Fabricante de caças quer tornar Brasil base de exportação de equipamentos de defesa
Empresa Saab, que fabrica caças Gripen, apresentou na sexta-feira o primeiro dos 36 aviões militares comprados pela FAB por R$ 25 bilhões
A Saab, fabricante sueca de aeronaves, pretende criar no Brasil uma plataforma de exportação global dos produtos de defesa e segurança feitos pela companhia. Em entrevista ao GLOBO, o presidente da empresa, Micael Johansson, disse que a intenção é tornar o país um centro de produção e venda de itens para outras nações, em parceria com a indústria local.
A companhia apresentou na sexta-feira, em Brasília, o primeiro dos 36 caças Gripen comprados pela Força Aérea Brasileira (FAB). No Brasil, o caça sueco será chamado de F-39E.
— Eu quero transformar o Brasil em um hub para a Saab, junto com os parceiros brasileiros, para exportar para outros mercados. Isso pode ser o caça, como o Gripen, mas também outras coisas que gostaríamos de trabalhar com a indústria brasileira na área de defesa — disse Johansson.
A Saab tem produtos e serviços tanto para a área de defesa militar quanto para o setor de segurança civil.
No Brasil, a empresa é parceira da fabricante de aviões Embraer, além da AEL Sistemas, que desenvolve componentes eletrônicos de aviônica, e da Akaer, especializada no desenvolvimento de produtos de alta tecnologia para os mercados aeroespacial e de defesa.
Johansson acredita que o Brasil tem condições de se tornar um player forte na indústria de defesa. Por ser um dos clientes mais importantes da Saab, o executivo espera construir um relacionamento de longo prazo tanto com o governo quanto com as empresas locais.
O acordo para compra dos 36 caças foi firmado em 2014, durante o governo Dilma Rousseff, para a renovação da frota brasileira, hoje composta, majoritariamente, por caças americanos F-5. Apesar de modernizados nos últimos anos pela área de defesa da Embraer, as famosas aeronaves americanas foram fabricadas ainda na década de 1970.
Concorrência acirrada
O F-X, programa de modernização da frota de aeronaves militares supersônicas da FAB, foi concebido há 20 anos. Em 2009, já tinha o nome de F-X2, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a anunciar que compraria os caças franceses Rafale, durante uma visita do então presidente francês Nicolas Sarkozy ao Brasil.
Mas, na concorrência, a Saab desbancou o F-18 Super Hornet, da americana Boeing, e o Rafale, da francesa Dassault. Dos três modelos que participaram da licitação conduzida pelo Ministério da Defesa, o Gripen era, na época, o único que jamais havia sido testado em operações. O modelo sueco sempre foi o preferido de pilotos e da cúpula da FAB.
Os novos caças devem entrar em operação a partir da metade de 2021. O projeto custará R$ 25 bilhões, em valores atualizados, mas a Força Aérea contará com financiamento de 25 anos.
Se os cronogramas de pagamentos e de produção forem cumpridos, todas as unidades estarão na Base Aérea de Anápolis (GO) em 2026. O presidente Jair Bolsonaro participou ontem da cerimônia em que a FAB apresentou o caça sueco.
Segundo o executivo da Saab, não há qualquer sinal de mudança no cronograma de entrega e produção das aeronaves, apesar das dificuldades orçamentárias no Brasil e da deterioração no cenário econômico mundial.
— Eu não tenho nenhum tipo de informação e nenhum tipo de indicação em relação a isso (atraso no cronograma) — afirmou.
Caça multimissões
O F-39E alcança 2.400 km/h, o que representa duas vezes a velocidade do som. É uma aeronave multimissão, com funções de patrulha e ataque, além da capacidade de fazer operações contra alvos marítimos.
Vários brasileiros já passaram pela cidade sueca de Linköping, sede da Saab, onde participaram de uma série de treinamentos previstos no programa de transferência de tecnologia do contrato assinado pela fabricante sueca e o governo brasileiro.
Pelo menos 15 dos 36 aviões adquiridos pela FAB serão montados em Gavião Peixoto (SP), onde a Saab e a Embraer criaram um centro de transferência tecnológica.
A Saab pretende fazer do Brasil a plataforma para montagem final e testes de caças Gripen que podem ser fornecidos à Colômbia, em caso de vitória da sueca na concorrência aberta pelo vizinho sul-americano.
— Com certeza eu vou fazer o máximo possível de aeronaves dentro do Brasil se nós tivermos sucesso com a Colômbia — disse Johansson.
A Colômbia deve escolher no fim do próximo ano o fornecedor dos seus novos caças. O processo de seleção entra agora na fase final, com americanos e espanhóis como concorrentes.
— Se nós formos bem-sucedidos na Colômbia com o caça Gripen, eu acho que será essencial ter o apoio do Brasil, da Força Aérea Brasileira, da indústria brasileira. Nós podemos trabalhar esse projeto daqui, em vez de trabalhar da Suécia — disse, acrescentado: — Até o momento nós tivemos um ótimo apoio do Brasil para explicar esse projeto aqui e as capacidades do sistema.