Maldição de maio assombra investidor e leva mercado a cautela
No ano passado, foram os caminhoneiros. Em 2017, o Joesley Day. Um ano antes, o…
No ano passado, foram os caminhoneiros. Em 2017, o Joesley Day. Um ano antes, o afastamento da então presidente, Dilma Rousseff. Esses três episódios ajudaram a consolidar entre analistas do mercado financeiro e investidores a percepção de que maio é mês de perdas na Bolsa brasileira.
As tragédias recentes de maio apareceram em relatórios do início deste mês divulgados por corretoras, uma espécie de alerta a investidores que o pior pode estar por vir, mesmo que ele não perdure. “Maio não é um mês bom historicamente, mas é complicado fazer análise em torno disso”, afirma Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos.
Se rentabilidade passada não é garantia de ganho futuro, como prega a cartilha dos investimentos, o mesmo vale para perdas. Especialmente quando notícias específicas e inesperadas serviram para reverter as expectativas de investidores e justificar as baixas nos mercados de risco.
Os episódios citados no início deste texto mostram pontos em que o mercado sofreu com reversão de expectativas. A paralisação dos caminhoneiros afetou a economia do país e minou o crescimento do ano, que já vinha ruim, enquanto no exterior os Estados Unidos subiam juros e afetavam o fluxo de dinheiro para países emergentes.
Em 2017, o episódio que ficou conhecido como Joesley Day -em 18 de maio, o dia seguinte após a divulgação da gravação de conversa comprometedora entre o então presidente, Michel Temer (MDB), e Joesley Batista, da JBS -sepultou a tramitação da reforma da Previdência que era negociada no Congresso. Temer trocou a proposta pela articulação para evitar um processo de impeachment.
Impeachment foi também o que levou a perdas em maio de 2016, quando o Congresso afastou do cargo a então presidente, Dilma Rousseff (PT). Ainda que a notícia, do ponto de vista do mercado, fosse positiva, havia ainda a incerteza sobre o desenrolar do processo. Dilma só perdeu o cargo oficialmente em agosto daquele ano.
A Bolsa não sobe em maio desde 2009, quando o mercado tentava se recuperar da crise financeira de 2008. “Coincidentemente há eventos diferentes que justificaram [as quedas em maio]. Poderiam ter acontecido em março, em abril. Pode ser que maio deste ano seja a Previdência”, afirma Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV.
A reforma da Previdência, cuja discussão na comissão especial da Câmara dos Deputados começa nesta terça-feira (7), concentra atenção dos investidores. Na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara), a tramitação foi mais difícil que o esperado pelo mercado financeiro e encerrada no mês passado.
“Se [o investidor] está caçando pelo em ovo, tem esse evento macroeconômico”, diz Victor Candido, economista-chefe da Guide.
Luketic diz que junho também será um mês de duras negociações pela reforma. Isso indica que será um período de oscilações bruscas, mas não necessariamente de perdas.
“Maio, ao que tudo indica, vai ser um mês parecido com abril. A reforma passou de maneira mais conturbada e demorada [na CCJ], e março mostrou que a articulação política pode ser mais difícil do que pensávamos”, diz o analista-chefe da XP.
Em abril, a Bolsa brasileira subiu 0,98%, alta modesta na comparação com os principais mercados globais. A variação esconde que o índice oscilou bastante antes de consolidar a alta e que o Ibovespa não conseguiu retornar para perto dos 100 mil pontos que atingiu em março.
“Dados estrangeiros têm mostrado sinais de melhora, que ajudam mercados emergentes. Mas maio é um mês de desafio. Nos próximos dois meses o foco é a tramitação da reforma, e isso faz o mercado ficar ansioso”, diz Luketic.
Para o pequeno investidor, as perdas de maio devem servir mais como uma história curiosa do que fundamentar mudanças na estratégia de investimentos. Especialmente porque após o tombo, nos últimos anos, houve recuperação, portanto não há motivo para vender e realizar prejuízo.
“Tem essa história de “sell in May and go away” [venda em maio e vá embora] relacionada à chegada do verão no hemisfério Norte, que os investidores saem de férias e liquidam os ativos para voltar em setembro”, diz Roberto Agi, planejador financeiro certificado pela Planejar.
“Pode ser uma profecia autorrealizável. As pessoas ficam com medo e vendem seus papéis”, acrescenta.
Ele lembra, porém, que o investimento em ações precisa ser pensado no longo prazo e com um percentual pequeno dos investimentos em Bolsa.
Mesmo os mais arrojados deveriam ter no máximo 15% de suas economias investidas no mercado acionário. A recomendação de planejadores financeiros é que o restante da carteira seja distribuído em ativos de renda fixa, como títulos públicos e CDBs. Isso minimiza risco de perdas em caso de oscilações de curto prazo.
“Se maio for ruim, não venda. E, se o investidor precisar realizar [vender], é porque não pensou em médio prazo”, completa Sampaio, da FGV.