FLEXIBILIZAÇÃO | POLO TÊXTIL

Fechamento de lojas reacende pressão por reabertura da 44, infectologista contraindica

Segundo dados da Associação Empresarial da Região da 44 (Aer44), ao menos 10% dos micro e pequenos empreendedores entregaram pontos. Medida gera demissões, mas médico alerta que controle do isolamento deve ser feito com rigidez

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Comerciantes da Região da Rua 44, em Goiânia, pressionam para reabertura das lojas. Segundo dados da Associação Empresarial da Região da 44 (Aer44), ao menos 10% dos micro e pequenos empreendedores entregaram seus pontos e outros 15% estão negociando a entrega, o que tem gerado demissões ainda não quantificadas. Infectologista, no entanto, alerta que autorização para retomada pode colaborar diretamente para o aumento significativo do número de casos de Covid-19 na capital.

Comerciante de moda evangélica, com três lojas no polo têxtil, Claudio Costa, de 34 anos, é um dos lojistas que já sentem a crise pela pandemia do coronavírus em Goiânia. Fechado desde o primeiro decreto do governo estadual, ele viu as vendas caírem 80% desde então. O resultado foi a demissão de 18 funcionários diretos, após apenas duas semanas. O isolamento, segundo ele, também resultou no fechamento de duas das três lojas que mantinha no local.

Ele é a favor da reabertura da região da 44 e atribui às medidas de contenção a crise por qual o segmento passa. Para ele, o estrago causado pelo fechamento das lojas atinge diretamente as famílias que dependem das vendas. Atualmente, as vendas, segundo ele, se resumem aos pedidos online, que são cerca de 20% do do bolo que costumava negociar quando atendia nas lojas físicas. 

“A forma como estão fazendo é desumana”, diz. “Temos total condições de atender os clientes e manter as condições de saúde, sem aglomerações. Antenderíamos o cliente, um a um, na porta, sem deixá-los entrar. Com álcool gel disponível e máscaras. Meus funcionários têm filhos para criar e não podem sobreviver sem o trabalho”, aponta.

Carloman Santos, de 41 anos, foi mais radical. Ao perceber que a saída da pandemia não parece ser tão simples, fechou a loja de moda masculina que mantinha na região da 44 e prepara para colocar seus produtos em plataformas como Instagram e WhatsApp. 

“Vejo outros países, como a Itália ou a Espanha, que estão desde o início do ano lutando para se livrar do vírus e não conseguem e percebo que a saída por aqui não vai ocorrer tão cedo. Estados que eram nossos maiores compradores, como o Maranhão, o Amazonas, e o Pará, estão passando por crise, com comércio todo fechado”, diz.

Distanciamento

O infectologista Boaventura Braz aponta o que Carloman intuiu. A abertura da região da 44 pode ser arriscada e aumentar o número de infectados por Covid-19 em Goiânia. Ele diz que a abertura do comércio no local pode gerar muita aglomeração e que os estudos do mundo todo continuam mostrando que a melhor forma de conter o coronavírus é o distanciamento social.

Boaventura diz que Goiás, comparativamente com outros estados, está com bons índices, devido, sobretudo a alta adesão da população às medidas de contenção no mês de março, que chegou aos 70% – considerado um índice seguro por organismos de saúde do mundo todo. No entanto, a flexibilização recente já gera aumento do número de casos e, nas próximas semanas, podemos ver registro substancial de novos pacientes. Por isso, recomenda a não abertura, por enquanto.

É uma questão delicada, pois as famílias dependem do comércio para se sustentarem. Mas é preciso fazer um controle rígido do distanciamento social, sobretudo na Região da 44. Se tivéssemos mantido aquele índice de 70% no início estaríamos aptos a discutir uma abertura, com cuidado, agora”, explica.