Entenda por que gasolina, diesel e gás de cozinha têm reajustes diferentes
Além do custo de produção, os preços dos combustíveis refletem condições de mercado de cada produto, que variam durante o ano
Pressionada pela escalada das cotações internacionais do petróleo, a Petrobras anunciou nesta quinta-feira (10) reajustes nos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Os aumentos, porém, foram bem diferentes: 18,8%, 24.9% e 16,1% respectivamente.
Diretor de Refino da Petrobras durante a gestão que implantou a política de paridade internacional dos preços, Jorge Celestino explica que, além do custo de produção, os preços dos combustíveis refletem condições de mercado de cada produto, que variam durante o ano.
A política de preços da Petrobras segue as cotações de cada derivado de petróleo na região considerada a melhor alternativa de suprimento para o mercado brasileiro, geralmente o Golfo do México, que concentra grande parte da capacidade de refino dos Estados Unidos.
Assim, a avaliação do preço da gasolina, por exemplo, considera a cotação da gasolina no Golfo do México, a taxa de câmbio e custos de importação do produto, gerando um parâmetro chamado de paridade de importação.
Embora essas cotações acompanhem os preços internacionais do petróleo, há outros fatores influenciando o seu valor de venda ao longo do ano, como o cenário global de oferta e demanda e questões sazonais.
No inverno do Hemisfério Norte, por exemplo, o diesel e o gás de cozinha tendem a ficar mais caros pela elevada demanda para calefação. Já no verão, o preço da gasolina é pressionado pela alta procura na temporada de viagens de carro nos Estados Unidos, maior consumidor mundial.
O último reajuste da Petrobras antes do anúncio desta quinta havia sido feito no dia 12 de janeiro, num momento em que os preços do diesel ainda sofriam pressão da elevada demanda do inverno no Hemisfério Norte.
No período sem reajustes, os preços continuaram pressionados no exterior, sem que a Petrobras acompanhasse a tendência.
Assim, a defasagem era maior do que nos outros produtos: segundo a Abicom (Associação Brasileira das Importadoras de Combustíveis), na quarta (9), o preço médio do litro de diesel nas refinarias da Petrobras estava R$ 2,54 abaixo das cotações internacionais.
Na gasolina, a diferença era menor, de R$ 1,41 por litro. Com aumentos de R$ 0,61 por litro no diesel e R$ 0,50 por litro na gasolina, a Petrobras reduziu parte da defasagem, mas não zerou a diferença. Em geral, a estatal trabalha com preços pouco abaixo do mercado internacional.
Após o anúncio de reajustes e beneficiada pela queda nas cotações internacionais e pela valorização do real frente ao dólar, a defasagem caiu nesta sexta para R$ 0,17 na gasolina e R$ 0,19 no diesel, segundo a Abicom.
Celestino destaca que o preço do diesel é hoje pressionado também por um aperto no cenário de oferta e demanda, que passou a ser prejudicada nas últimas semanas também pela guerra na Ucrânia.
Na Europa, ao contrário dos Estados Unidos e do Brasil, a frota de veículos de passeio é majoritariamente movida a diesel e, em maior ou menor intensidade, a Rússia fornece o produto para quase todos os países do continente.
Em 2019, por exemplo, um terço das importações inglesas de diesel e um quarto das alemãs vinham daquele país, segundo a Bloomberg. Com sanções à produção russa ou maior dificuldade para acessar os produtos, esses países têm que buscar alternativas, inflacionando o mercado.
Em uma condição normal, a gasolina começaria a ter valorização mais intensa a partir de abril, com o feriado de primavera nos Estados Unidos, com pressão maior em maior e junho, com a formação de estoques para as férias de verão.
O diesel, por sua vez, estaria cedendo dos patamares mais altos em que geralmente é negociado no período de maior demanda, com a proximidade do fim do inverno.
Analistas veem, porém, incerteza em relação aos movimentos de preços, que dependerão de fatores como a duração do conflito no Leste Europeu e da capacidade de outros produtores substituírem volumes que a Rússia pode deixar de fornecer, por sanções ou retaliações.
O país é hoje o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, atrás dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Ocupa também a terceira colocação em capacidade de refino, atrás dos Estados Unidos e da China.