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Mercado passa a apostar em corte no juro após início fraco do 2º trimestre

Os números de abril não foram animadores. A indústria avançou 0,3%. As vendas do comércio recuaram 0,6%. O volume de serviços registrou sua primeira alta no ano, mas também em 0,3%.O indicador de atividade do BC apontou recuo de 0,47%

O resultado abaixo do esperado da maioria dos indicadores já divulgados sobre o segundo semestre aponta para uma economia quase estagnada, além de aumentar a pressão para o Banco Central começar a cortar juros.

Embora ainda mantenham projeções de crescimento para o período abril-junho, economistas já vislumbram um cenário mais próximo da estagnação e até de contração.

A segunda hipótese colocaria o Brasil no que se costuma chamar de “recessão técnica” -dois trimestres seguidos de PIB (Produto Interno Bruto) negativo. Nos três primeiros meses do ano, o PIB encolheu 0,2%, primeira queda desde o fim de 2016.

Dados recentes abaixo das expectativas corroboram para aumentar a pressão sobre o Copom (Comitê de Política Monetária do BC), que se reúne nesta terça (18) e quarta-feira (19), por um corte na Selic (taxa básica de juros).

Na pesquisa Focus divulgada na segunda (17) pelo BC, analistas projetam, pela primeira vez, redução da taxa neste ano, dos atuais 6,5% para 5,75% ao ano. A previsão para o PIB de 2019 segue em queda e foi abaixo de 1% (0,93%).

Os números de abril não foram animadores. A indústria avançou 0,3%. As vendas do comércio recuaram 0,6%. O volume de serviços registrou sua primeira alta no ano, mas também em 0,3%.O indicador de atividade do BC apontou recuo de 0,47%.

Logo após a divulgação dos números do PIB, em maio, analistas mantiveram suas projeções de pequeno avanço entre abril e junho. Em parte, foram motivados por um ajuste do IBGE na metodologia de mensuração de efeitos sazonais. O impacto estatístico dessa mudança nos modelos dos economistas indica atividade um pouco mais forte.

“O segundo trimestre vai ter um efeito estatístico por causa da greve de maio do ano passado. Na média, os números devem ser melhores do que no primeiro trimestre, mas seria efeito de base de comparação”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

“O PIB do segundo trimestre deverá ser fraco, e aumentou a chance de que seja negativo, embora ainda não pareça ser preponderante a chance de uma recessão técnica”, afirma Braulio Borges, economista da LCA Consultores.

Na avaliação de Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, os dados de abril não foram tão ruins, embora continuem demonstrando atividade fraca. Ele diz, porém, que maio pode ser pior, a partir de números da balança comercial e de índices de confiança.

“Dados preliminares apontam para um segundo trimestre entre 0,2% e 0,3%”, afirma. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia, da FGV), afirma que o instituto projeta um segundo trimestre melhor que o primeiro, com avanço de 0,4%. “O segundo trimestre será importante para ver se a gente não vai para o fundo do poço”, diz.

O pesquisador Leonardo Mello de Carvalho, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que o indicador da instituição mostrou avanço dos investimentos em abril, mas resultados positivos têm sido pontuais.

“Por mais que a gente veja alguns fundamentos positivos, que poderiam dar início a um ciclo virtuoso, como juros, comprometimento de renda e inflação menores, tudo isso esbarra nesse cenário de incerteza e nos elevados indicadores de desocupação. São duas restrições que vêm enterrando a economia.”

Carvalho diz que a instituição irá rever sua projeção de crescimento de 2% para o ano, feita em março. Matos afirma que o país caminha para um baixo crescimento em 2019, como nos anos anteriores, mas com composição pior para o PIB, por causa do comportamento fraco dos investimentos. O Ibre projeta expansão de 1,2% em 2019.

“Nosso cenário não é esse, mas você começa a não poder descartar a possibilidade de recessão. Podemos não cair em recessão, mas é quase estagnação. Enquanto o investimento não voltar de fato, fica um crescimento capenga.”

O Itaú revisou na sexta (14) sua previsão para o PIB de 2019 de 1% para 0,8% e cortou a expectativa de Selic para 5% já em 2019 -antes, esse patamar seria atingido em 2020.

Segundo Barbosa, o BC só deve começar a reduzir os juros após sinal de que a reforma da Previdência vá acontecer. Ele diz que aumentou a chance de que a votação do projeto na Câmara ocorra ainda neste semestre, possibilitando um corte da Selic já em julho.

Para Borges, o consumo de bens pelas famílias estagnado há cerca de seis meses reforça a percepção de que o nível dos juros básicos da economia não tem sido suficiente para estimular o consumo e o investimento no país. Ele está entre os analistas que defendem que o BC retome o quanto antes uma política de afrouxamento monetário.