Fórum Empresarial pede “abertura total” do comércio; infectologista desaconselha
Secretaria de Economia, Cristiane Schmidt diz que não é possível prever quando ocorrerá reabertura e diz que a vida das pessoas é prioridade
O presidente Federação do Comércio de Goiás (Fecomércio), Marcelo Baiocchi, divulgou vídeo nas redes sociais em que defende a abertura total das empresas do Estado, desde que respeitadas regras de segurança sanitária. O Mais Goiás ouviu a infectologista Marina Roriz sobre o pleito dos empresários. Ela desaconselha o governo a atender o pedido.
“No mundo todo, está tudo parado por um motivo”, diz Mariana. A infectologista explica que o eventual afrouxamento da quarentena aumentaria a exposição da população ao vírus e diz que o sistema de saúde público provavelmente entraria em colapso, neste momento. “As regras a que os empresários se propõem a seguir, como contrapartida ao afrouxamento da quarentena, são muito rígidas. Dificilmente uma empresa conseguiria seguir todas”, diz Marina.
A médica afirma que a “abertura total” do comércio exporia trabalhadores durante o deslocamento, no “entrar e sair” e de casa e no contato com colegas de serviço. “Sem contar que estarão todos sujeitos e pegar o vírus dos pacientes assintomáticos”, alerta. Em resumo, Maria afirma que a “abertura total” contraria as recomendações de todas as autoridades de saúde mundial.
O vídeo foi gravado após encontro do Comitê Estadual Socioeconômico de Enfrentamento ao Novo Coronavírus (Covid-19), nesta terça-feira (14), da qual participaram secretários de Estado como Cristiane Schmidt (Economia), Wilder Morais (Indústria e Comércio), Adriano Rocha Lima (Desenvolvimento Econômico) e outros.
Subnotificação
Vale destacar que, no País, o número de casos de infecção pelo Covid-19 está acima de 313 mil pessoas, segundo uma nova análise da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB). O Ministério da Saúde fala em 23.430 casos confirmados, em seu último boletim.
A diferença se justifica, pois o Brasil, 14º mais afetado mundo, é um dos países que menos testam o coronavírus. Se o número de casos subnotificados projetado fosse considerado, seria o segundo, atrás somente dos EUA, que testam 8.866 pessoas por milhão. Por aqui enquanto, são realizados 296 testes por milhão de habitantes.
Números
Anteriormente, Marcelo Baiocchi tinha defendido, ao Mais Goiás, que no próximo decreto do governador Ronaldo Caiado (DEM), a flexibilização começasse dos pelos micro e pequenos empresários, uma vez que são os que mais sentiram com as medidas restritivas à circulação de pessoas. Neste momento, a defesa foi de abertura total, com discussão específica para os segmentos que exigem maior segurança.
Ele, que acredita ter sensibilizado o grupo, ressaltou, no vídeo, a necessidade de não perder o foco de luta contra a pandemia, e não contra a economia. Inclusive, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia brasileira encolherá 5,3% em 2020 – realidade muito diferente da prevista em janeiro, quando a expectativa era de crescimento de 2,2%.
Além disso, o desemprego, conforme previsto pelo fundo, deve se alterar de 11,9% no ano passado para 14,7% neste ano e volte a cair levemente no ano que vem para 13,5%. Ainda assim, a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, afirmou que promover reformas econômicas no Brasil é um projeto importante a médio prazo, mas que, no momento, a prioridade deve ser o combate à pandemia do coronavírus, segundo informado em matéria de O Globo.
Secretária de Economia
O momento é de muito estudo, revela a secretária de Estado de Economia, Cristiane Schmidt. A titular da pasta destaca que ainda não é possível qualquer previsão sobre reabertura das empresas neste momento e que a vida das pessoas não será colocada em risco. “A vida em primeiro lugar.”
Ela reforça que existe um grupo formado pelas pastas de Economia, Saúde e Desenvolvimento e Inovação, além das UnB e UFG, que coordena esse trabalho de análise. “Então, estamos sendo orientados por uma questão epidemiológica”, explicita. “Entendo que, mais adiante, no fim do mês, pode ser que teremos algumas conclusões. Mas hoje não há nada definido.”
A secretária lembra que Goiás é um dos últimos Estados em números de casos, graças “a atitude responsável do governador”. Assim, ele ressalta a necessidade de acompanhar, dia a dia, a curva epidemiológica antes de tomar qualquer decisão.
Ajuda aos empresários
Schmidt adiantou, ainda, que se reúne com o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), Carlos Alexandre Da Costa. Segundo ela, o intuito é abrir um canal entre e os empresários e governo federal para a facilitação de acesso ao crédito, inclusive do BNDES. “Sabemos que os informais estão tendo acesso aos R$ 600 pelo Cadastro Único (CadÚnico), agora precisamos endereçar às empresas formais”, se preocupa.
Questionada sobre a situação econômica de Goiás, baseado na previsão do FMI (PIB negativo em mais 5%), Schmidt informa que os entes federativos acompanham o País. “Não como segurar. Estamos tendo perda de arrecadação de 30%”, lamenta a titular da pasta. Ainda assim, ele vê certo alívio no Projeto de Lei Complementar (PLP) 149, que já foi aprovado na Câmara e segue para o Senado.
A medida prevê uma ajuda de R$ 80 bilhões aos Estados em três meses, que seria equivalente às perdas de receita. “[Então] É um fôlego para manter o pagamento de despesas.”