Montadoras de veículos devem parar por falta de matéria-prima, diz associação
Principal matéria-prima em falta no mercado é o aço
A produção de veículos está prestes a ser interrompida no Brasil por falta de insumos. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea (associação das montadoras), o risco é imediato.
“A situação está ficando mais preocupante, o risco de paralisação para dezembro é muito alto devido à falta de insumos, principalmente de aço”, disse o executivo durante a apresentação dos dados do setor em novembro. Há ainda escassez de pneus e de termoplásticos.
Segundo o presidente da Anfavea, paradas pontuais já têm ocorrido. A consequência aparece no estoque disponível, o mais baixo desde março de 2004.
Hoje há 119,4 mil veículos nos pátios de montadoras e de concessionárias, número suficiente para atender a apenas 16 dias de venda. No auge da pandemia, as unidades à espera de um dono supriam quatro meses de comercialização.
“Há até montadoras comprando insumos para os fornecedores e tentando mitigar o risco de paralisação. Fazemos coisas impossíveis, mas milagres a gente ainda não faz”, disse Moraes.
Segundo o executivo, há possibilidade de falta de automóveis no mercado, o que deve interromper o crescimento de vendas de automóveis novos.
A falta de aço se deve principalmente ao problema da retomada da produção nas siderúrgicas em meio à pandemia. Segundo Moraes, as empresas do setor afirmam que as exportações não estão prejudicando o abastecimento no país, mas há dificuldades em atender o mercado interno devido diferentes especificações do metal usado pelas montadoras no Brasil.
A interrupção nas linhas de montagem vai agravar os problemas do varejo e das locadoras. As empresas de aluguel de carros esperam receber 40 mil unidades neste mês, mas necessitam de 80 mil para atender à demanda no fim do ano.
Sem carros novos, essas locadoras seguram as frotas atuais e deixam de abastecer o mercado de veículos usados, o que prejudica os lojistas -que já enfrentam a escassez de modelos zero-quilômetro e de carros com menos de três anos de uso.
A parada iminente foi revelada após um mês de alta significativa na produção.
Com 238,2 mil unidades manufaturadas, a montagem de veículos em novembro registrou crescimento de 4,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior, segundo a Anfavea. É a primeira vez que isso ocorre desde o início da pandemia da covid-19.
Em relação a outubro, o crescimento da produção ficou em 0,7%. Os dados divulgados pela Anfavea nesta segunda (7) incluem carros de passeio, veículos comerciais leves, ônibus e caminhões.
A queda acumulada na produção é de 35% em 2020.
As vendas tiveram alta de 4,7% em novembro na comparação com outubro, segundo dados da Fenabrave (entidade que representa os revendedores). Foram licenciadas 225 mil unidades, melhor resultado de 2020 até agora, com média diária de 11,3 mil emplacamentos.
Em relação a novembro de 2019, houve retração de 7,1% na comercialização de veículos. No ano, a queda chega a 28,2%
Os consumidores que optaram pelos veículos zero-quilômetro encontraram carros bem mais caros nos últimos meses, e não há expectativa de queda nos preços.
Segundo Moraes, será impossível reter os repasses, que ocorrem principalmente devido à variação cambial e aos reajustes dos insumos. Além das dificuldades para compra de aço, o metal já acumula alta de aproximadamente 40% ao longo de 2020.
Enquanto lidam com problemas de produção e demanda, as montadoras seguem com planos de demissão voluntária abertos, o que explica a redução de 640 postos de trabalho entre outubro e novembro.
Mas esse número é desigual entre os diferentes setores ligados à Anfavea, o que vai influenciar no balanço final de 2020.
O segmento de máquinas agrícolas e rodoviárias registrou 179 contratações no último mês, mas 819 funcionários foram desligados das fábricas de automóveis.
Porém, a maior parte dessas contratações são por período temporário, para atender a demandas sazonais.
As exportações surpreenderam, com alta de 26,2% em comparação a outubro.
Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, houve a regularização nos envios a países que estavam com estoques em baixa. Em relação a outubro de 2019, foi registrado um crescimento de 38,6%.
A Anfavea espera que 2021 seja um ano mais equilibrado em todos os setores da indústria automotiva, mas o presidente da entidade admite que está sendo difícil fazer projeções.
Caso o fornecimento de insumos não seja regularizado logo, o primeiro trimestre do próximo ano pode ser prejudicado, com queda no PIB industrial. O comércio também será afetado pela escassez de produtos.
Outro fator que preocupa a Anfavea é o andamento da pandemia de covid-19, que registra alta seguidas nos casos.
“Estávamos considerando a pandemia como controlada, mas, infelizmente, temos observado o aumento da contaminação”, disse Moraes. Segundo o executivo, esse fator vai influenciar nas previsões.