Com seus longos cabelos e sorriso charmoso, a jovem Colleen Stan, 20, achava que não teria problemas ao pedir uma carona até o aniversário de um amigo. Quando um casal sorridente com um bebê parou o carro, ela achou que estava num dia de sorte. Porém, em vez de deixá-la na festa, o casal dirigiu 300 km até sua casa inóspita em Red Bluff, Califórnia, onde Cameron Hooker, 23, e sua esposa Janice a trancaram em uma espécie de caixão.
Os sequestradores a deixaram lá, embaixo da cama do casal, por sete anos, durante 23 horas por dia — só a deixando sair quando queriam estuprá-la e torturá-la. Ela foi machucada, eletrocutada e até teve o corpo esticado numa prateleira por Hooker, que a fez assinar um contrato de escrava e ameaçou matar a ela e sua família se escapasse.
O destino terrível de Colleen, que começou em 19 de março de 1977, foi recontado no filme recente “The Girl in the Box” (“A Garota na Caixa”).
Intuição
Colleen disse que, embora sempre pegasse caronas, ela teve uma sensação inexplicável e ruim sobre o casal durante o caminho.
Depois de alguns quilômetros de jornada, Hooker parou num posto de gasolina, para que Colleen usasse o banheiro.
“Uma voz me disse para pular pela janela e correr sem olhar para trás”, disse ela à revista People, admitindo que já sentia algo estranho vindo do motorista.
Mas, dizendo a si mesma que estava sendo medrosa, ela ignorou as intuições e voltou para o carro. Foi aí que ela viu um objeto curioso: uma caixa de madeira pesada, com um buraco ao lado do seu assento.
“[Cameron] havia tirado a caixa de madeira e colocado no banco de trás”, disse ela. Ela não sabia o que era, mas descobriu depois que era uma “caixa de cabeça”.
Meia hora depois, Hooker entrou por um caminho de terra, onde amarrou e sufocou Colleen antes de trancar sua cabeça na caixa de madeira, feita com material à prova de som para deixá-la quieta.
Antes de chegar até a casa do casal, Colleen foi tirada da caixa e acorrentada no teto do porão.
Ainda vendada, foi estuprada e espancada, e em seguida obrigada a assistir o casal fazendo sexo para comemorar seu sequestro.
“Eu estava aterrorizada. Janice me olhava enquanto Cameron me torturava e depois fizeram sexo na minha frente. Eu tinha certeza que iriam me matar”, disse ela.
Naquela noite, Colleen foi acorrentada e forçada numa caixa de 90 cm por 180 cm, muito pequena para ela, forçando-a a ficar sentada o dia inteiro.
Quando o casal se mudou para uma casa móvel em um lugar remoto, Hooker construiu uma caixa em formato de caixão que ficava embaixo da cama deles, e onde Colleen permanecia por 23 horas todo dia.
Quase sem se movimentar e enjaulada no escuro, ela usava um penico para suas necessidades, movendo-o com os pés.
Um ventilador jogava ar na caixa por um pequeno buraco. Mesmo assim, a temperatura chegava a 38 ºC no verão, e ela era proibida de fazer qualquer barulho.
Colleen não pôde sair debaixo da cama nem quando Janice deu à luz seu segundo filho, em cima dessa mesma cama.
Ela era privada de água e comida durante todo o dia, e à noite era tirada da caixa para ser queimada, eletrocutada, chicoteada e estuprada ritualmente.
Seita
Colleen também sofreu lavagem cerebral, que a fez acreditar que Hooker fazia parte de uma organização secreta chamada “a Companhia” – que iria “pregá-la na cruz” e matá-la caso tentasse escapar.
“Sua esposa me disse que se eu pisasse fora da casa sem permissão, seria como colocar uma espingarda na cabeça e atirar”, revelou ela depois.
“Hooker dizia: ‘se você não fizer como eu digo, temos pessoas que vão machucar sua família'”. Cada vez mais resignada e desesperada para escapar dos ataques sádicos, Colleen foi forçada a assinar um contrato de “escravidão”.
Ela foi rebatizada de “K” e foi obrigada a chamar Cameron de “mestre” e sua esposa de “senhora”.
Três anos após o sequestro, Cameron a levou para visitar seus pais e se apresentou como namorado. Mesmo tendo sido deixada a sós com os pais, ela disse que estava feliz.
Ainda que eles suspeitassem que ela havia se juntado a uma seita, eles acabaram aceitando sua versão.
Conforme passava o tempo, Colleen teve permissão para sair por períodos maiores, para cuidar das crianças e trabalhar no jardim. Mas ela tinha muito medo da “Companhia” para que tentasse escapar.
Um dia, Hooker decidiu fazer de Colleen sua segunda esposa, o que deixou Janice tão brava que ela decidiu abrir o jogo e dizer que a “Companhia”, na verdade, não existia.
Embora inicialmente Janice parecesse gostar das torturas com Colleen, ela contou depois à garota que também havia sido alvo de estupro e espancamentos desde que conheceu Cameron, quando tinha 15 anos.
Desesperada, ela também assinou um contrato com Cameron, que a obrigava a ajudar no sequestro de uma nova jovem para ser “escravizada”.
A fuga
Em agosto de 1984, Janice levou Colleen a uma estação de ônibus e depois foi embora com suas duas filhas. Em seguida, Colleen ligou para Hooker e disse que estava fugindo — e ele chorou.
Incrivelmente, ela não reportou seu sequestro e abuso para a polícia por meses, ligando para Hooker diversas vezes, na esperança que ele iria “mudar”.
Quem entregou Hooker para a polícia foi Janice, culpando-o pelo sequestro, tortura e assassinato de Marie Elizabeth Spannhake, que sumiu em 1976.
Janice testemunhou contra o marido e foi concedida imunidade jurídica. Hooker foi condenado a 104 anos de prisão.
Durante o julgamento, foi sugerido que Colleen sofria de Síndrome de Estocolmo, que ocorre quando pessoas sequestradas se apaixonam pelo sequestrador, pelo intenso estresse que viveram juntos.
Colleen disse que começou a se importar com Hooker quando ele mostrou sinais de afeição – deixando-a celebrar seu aniversário e dando a ela uma Bíblia.
“Eu aprendi que poderia ir a qualquer lugar da minha mente. Você simplesmente remove si mesma da situação real e vai para outro lugar. Vai para algum lugar bom, com pessoas que você ama. Qualquer coisa que te faça feliz”, disse ela à People.
Após o julgamento, Colleen, agora com 62 anos, estudou contabilidade e teve uma série de casamentos que deu errado.
“Sua vida vira um limbo quando você está sequestrada”, disse ela. “Depois que ganha novamente a liberdade é como se os portões se abrissem. Você somente corre para eles”.