e o Brasil está pagando para não ficar inadimplente. Seria uma forma de adquirir mais recurso para prosseguir com o auxílio”, disse.