Oferta de vagas formais é a menor desde 2012
Pesquisa do IBGE mostra que o desemprego no país atingiu 12,7% no trimestre encerrado em maio, ou 13,2 milhões de desocupados
Dados referentes a maio mostram que seis meses após o presidente Michel Temer afirmar que a reforma trabalhista ampliaria os horizontes para o emprego, o quadro no mercado de trabalho ainda é desolador. Pesquisa divulgada na sexta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que o desemprego no país atingiu 12,7% no trimestre encerrado em maio, ou 13,2 milhões de desocupados.
Os números revelam estabilidade em relação aos três meses encerrados em fevereiro e queda de 0,6% na comparação com igual período de 2017. Comparada ao piso registrado no fim de 2014, no entanto, a taxa de desemprego não só dobrou, como patina em um nível bastante alto e só não é maior em razão das vagas geradas no mercado informal.
Quando o foco são vagas com carteira assinada, o país perdeu quase quatro milhões de postos desde o teto em 2014, chegando ao menor nível da série iniciada em 2012. Para completar, o grupo dos que estão fora da força de trabalho -os que têm idade para trabalhar mas, por alguma razão, deixaram de procurar emprego- ganhou cinco milhões de pessoas desde 2012, também um recorde.
Combinado ao cenário econômico letárgico, o número indica que o que está fazendo as pessoas deixarem de procurar emprego não é, como em outros tempos, uma maior dedicação dos jovens ao estudo ou uma melhor situação do chefe a família, mas algo alarmante: o desalento.
Especialistas dizem que é cedo para falar de possíveis efeitos da reforma trabalhista sobre o mercado de trabalho, mas admitem que o quadro geral é preocupante.
“Os números recentes me deixaram mais pessimista com o mercado de trabalho, que está sintonia com o que ocorre com a atividade econômica como um todo”, diz Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getulio Vargas. Para ele, efeitos positivos da reforma trabalhista podem demorar ainda a aparecer, em especial por questões jurídicas.
Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências, diz que, desde o segundo trimestre do ano passado, os dados dessazonalizados (que excluem efeitos mensais atípicos), apontavam para uma clara recuperação do mercado de trabalho, o que parece ter mudado nos últimos meses.
“O processo de reação tem perdido força, muito conectado aos efeitos da desaceleração da economia sobre a indústria e os serviços, setores fundamentais para a geração de vagas”, diz ele.
Segundo Everton Carneiro, da RC Consultores, para que o país retome o nível de postos com carteira registrado nos melhores momentos vai ser preciso ao menos dois anos de crescimento econômico consistente, entre 3% e 4%.
“É improvável que o país retome o nível de ocupação de 2013 e 2014 no próximo ano. Isso demandaria um crescimento extraordinário do PIB.”
No geral, os analistas dizem que o cenário para o emprego no país segue tendência semelhante à observada ao longo de 2017, quando houve queda na taxa de desemprego na esteira do aumento de trabalhos informais.
Carneiro diz que, apesar de a taxa de desemprego estar um pouco abaixo do ano passado, a sensação é que há uma espécie de acomodação do mercado em níveis ruins. Além disso, a renda do trabalhador permaneceu estagnada no último ano, num movimento que se retroalimenta.
Em resumo, diz, a não geração de novas vagas formais tem impacto direto no consumo das famílias e numa potencial reativação da economia.