MERCADO DE TRABALHO

Levantamento traça perfil inédito dos estagiários no Brasil

Políticas de estágio podem beneficiar empresas e alunos

Levantamento traça perfil inédito dos estagiários no Brasil (Foto: Pixabay)

Um levantamento inédito do CIEE (Centro Integrado Empresa-Escola), divulgado nesta quarta (10), traçou o perfil dos estagiários no Brasil. A pesquisa estimou que apenas 25% dos estudantes acima dos 16 anos estão ocupados.

O estágio é uma ocupação sem vínculo empregatício e, por isso, não entra para as estatísticas oficiais. Para fazer esse levantamento, o CIEE, em parceria com a Tendência Consultoria Integrada, utilizou dados da PNAD contínua para estimar a evolução histórica do número dos estagiários e obter informações descritivas desse grupo.

Foram considerados estudantes acima dos 16 anos, que frequentam a escola, trabalham sem carteira assinada, por até seis horas por dia e tem contrato de, no máximo, 2 anos. Ter ofício compatível com atividade de estágio também foi levado em consideração.

O estudo estimou que o contingente de estagiários em 2021 foi de 707.903, cerca de 25% de todos os estudantes acima dos 16 anos. Desses, 40% eram de famílias de classes D e E, com renda de até R$ 3.000 por mês.

Para Mônica Vargas, Superintendente Nacional de Operações e Atendimento do CIEE, o levantamento mostra uma janela de oportunidades para políticas públicas. Segundo dados do IBGE, no primeiro trimestre de 2022, a taxa de desemprego entre jovens de 14 a 17 anos era de 35,4%, e entre o grupo de 18 a 24 anos, de 22,6%.

Para Mônica, o estágio é uma maneira de combater esse desemprego. O levantamento mostrou que os jovens de 20 a 24 anos ocuparam quase 50% das vagas, seguidos pelo grupo de 16 a 19 anos, com cerca de 20%. Somados, os jovens de 25 a 39 anos ocuparam cerca de 30% das vagas.

Dados históricos do próprio CIEE mostram que cerca de 54% dos estagiários são efetivados pelos empregadores.

É o caso de Nithael Morales, 24, morador de Belo Horizonte. Em março desse ano ele se formou em direito na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Nithael começou o estágio em 2019, numa instituição pública e, ao final dos dois anos de experiência, foi efetivado.

Para ele, o estágio foi uma ajuda para se manter no curso. Ele recebia bolsa da universidade, mas quando começou a estagiar, seus dois pais estavam desempregados e ele tinha uma irmã mais nova que também não trabalhava.

A bolsa-auxílio era de R$ 633, o equivalente a R$ 795,74 hoje, corrigidos pelo IPCA. Segundo ele, a bolsa foi essencial para que pudesse comprar os livros de que precisava, pagar refeições e ajudar em casa.

Um estudo anterior realizado pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), em parceria com o CIEE, mostrou que 69% dos bolsistas, em 2021, ajudavam no sustento da família. 9% eram os únicos responsáveis pela renda familiar. A média da bolsa-auxílio no ano foi de R$ 1.023,69, o equivalente a R$ 1.180,42 hoje, corrigidos pelo IPCA.

Para Nithael, o estágio foi importante para ele descobrir a área do direito em que gostaria de atuar, mas também foi um momento de conhecer o ambiente da empresa, o ritmo de trabalho e se certificar de que ele seria respeitado nesse espaço.

De acordo com o levantamento, a área do direito foi a que mais ofereceu vagas de estágio, seguido pela educação básica e fundamental, pela administração pública e pelo ensino superior.

Segundo Vargas, o estágio também é bom para as empresas —essa é uma maneira de treinar o colaborador, sendo uma fonte de seleção e recrutamento menos onerosa para a empresa do que contratar um funcionário que possa não se adequar e precise ser demitido.

Nithael concorda. Segundo ele, o estágio foi um momento bom de aprendizado, em que se sentiu mais confortável para tirar dúvidas e, eventualmente, cometer erros. Também foi um momento em que ele pôde mostrar seu interesse e o valor que poderia agregar para os empregadores.

De acordo com o levantamento, em 2021, o setor privado foi responsável por mais de 60% das vagas.

O estudo ainda mostrou características de gênero. Na série histórica, os homens ocupam cerca de 40% das vagas.

Em relação à raça, os brancos ocupam 50%, seguidos dos pardos com pouco menos de 40%, e dos negros com cerca de 10%. Os amarelos e indígenas quase não aparecem.

Para Mônica, esse aspecto revela uma necessidade de políticas de diversidade para estagiários.

Para Humberto Casagrande, superintendente geral do CIEE, o estágio é uma maneira de equilibrar as deficiências da educação no Brasil e de combater a evasão escolar, mas o número de estagiários ainda é muito pequeno. Segundo ele, são necessárias políticas públicas que favoreçam essa modalidade de ocupação.

Vargas relata que alguns Estados já têm políticas orientadas a estágio. É o caso do Maranhão, que fomenta o programa Mais Estágios, numa parceria entre órgãos estaduais e empresas públicas e privadas.