POLÊMICA

EUA registra alta de teleabortos durante a pandemia

O chamado teleaborto é uma modalidade recente, mas que vem ganhando maior expressão diante da…

O chamado teleaborto é uma modalidade recente, mas que vem ganhando maior expressão diante da pandemia do novo coronavírus. O procedimento consiste no aborto provocado por meio da telemedicina, serviço que já está disponível em países como Canadá, Austrália, e, em menor grau, nos Estados Unidos. No entanto, conforme aponta pesquisa do instituto Gynuity, o país registra aumento de pedidos durante a crise sanitária.

A alta é registrada desde março, quando ordens de confinamento foram implementadas em todo o país. O número cresce mesmo à despeito da proibição do aborto em 18 dos 50 estados do país. Segundo a ginecologista e obstetra Maureen Baldwin, ela já prescreveu pílulas para mais de 100 mulheres que ela nunca viu pessoalmente.

“Temos estado mais ocupados nos últimos dois meses”, diz Baldwin, que trabalha no Estado de Oregon (noroeste do país) para a Oregon Health & Science University (OHSU, na sigla em inglês). A prática, no entanto, não é isenta de polêmicas nos Estados Unidos. Tanto que um grupo de senadores do conservador Partido Republicano apresentou recentemente um projeto de lei para proibir seu uso em todo o país.

Em entrevista a BBC, Baldwin relatou que já atendeu mulheres que estão nas Forças Armadas e não têm acesso a clínicas de aborto, mulheres que moram a três horas ou mais da clínica mais próxima autorizada a realizar abortos e até pacientes que têm filhos pequenos e não têm com quem deixá-los para ir a uma consulta.

“As pacientes me dizem que querem evitar ir pessoalmente aos laboratórios ou consultórios médicos”, diz Baldwin sobre os últimos dois meses, quando começou a receber mais consultas enquanto os Estados Unidos se tornava o epicentro mundial da pandemia. A médica lembra que o TelAbortion é o único programa americano que envia os medicamentos para o aborto por correio, com acompanhamento por videoconferências.

Procedimento

Antes de as pacientes receberem um kit que inclui os dois principais medicamentos para aborto, o mifepristone e misoprostol, a médica solicita um ultrassom para verificar se a gravidez está abaixo ou dentro das 10 semanas de gestação necessárias para prescrever medicamentos e consultas por videoconferência.

Alguns centros de pesquisa em saúde sexual e reprodutiva, como o Instituto Guttmacher, argumentam que os regulamentos atualmente impostos ao mifepristone pela FDA são “desnecessários”, pois o medicamento é “de baixo risco, altamente eficaz e menos de 0,4 % dos pacientes necessitam de hospitalização por infecção ou transfusão.”

Já o custo do tratamento TelAbortion pode variar de US$ 200 (R$ 1.120) a US$ 750 (R$ 4.200) nas nove clínicas do país afiliadas à pesquisa. A médica explicou ainda que o tratamento pode ser indicado desde que a paciente esteja fisicamente presente em um Estado em que o programa seja realizado no momento da teleconsulta, assim como o médico precisará ter uma licença médica no mesmo Estado, mesmo que esteja fisicamente em outra parte do país.

Estatísticas

De 2016 até 11 de maio deste ano, a equipe da Gynuity enviou 907 kits e confirmou 668 abortos. Segundo a médica, as pacientes confirmam que o aborto foi concluído por meio de alguns testes, como um de urina. No entanto, cerca de 13% a 15% das pacientes não dão retorno após receber as pílulas.

As complicações, por sua vez, são “muito raras”, explica Baldwin. “Cerca de 1 a 2% dos abortos medicamentosos requerem atendimento posterior em uma clínica” e que não aumentam por causa da telemedicina.

*Com informações da BBC