CONTO DA CAROCHINHA

Governo tenta reverter imagem de ameaça sanitária global no exterior

Em vários fóruns internacionais, representes do governo brasileiro mostra ações adotadas para criar uma percepção de pessoas atendimentos e pandemia controlada

Governo tenta reverter imagem de ameaça sanitária global no exterior (Foto: Alan Santos/PR)

Enquanto o Brasil se transforma em uma ameaça sanitária global, assume a liderança em número de novos casos e óbitos pela covid-19 e o sistema de saúde entra em colapso, o governo brasileiro intensifica uma ofensiva no exterior para tentar desfazer a imagem de que a pandemia está fora de controle.

Durante a semana, em diferentes fóruns internacionais, a opção dos representantes do governo de Jair Bolsonaro foi a de não fazer qualquer tipo de referência aos mortos ou lamentar pelas perdas. A ordem era destacar as ações das autoridades, criando uma percepção de que a crise estava sendo controlada e a população atendida. Internamente, o governo teme que a explosão no número de mortes mergulhe a credibilidade do país a patamares poucas vezes visto na história recente do país.

Atual “cemitério do mundo” e com mais de 20% das mortes no planeta pela covid-19 na última semana, o Brasil passou a ser alvo de críticas por parte de indígenas, da OMS, ativistas de direitos humanos e ambientalistas, além de governos estrangeiros. A ordem do governo é a de rebater e tomar a palavra para apresentar a sua própria narrativa sobre a situação no país.

Na quinta-feira, durante uma reunião fechada do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho, o tom adotado pelo Itamaraty foi um exemplo desse movimento de contra-ataque. Ao tomar a palavra, a delegação reiterou o “compromisso do governo com os direitos de indígenas” e indicou que iria apresentar “fatos” sobre a ação do Executivo durante a pandemia.

“Desde o começo, o governo tem tomado ações robustas para impedir a disseminação do vírus e reduzir impacto entre povos indígenas”, afirmou o diplomata. Segundo ele, 3 milhões de itens foram enviados aos povos tradicionais, além de alimentos e o fortalecimento da proteção territorial.

“20 mil profissionais de saúde estão realizando campanhas de vacinação em 6 mil aldeias, das costas do Atlântico a locais remotos da Amazônia, com a meta de imunizar 400 mil indígenas. 70% deles já foram vacinados”, garantiu o governo.

Já na semana passada, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil também insistiu que agia de maneira “consistente” para lutar contra o vírus. A afirmação gerou comentários irônicos por parte das demais delegações.

Antes, também no mesmo Conselho, a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, declarou que o Brasil estava “garantindo” a vacina para todos idosos, profissionais de saúde e indígenas. Até agora, apenas 2,5% da população brasileira havia recebido as duas doses da vacina.

“Fazendo todo o possível”

A campanha para desfazer uma imagem negativa no exterior também incluiu um discurso nesta semana no Fórum dos Países da América Latina e Caribe sobre Desenvolvimento Sustentável da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal/ONU).

Uma representante do Executivo tomou a palavra na terça-feira para anunciar aos demais participantes que o governo estava ajudando a 126 milhões de pessoas no país diante da pandemia. “Ficamos tranquilos como governo saber que, nesse momento difícil, que estamos fazendo todo o possível para não deixar ninguém para trás”, destacou.

O Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, entidade formada por cerca de 50 ongs e ativistas, atacou a participação do Brasil.

“No dia em que o país registrou a morte de quase 3.000 pessoas em decorrência da Covid-19 e Jair Bolsonaro anunciava o seu quarto ministro da Saúde, o Brasil se vangloriava no Fórum da Cepal de estar no rumo certo para não deixar ninguém para trás, quando, na verdade, o governo tem contribuído para a piora da situação dos mais vulneráveis, para o colapso do Sistema Único de Saúde (SUS) e para o acirramento dos discursos sexistas, racistas e de ódio contra as populações LGBTI”, disse.

“Essa atitude do governo brasileiro merece repulsa e é um fato grave. Como mostram as evidências, o crescimento das desigualdades no Brasil já não pode ser atribuído somente à crise sanitária e econômica e o Brasil, que tem a pior resposta à Covid-19, já é considerado uma ameaça global”, afirmam as entidades.

“Nesse contexto, as medidas econômicas, sociais e ambientais, inclusive o atual desmonte de programas de assistência social, apenas intensificaram a pobreza estrutural e a miséria”, disseram.

Para o grupo, “o governo brasileiro mentiu mais uma vez ao declarar que “a sustentabilidade está se tornando cada vez mais o ponto chave em nossos esforços de desenvolvimento”.