Na Venezuela, apagão deixa hospitais em estado alarmante e partos são cancelados
O serviço de saúde venezuelano foi um dos mais afetados pelo apagão que já dura…
O serviço de saúde venezuelano foi um dos mais afetados pelo apagão que já dura mais de 24 horas. Com o Metrô de Caracas fechado e poucos ônibus circulando, é difícil se mover pela cidade, o que impede alguns médicos de chegarem aos hospitais. Além disso, faltam insumos e em muitos hospitais os geradores não funcionaram. Salas cirúrgicas foram fechadas, partos cancelados e baterias extras precisaram ser usadas para manter funcionando a UTI de um hospital pediátrico.
Os médicos estão tendo de fazer malabarismos para garantir o atendimento.
– Uma paciente descompensou e tivemos que entubá-la sob as luzes dos celulares – Conta um médico do Hospital Periférico de Catia, que pede para não ser identificado.
Médico que pediu por ajuda humanitária foi demitido
O jovem venezuelano Luis José Pérez, de 18 anos, tem as mãos cobertas de ataduras. Sua mãe, Yaritza Gutiérrez, acompanha-o com várias bolsas e cobertores na porta do Hospital Pérez Carreño, a oeste de Caracas. Dezenas de pessoas esperam em cadeiras até que autorizem sua entrada no centro de saúde.
– Tem quase um mês que esperamos o meu atendimento, dormimos aqui do lado de fora. Eles não querem me atender. Hoje, a desculpa é o corte de energia, a sala de cirurgia está fora de serviço. – Relata o Luiz José.
Do lado de dentro, os médicos se não falam com a mídia. Na sexta-feira (08), em meio ao apagão que abalou todo o país, o médico Neomar Balza – que compõe a equipe deste hospital – foi notificado sobre sua demissão. Seus colegas sussurram pelos corredores que a decisão foi tomada por seu apoio à entrada da ajuda humanitária na Venezuela.
Muitos dos geradores estavam danificados e outros demoraram a ligar, como no Hospital J.M. de los Ríos, em Caracas, principal centro pediátrico do país. Lá foi necessário enviar uma bateria de emergência para a unidade de terapia intensiva (UTI). O sistema de contingência do hospital não pode ser ativado até a manhã de sexta-feira (08), mais de 12 horas após o início da crise.
– Foi um caos. – Lembra a pediatra Susana Pachano.
Julio Castro, membro da ONG Médicos pela Saúde, conta que está sendo difícil até mesmo saber como está a situação de cada Hospital. O grupo relatou a morte de dois pacientes durante a queda de energia.
– Tem sido muito difícil falar com os médicos porque os sistemas de comunicação estão falhando. Dos 40 hospitais que monitoramos, obtivemos informações de apenas 23. Desses, 12 não tinham geradores funcionando.
Partos cancelados
A maternidade Comandante Supremo Hugo Chávez Frías, em El Valle, estava às escuras nesta sexta-feira (08). Apenas uma mulher grávida esperava para ser atendida, sentada em uma cadeira. As outras deixaram o centro para embarcar em uma rota incerta atrás de outros hospitais da cidade.
– Eles nos disseram que não estão realizando cesarianas porque não há luz. Eles também não têm suprimentos – disse outra paciente, que preferiu não se identificar.
Dois funcionários confirmaram que as instalações estavam inoperantes, apesar dos esforços dos médicos, devido ao apagão e também pela falta de água. Em 2018, os médicos da maternidade protestaram contra os baixos salários e a escassez de equipamentos.