Indústria

Indústria cresce 2,6% em setembro e elimina perdas na pandemia

No acumulado do ano, porém, produção industrial registra queda de 7,2%

A produção industrial brasileira emendou o quinto mês consecutivo de alta após tombo recorde causado pela pandemia de Covid-19 e eliminou as perdas do pior período da crise.

O crescimento em setembro foi de 2,6% em comparação com o mês anterior, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Nos cinco meses de recuperação, o setor compensou a perda de 27,1% entre março e abril, quando a pandemia atingiu o país e levou ao fechamento de comércio, bares, restaurantes e shoppings, a fim de promover o isolamento social para conter o avanço do coronavírus.

No pico da Covid-19, com tombos de 9,1% em março e 18,8% em abril, a produção industrial brasileira atingiu o pior patamar da história.

Com o resultado de setembro, a produção industrial superou em 0,2% o patamar pré-pandemia, em fevereiro. O gerente da pesquisa, André Macedo, explicou que o relaxamento nas medidas restritivas de circulação contribuiu para a retomada.

“Passados os meses de março e abril e com a flexibilização das medidas de distanciamento social, o setor industrial foi recuperando, mês a mês, aquele patamar”, disse André Macedo.

No acumulado do ano, a indústria brasileira recuou 7,2%. Em doze meses, retraiu 5,5%. Já na comparação com setembro do ano passado, a indústria cresceu 3,4%, interrompendo dez meses de resultados negativos seguidos nessa comparação.

Mais uma vez, a indústria automobilística puxou os resultados do mês, que teve avanço generalizado em todas as categorias. Em veículos automotores, reboques e carrocerias, a alta foi de 14,1%, com expansão de 1.042,6% em cinco meses consecutivos de crescimento. Porém, o setor ainda está 12,8% abaixo do patamar de fevereiro.

Outras atividades cresceram pelo quinto mês seguido, como máquinas e equipamentos (12,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (16,5%) de couro e artigos para viagem e calçados (17,1%).

Já os segmentos de produtos alimentícios (1,2%), metalurgia (3,5%) e produtos de minerais não-metálicos (4,2%) também contribuíram com o resultado de setembro, informou o IBGE.

Quatro setores tiveram queda: indústrias extrativas (-3,7%), impressão e reprodução de gravações (-4%), produtos diversos (-1,3%) e outros produtos químicos (-0,3%). Porém, desses quatro ramos de atividade, as indústrias extrativas já conseguiram recuperar o patamar pré-pandemia, ficando em setembro 5,7% acima do nível pré-crise.

Outros 14 segmentos já se recuperaram, com destaque para equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, que já registra alta de 18,3% desde fevereiro.

Na mesma base de comparação, o mesmo acontece com produtos do fumo (alta de 16,1%), produtos de minerais não-metálicos (9,8%), produtos de madeira (9,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (9,1%), móveis }(8,7%), bebidas (8,7%) e produtos alimentícios (6,6%).

Ainda se recuperaram produtos de metal (5,7%), máquinas e equipamentos (4,4%), produtos têxteis (3,9%), produtos de borracha e de material plástico (2,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustível (2%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (2%).

Por outro lado, estão abaixo do nível pré-pandemia os agrupamentos de impressão e reprodução de gravações (-32,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-17,1%), manutenção e reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-13%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-12,8%), produtos diversos (-11,8%) e outros equipamentos de transporte (-10,4%).

Os segmentos de metalurgia (-4,6%), couro, artigos de viagem e calçados (-4,3%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-2,6%), outros produtos químicos (-1,5%) e celulose, papel e produtos de papel (-0,6%) também seguem em patamar negativo.

Renata de Mello Franco, economista do FGV Ibre, apontou que os segmentos que ainda estão abaixo são os mais afetados pela pandemia, como veículos, têxtil e vestuário.

“Chama a atenção o setor de metalurgia não ter voltado, a demanda está alta pela demanda de material de construção, mas deve ser impacto dos veículos automotores não terem voltado ao que era em fevereiro”, analisou a economista.

Para os próximos meses, o segmento deve se recuperar, puxado pela alta em construção. Porém, o ramo de veículos tem uma tendência de demora, pois para a população voltar a comprar carros como antes da crise é necessário ter uma certeza de melhora na economia e renda nos próximos meses.

“Se o mercado de trabalho não melhorar, a venda de veículos deve continuar abaixo e a produção também”, analisou Franco. Em agosto, o desemprego bateu recorde e alcançou 14,4%, atingindo 13,8 milhões de brasileiros.

A economista avalia que a produção industrial tende a continuar forte para os próximos meses e os empresários esperam por um aumento no emprego. Porém, em longo prazo, o mercado ainda está cauteloso.

“É como se, enquanto tivermos programas de auxílio às empresas e à renda, a indústria está otimista. Mas para o ano que vem existe um sinal de alerta aceso como um todo”, disse Franco.

​O setor de serviços é o único que ainda não recuperou as perdas da pandemia -em agosto, estava 9,8% abaixo do verificado antes da chegada da Covid-19 ao país. Já o varejo está 8,9% acima do patamar de fevereiro, superando as perdas acumuladas na crise.

A indústria foi o setor da economia com maior queda no PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, quando recuou 12,7%, o maior tombo desde que o IBGE começou a calcular o PIB no formato atual, em 1996.

No trimestre, o PIB brasileiro caiu 9,7%, também um tombo inédito na história da pesquisa.

Para economistas, o ritmo da retomada vai depender da recuperação do mercado de trabalho, que ainda não deu sinais de reação à crise provocada pela pandemia.