O toxoplasma é um parasita que infecta cerca de um terço da população humana mundial e é conhecido por sua capacidade de manipular hospedeiros, como ratos de laboratório, para que se tornem imprudentes. Um estudo publicado na revista científica Nature Communications constatou, pela primeira vez, que esse mesmo efeito pode ser observado em animais selvagens.
Os pesquisadores descobriram que filhotes de hienas infectadas com o parasita Toxoplasma gondii tornam-se imprudentes diante dos leões, seus predadores naturais. Da mesma forma que um camundongo se aproxima de felinos domésticos quando contaminados.
Os estudos mostram que filhotes de hiena não infectados costumavam ficar a uma distância média de 90 metros dos leões. Já os que tinham anticorpos contra toxoplasmose chegavam a uma distância média de 40 metros. Dessa forma, têm quatro vezes mais chances de serem mortos. Os dados foram coletados na Reserva Nacional Masai Mara, no Quênia.
“Esse parasita não afeta apenas os gatos domésticos e suas presas, como os camundongos, mas é possível que seja um fenômeno muito mais disseminado”, afirmou à National Geographic Kay Holekamp, ecologista comportamental da Universidade Estadual do Michigan e coautora de um novo estudo sobre o assunto publicado na revista científica Nature Communications. Ela estuda hienas desde 1988.
Atraídos pelo odor de urina
O parasita pode infectar muitas espécies hospedeiras, incluindo roedores, aves e outras presas, se ingerirem carne ou fezes contaminadas. Ao longo de milhões de anos de evolução, este primo distante da malária conquistou um truque interessante: roedores com toxoplasmose consideram irresistivelmente atraente o odor da urina de gato e isso pode aproximá-los de um felino faminto.
“Esse fenômeno não apenas promove a remodelagem do genoma do parasita, como também permite a produção de esporos ambientalmente estáveis que podem infectar muitos outros hospedeiros”, explicou à National Geographic o coautor do estudo Zach Laubach, pós-doutorando na Universidade do Colorado, em Boulder.
Stefanie Johnson, pesquisadora da Universidade do Colorado afirma que o estudo é inédito e inovador e acredita que os efeitos observados nas hienas são só uma parte de um conjunto de estratégias do parasita para controlar seus hospedeiros, que pode agir de outras formas que ainda não conhecemos.
“Isso confirma que o toxoplasma exerce fortes efeitos no comportamento dos mamíferos. É um parasita que as pessoas pensam ser bastante inofensivo, especialmente em humanos, mas quando consideramos alguns dos efeitos observados, o toxoplasma pode estar causando sérios impactos no comportamento humano, até mesmo em nível social”, afirma a pesquisadora.