Inflação alcança 0,96% em julho, maior resultado para o mês desde 2002
Inflação foi impactada pela alta da energia elétrica. Com isso, o índice chegou a 8,99% no acumulado de 12 meses
Puxada pela energia elétrica mais cara, a inflação oficial do país, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), voltou a acelerar e registrou variação de 0,96% em julho. É a maior marca para o período desde 2002, quando o índice foi de 1,19%.
O resultado ocorreu após avanço de 0,53% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira (10).
A variação de 0,96% veio em linha com as expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,95% em julho.
Com o resultado, o IPCA chegou a 8,99% no acumulado de 12 meses. Isso significa que ampliou a distância em relação ao teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) neste ano. No acumulado até junho, a variação do IPCA estava em 8,35%.
O teto da meta de inflação em 2021 é de 5,25%. O centro é de 3,75%.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em julho. A maior variação (3,1%) e o maior impacto (0,48 ponto percentual) vieram de habitação.
O resultado desse grupo foi influenciado pela energia elétrica, que acelerou para 7,88% e registrou o principal impacto individual no índice (0,35 p.p.).
O IBGE destacou que, em julho, o país teve reajuste no valor adicional da bandeira tarifária vermelha patamar 2, o que pressionou as contas de luz. Além disso, houve avanços tarifários de 11,38% em São Paulo, de 8,97% em Curitiba e de 9,08% em uma das concessionárias de Porto Alegre.
“Além dos reajustes nos preços das tarifas em algumas áreas de abrangência do índice, a gente teve o reajuste de 52% no valor adicional da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em todo o país. Antes o acréscimo nessa bandeira era de, aproximadamente, R$ 6,24 a cada 100kWh consumidos e, a partir de julho, esse acréscimo passou a ser de cerca de R$ 9,49”, explicou André Filipe Guedes Almeida, analista da pesquisa do IBGE.
A segunda maior contribuição (0,32 p.p.) entre os grupos veio de transportes (1,52%). Na sequência, apareceu o segmento de alimentação e bebidas (0,6% e 0,13 p.p.).
A escalada do IPCA ganhou corpo ao longo da pandemia. Em um primeiro momento, houve disparada de preços de alimentos e, em seguida, avanço de combustíveis. Alta do dólar, estoques menores e avanço das commodities ajudam a explicar o comportamento dos preços.
Não bastasse essa combinação, a crise hídrica também passou a ameaçar o controle da inflação. É que a escassez de chuvas eleva os custos de geração de energia elétrica. O reflexo é a luz mais cara nos lares dos brasileiros.
Além de pesar no orçamento das famílias, a alta nas tarifas também eleva os custos de operação de empresas, que podem repassar parte do impacto para produtos e serviços. A situação ocorre no momento em que o consumo é desafiado pelo aumento do desemprego no Brasil.
Em uma tentativa de frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) voltou a subir a taxa básica de juros (Selic) no último dia 4. Na ocasião, confirmou alta de 1 ponto percentual na Selic, para 5,25% ao ano. Foi a maior elevação em 18 anos.
Devido ao comportamento dos preços, analistas do mercado financeiro ouvidos pelo BC vêm subindo suas projeções para a inflação. A estimativa mais recente que aparece no boletim Focus indica IPCA de 6,88% ao final de 2021. Ou seja, acima do teto da meta. A edição mais recente do Focus foi publicada pelo BC na segunda-feira (9).
De acordo com estudo divulgado pelo Itaú Unibanco na semana passada, a inflação no mundo foi puxada, até junho, por commodities e gargalos de produção, que provocam escassez de insumos especialmente na indústria automobilística.
O Itaú sinaliza que, até o momento, a pressão nos preços causada pela reabertura da economia é sentida com maior força apenas em países que saíram na frente no processo de vacinação contra a Covid-19. O destaque, nesse caso, fica com os Estados Unidos.