Nubank pede desculpas por racismo e promete “reparação histórica”
Cofundadora do banco afirmou em entrevista que o nível de exigência para se trabalhar na Nubank é alto e que não dá para "nivelar por baixo", sobre possíveis políticas para candidatos negros
O Nubank publicou neste domingo (25) uma carta assinada pelos três cofundadores do banco virtual pedindo desculpas pela fala de Cristina Junqueira no programa Roda Viva, que foi considerada racista.
“A diversidade foi sempre, sim, parte da nossa cultura. O equívoco foi achar que ter o valor por si só bastava. O erro foi achar que as coisas vão se resolvendo sozinhas”, diz o comunicado.
“Ficamos acomodados com o progresso que tivemos nos nossos primeiros anos de vida que se refletia em algumas estatísticas relativas à igualdade de gênero e LGBTQIA+, por exemplo, que, repetidas, mascaravam a necessidade urgente de posicionamento ativo também na pauta antirracista”, prossegue a carta.
O Nubank ainda precisa avançar muito em termos de diversidade – mas estamos sempre ouvindo as pessoas para melhorar.https://t.co/XCadnR5FRZ
— Nubank (@nubank) October 21, 2020
Além disso, o banco se compromete a “avançar, dentro e fora de casa, com uma agenda de reparação histórica e de combate ao racismo estrutural”.
Para isso, eles anunciam que formaram parceria com o IDBR (Instituto Identidades do Brasil). “O objetivo é ampliar nosso entendimento sobre o tema, firmar nosso engajamento público e contínuo e acelerar a promoção da igualdade racial no Nubank”, explica o comunicado.
Entenda o caso
Durante sua participação no programa Roda Viva na última segunda-feira, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank afirmou que o nível de exigência para se trabalhar no banco é alto e que não dá para “nivelar por baixo”, em referência a uma possível política afirmativa para candidatos negros.
A fala repercutiu mal nas redes sociais e o banco foi acusado de racismo.
Recentemente, empresas brasileiras como Magazine Luiza, anunciaram programas de trainee exclusivos para profissionais negros.
Leia o comunicado na íntegra
O Nubank errou
Há sete anos, quando fundamos o Nubank, nosso maior desejo era ter uma cultura com valores muito sólidos.
Entre nossos valores mais admirados está Construímos Times Fortes e Diversos.
A diversidade foi sempre, sim, parte da nossa cultura.
O equívoco foi achar que ter o valor por si só bastava.
O erro foi achar que as coisas vão se resolvendo sozinhas, pela própria comunidade de Nubankers, organicamente, sem esforços contínuos e investimentos da liderança.
Ficamos acomodados com o progresso que tivemos nos nossos primeiros anos de vida que se refletia em algumas estatísticas relativas à igualdade de gênero e LGBTQIA+, por exemplo, que, repetidas, mascaravam a necessidade urgente de posicionamento ativo também na pauta antirracista.
Deixamos de nos questionar. Ignoramos o grande caminho que ainda tínhamos pela frente.
Com isso, perdemos a humildade, que sempre foi a característica que nos ajudou a entender velhos problemas com novas soluções e uma mentalidade inovadora.
Erramos.
A diversidade étnico-racial é um desafio muito maior e mais complexo do que imaginávamos.
Passamos os últimos dias em conversas com a comunidade negra de Nubankers, com ativistas negros de fora do Nubank e também com nossos clientes.
Nessas conversas, vimos o quanto precisamos avançar, dentro e fora de casa, com uma agenda de reparação histórica e de combate ao racismo estrutural.
O Brasil tem excelentes profissionais negros em diferentes carreiras.
No Nubank, temos um enorme orgulho da nossa comunidade e pedimos desculpas aos Nubankers negros, ao movimento negro e aos grupos sub-representados por não termos feito mais.
O Nubank precisa ouvir para se transformar. Precisamos de muito mais ações concretas. Queremos aprender sobre raça para liderar nossos times nesta transformação.
Como fundadores, nos comprometemos a ouvir mais e a agir mais.
Já tínhamos iniciativas focadas em recrutamento e inclusão, mas sabemos que é pouco.
Somos inconformados por natureza, questionamos tudo inclusive nós mesmos. Vamos usar essa característica para recomeçar uma jornada de inclusão racial.
Mas não temos e nem queremos soluções simplistas.
Por isso, estamos desenhando uma agenda real com ações concretas e ambiciosas de transformação na área de diversidade racial, a qual dividiremos ainda em Novembro com os números do nosso compromisso.
Para criá-la, estamos trabalhando com nossos Nubankers, representantes da comunidade negra, especialistas em diversidade racial, consultores e ONGs.
Para já, acabamos de firmar uma parceria com o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) como primeiro passo nessa jornada de aprendizado e transformação. O objetivo é ampliar nosso entendimento sobre o tema, firmar nosso engajamento público e contínuo e acelerar a promoção da igualdade racial no Nubank.
O ID_BR confere às empresas que estão neste caminho o Selo “Sim à Igualdade Racial” no nível “Compromisso”, e o Nubank já está incluso nesse processo. Existe uma agenda a ser realizada e o instituto irá nos acompanhar nessa jornada para darmos sequência no planejamento estratégico voltado à temática racial.
Decidimos também dobrar o tamanho do time interno dedicado a recrutar profissionais de grupos sub-representados em todas as posições e níveis da empresa e reforçar a busca por lideranças negras para nos ajudar nesse processo.
Temos certeza que esse trabalho trará benefícios para o Nubank e para a sociedade.
Esperamos que bancos, fintechs e demais agentes do sistema financeiro entrem nesse movimento conosco para ajudar a mudar a realidade à nossa volta.
Nosso compromisso agora é desafiar de novo o status quo — desta vez, no campo da diversidade e inclusão racial no Brasil e na América Latina.
David Vélez, fundador e CEO do Nubank.
Cristina Junqueira, co-fundadora.
Edward Wible, co-fundador.