Inflação de 2021 atinge mais a classe média e fica abaixo de 10% para alta renda
A inflação para famílias com renda mensal de até R$ 8.956 superou os 10,06% registrados…
A inflação para famílias com renda mensal de até R$ 8.956 superou os 10,06% registrados pelo IPCA (índice de preços ao consumidor) apurado em 2021. Já aquelas com renda acima desse patamar tiveram uma inflação abaixo de 10%.
De acordo com o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, a inflação chegou a 10,40% para as famílias de renda média-baixa (R$ 2.702,88 a R$ 4.506,46) e 10,26% naquelas classificadas como renda média (R$ 4.506,47 a R$ 8.956,26).
Para a renda muito baixa e baixa (abaixo de R$ 2.702,88), o indicador ficou em 10,10% e 10,08%, respectivamente.
Nas faixas de renda média-alta e alta (acima de R$ 8.956,25), a inflação ficou em 9,66% e 9,54% no acumulado do ano, segundo o Ipea (veja todas as faixas de renda no gráfico nesta página).
A diferença entre a inflação nos dois extremos de renda (muito baixa e alta) foi de 0,54 ponto percentual, resultado bem inferior aos 3,48 pontos percentuais registrados em 2020.
Essa diferença maior no ano retrasado foi explicada pelo comportamento dos serviços, que pesam mais na cesta de consumo dos mais ricos e tiveram queda de preços no período de maior restrição de circulação.
A pesquisadora Maria Andreia Lameiras, autora do indicador mensal, afirma que, no caso das famílias de renda muito baixa, a pressão inflacionária veio sobretudo do grupo habitação (3,64%), impactado pelos reajustes de 21,2% das tarifas de energia elétrica e de 37% do gás de botijão.
Para as famílias de renda alta, o impacto foi maior no grupo transporte (5,35%), em virtude do aumento de 47,5% da gasolina e de 62,2% do etanol.
Tendência para 2022
A expectativa é que a diferença de inflação entre faixas de renda caia novamente ao longo de 2022.
A autora do indicador afirma que a inflação de 2020 ficou mais concentrada nos alimentos, o que prejudicou os mais pobres naquele ano, devido ao peso desse item em sua cesta de consumo.
Ao mesmo tempo, houve um alívio na inflação dos mais ricos por contas dos serviços, que subiram muito pouco ou caíram de preço no primeiro ano da pandemia.
Em 2021, a alta dos alimentos foi um pouco menor, e houve aumento generalizado de outros itens, retomada da inflação dos serviços e alta nos preços de bens de alto valor.
Neste ano, a inflação dos mais pobres tende a desacelerar mais rápido, segundo a responsável pelo indicador. Ela espera alta menor de alimentos e alívio nas tarifas de energia. Para os mais ricos, ainda são esperados repasses de preços de alguns serviços e bens industrializados, que pesam mais nessa cesta.
“Em 2020 a gente teve uma inflação que foi muito maior para os mais pobres e um pouco mais amena para os mais ricos. Em 2021, houve crescimento da inflação para todo mundo. Para os mais ricos foi maior”, afirma a pesquisadora do Ipea.
“Para 2022, a tendência é que a inflação para todos fique em torno de 5%, com a dos mais ricos um pouco acima da dos mais pobres”, afirmou.
Em dezembro, o indicador apresentou desaceleração em todas as faixas de renda, com exceção do segmento de renda muito baixa, cuja inflação estava em 0,65% em novembro e passou para 0,74%.
O Ipea destaca também que, no mês passado, as famílias de renda mais alta registram a maior taxa de inflação (0,82%) entre todos os segmentos.
Nas classes de renda mais baixas, além da alta do grupo alimentos e bebidas, os grupos habitação e saúde e cuidados pessoais também exerceram pressões adicionais, diz a instituição, com destaque para itens como energia, água e esgoto, gás encanado e aluguéis (0,65%).
As famílias de renda mais alta foram impactadas pelo aumento no preço das passagens aéreas (10,3%), do transporte por aplicativo (11,8%) e do aluguel de veículos (9,3%), que fizeram com que o grupo transporte fosse o principal responsável pela inflação deste segmento em dezembro, diz o Ipea.
“A alta dos serviços pessoais, principalmente os relacionados à recreação, como hospedagem (2,3%) e pacote turístico (2,3%) também contribuíram para a inflação desta classe no último mês de 2021.”
Estouro da meta
A inflação no Brasil ficou entre as maiores do mundo no ano passado. A alta de preços surpreendeu economistas e autoridades em diversos países.
Para 2022, a expectativa é de uma queda no índice de preços, mas com risco de novo estouro da meta, cujo limite é 5%.
Na carta divulgada para explicar o estouro da meta de inflação em 2021, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atribuiu a inflação em 2021 a sucessivos choques de custos e enfatizou que se trata de um movimento observado também em outros países.
Ele destacou que, no Brasil, houve o efeito adicional da crise de energia. Afirmou também que, embora a contribuição da taxa de câmbio para a inflação tenha sido menor que em 2020, houve a quebra no padrão histórico de apreciação da moeda nacional durante ciclos de elevação nos preços das commodities exportadas pelo país. Dessa forma, o país foi duplamente afetado pela alta desses produtos.
No documento, o BC reitera que irá manter o ciclo de alta da taxa básica de juros, atualmente em 9,25% ao ano, para trazer a inflação à meta.