NICHO ESPECÍFICO

Famílias seguram orçamento para presentear só crianças no Natal

Lojistas esperam que movimento se aproxime do de 2019 e supere primeiro ano da pandemia

Famílias seguram orçamento para presentear só crianças no Natal (Foto: Pixabay)

O final de semana que antecede o Natal, quando as famílias vão às compras, foi marcado por shoppings e regiões comerciais movimentadas, mas poucas sacolas na mão.

A circulação irrestrita nas lojas, garantida pelo avanço da vacinação contra o coronavírus, elevou as vendas na comparação com o ano passado. A inflação em alta, no entanto, limitou o poder de compra. Consumidores que foram às ruas de São Paulo neste sábado (18) priorizaram os brinquedos para crianças.

Na região da rua 25 de Março, na região central da capital paulista, a loja Armarinhos Fernando, que ocupa um quarteirão, já registra vendas melhores neste mês em comparação ao mesmo período de 2020, primeiro ano da pandemia.

Puxado especialmente pela venda de brinquedos e de artigos natalinos, o faturamento no mês deve subir 15% na relação com o mesmo período do ano passado, segundo o gerente-geral, Ondamar Ferreira.

“Neste ano, as famílias estão vindo junto com as crianças, o que não aconteceu no ano passado, não havia esse deslocamento em grupo. O lado negativo é que tumultua, o lado positivo é que prevalece a vontade da criança”, afirma.

​Além de bolas, cresceu a venda de bonecas mecanizadas e de kits de patins e skate. Como muitas bonecas são importadas, o preço subiu. O valor médio por compra, segundo Ferreira, está 13% maior neste ano. A empresa espera crescimento de 4% na comparação com 2019, ano anterior à crise sanitária.

“Está difícil encontrar uma boneca por menos de R$ 50. Os preços aumentaram e é preciso pesquisar para poder caber no orçamento”, disse a empresária Rosângela Gomes, que procurava um presente.

“Neste ano, é uma lembrança para os sobrinhos, presente para os filhos, e só”, afirmou outra consumidora, Sheila Marcelina, acompanhada de crianças.

A auxiliar de limpeza Daniele Maria, 30, também vai presentear apenas as crianças neste Natal. A escolha foi por roupas para as filhas Laura, 10, Yasmin, 6, e Alice, 3, compradas em um shopping na região do Tatuapé no domingo (19).

“Comprei só para elas porque para mim não dá. O dinheiro está pouco. Agora vamos pesquisar e ver se os sapatos estão em conta”, afirma Daniele.

De acordo com a Abrasce (associação dos shoppings), itens de vestuário foram apontados como o destaque de vendas no fim do ano em 75% dos shoppings do país, seguidos por perfumaria e cosméticos (66%).

Na loja Festas e Fantasias, na região central, o proprietário Pierre Sfeir comemorava o ritmo de vendas do período pré-natalino. O estabelecimento de fantasias e artigos de festa existe há 46 anos e quase faliu na fase mais dura da pandemia, quando Carnaval, grandes festas de aniversário e casamentos foram suspensos.

Neste mês, o movimento voltou ao patamar anterior à pandemia, segundo o dono. “Nossa meta sempre foi vender cerca de 5.000 fantasias de Papai Noel. Já vendemos 4.000 peças até agora”, disse.

As roupas são fabricadas no Brasil, o que possibilitou preços mais acessíveis ao consumidor final.

“O que não dá mais é para trazer produto de fora. Um contêiner custava R$ 10 mil há alguns anos. Agora vai a R$ 80 mil. Isso encareceu os importados em até 40%”, destacou.

A loja de brinquedos Ri Happy ainda não tem projeção para o resultado do Natal, mas registrou aumento de vendas acima do esperado no Dia das Crianças, de 9%. A loja conceito da marca, localizada em um shopping da avenida Paulista, era um dos estabelecimentos mais cheios na tarde de sábado.

“O fluxo está similar ao do ano passado, mas um pouco inferior ao de 2019. Há bastante gente no shopping, mas não muitas sacolas. Os consumidores de poder aquisitivo menor compram mais em cima da hora”, disse Sérgio Silvestrini, superintendente da Ri Happy.

Esse mesmo comportamento foi percebido em outro shopping, na região de Higienópolis. Apesar do fluxo intenso nos corredores, o que mais saía era panetone, com lojas de doces tumultuadas, e cápsulas de café.

No shopping Cidade Jardim, que atende o público A e B na região sul da capital paulista, as sacolas de compras também eram escassas na tarde de domingo (19).

A engenheira Fernanda Antunes, 40, diz que optou pela compra dos presentes de Natal pela internet, em razão da praticidade. “Viemos só para almoçar e ver o Papai Noel”, diz. Os presentes nesse ano também serão restritos às três crianças da família, segundo ela.

Gerente de uma marca internacional de brinquedos com loja no shopping, Ana Patrícia Martins diz que novos cuidados foram adotados para atender o público infantil que tem ido até o local escolher seu presente, como a orientação para que funcionários mantenham o distanciamento.

“O movimento retornou com força e perto do Natal deve aumentar mais. Estamos bem próximos do que víamos nesse período em 2019”, diz a gerente, que considera que o público do shopping foi menos afetado pela alta na inflação. Os itens mais procurados são brinquedos com tema de grandes franquias, como Star Wars, e de super heróis, graças aos recentes lançamentos de filmes do gênero no cinema.

A FecomercioSP estima que o comércio varejista cresça 5% em São Paulo em dezembro, motivado pelo pagamento do 13º salário, que impacta nas compras de Natal. A injeção do recurso será 57,5% maior do que no mesmo período de 2020.

A projeção é que o varejo registre R$ 91 bilhões em vendas no mês, R$ 4,2 bilhões a mais do que em 2020. Afetado nos últimos meses, o setor de vestuário, tecidos e calçados é o que apresenta a maior previsão de alta para o mês de dezembro.

Nos shoppings, as vendas devem somar R$ 5,6 bilhões na semana de 19 a 25 de dezembro, segundo estimativa da Abrasce —uma alta de 16% em relação ao mesmo período de 2020.

Segundo a Abrasce, o tíquete médio das compras realizadas nesta semana deve atingir R$ 219, valor 11,2% superior ao registrado em 2020 e 17,7% maior do que a compra média de 2019.

Além do varejo físico, outros canais em alta para vendas no período são os marketplaces e serviços de delivery e drive thru, segundo a associação.

Economistas ponderam que, apesar da perspectiva de melhora para a data deste ano, a inflação, o desemprego e o endividamento podem limitar esse crescimento.