Mesmo após término, greve dos caminhoneiros continua impactando o preço do leite em Goiás
Produto chegou a ser descartado durante a paralisação, que durou dez dias. Preço para o consumidor final chega a R$ 3,65 e deve pesar na inflação do mês de junho na capital
O preço do leite está 30% mais alto na venda de indústrias para atacadistas em relação a meses anteriores. Com isso, o produto é um dos que devem pesar na inflação em Goiânia neste mês de julho. Consequentemente, os derivados do produto também podem ter aumento. Em alguns lugares, o preço final do leite está saindo a R$ 3,65, valor este que é visto pelos produtores como consequência da paralisação dos caminhoneiros, que durou dez dias.
Segundo o diretor executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Goiás (Sindileite), Alfredo Luiz Correia, houve uma sequência de cinco fatores que pesaram para a alta do preço do produto. Além da greve dos caminhoneiros, na qual, segundo Alfredo, 600 milhões de litros de leite foram descartados no Brasil, a produção passa pelo período da entressafra, ou seja, quando a produção é baixa.
“Como estamos no período de seca, o animal acaba sofrendo com a falta de pastagem e isso diminui a sua alimentação natural. Além disso, tem a questão do transporte de insumos, como medicamentos e rações que pesa bastante no preço de venda do produto”, explica o diretor do Sindileite.
O frete é outro fator que define a alta do preços. Alfredo explica que o valor pago no caminhão comum é pelo seu trajeto. Já um caminhão graneleiro, que transporte os laticínios, é acertado a ida e a volta é acertada previamente e esses valores acabaram dobrando nos últimos meses. “Além disso, tem uns caminhões que fazem o trajeto exclusivamente da propriedade para o laticínio. E, para finalizar, tem a demanda de oferta e procura, que vai determinar o preço final. Principalmente se o produto estiver em baixa”, conta.
Inflação
Como ainda não foi fechado a inflação do mês de junho, ainda não há dados precisos sobre o aumento no mês de maio, mas já se sabe que o leite foi encontrado com uma elevação de preço em estabelecimentos da capital, afirma o gerente de pesquisa sistemáticas e especiais da Instituto Mauro Borges (IMB), Marcelo Eurico de Sousa.
Ele destaca que, além dos laticínios e seus derivados, as hortaliças também devem pesar na alta de produtos alimentícios. Apesar das entressafras de ambos produtos, Marcelo garante que não houve desabastecimentos dos itens em Goiânia. “A greve dos caminhoneiros afetou todo o país. Na pesquisa realizada no mês passado notamos situações isoladas sobre a falta de produtos ou elevação de preços exorbitantes, como o caso da batata, que se estendeu por um curto tempo”, diz.
Marcelo também aponta que a seca e o período de entressafra causaram as altas nos preços que foram detectados na pesquisa. “Ainda não estamos com o valor finalizado de alta. Mas sabemos que as hortaliças sofreram com a seca e com a alta do leite, também será refletido no requeijão, iogurte, queijo, manteiga, entre outros”, conta.
Mais produtos
A greve dos caminhoneiros refletiu em aumentos não só do leite, mas também em outros produtos como o feijão, arroz e óleo. Para o presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Nelson Alexandrino, todos os produtos que são vendidos nos supermercados goianos sofreram aumento.
“Havia necessidade do grave, mas algumas pessoas acabaram sendo sangue-sugas e aproveitaram a situação para extorquir da população. Na contra mão a isso, tivemos uma queda nas vendas nos estabelecimentos”, conta o presidente da Agos.
Nelson acentua que essa queda é pelo fato das pessoas estarem dando mais valor ao dinheiro e realizando pesquisa antes de comprar qualquer produto. “Sempre há a necessidade de se fazer um levantamento completo. Vimos no decorrer da greve aumentos abusivos e dramáticos de produtos, sendo que o salário mínimo da população não seguiu o mesmo ritmo”, ressalta.
O diretor do Sindileite acha que a situação, aos poucos, está se normalizando. “A produção está se restabelecendo. Aos poucos a situação vai normalizando. Sabemos que muitos produtores tiveram prejuízos e que não é fácil contornar essa situação rápido, mas estou otimista”, acredita Alfredo.
*João Paulo Alexandre é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo.