Polícia prende médico suspeito de mandar matar presidente do Haiti
De acordo com as autoridades locais, ele vive nos Estados Unidos e tinha objetivo assumir o comando do país
Um médico haitiano que vive na Flórida foi preso e acusado pela polícia do Haiti na noite deste domingo (11) de planejar o assassinato do presidente Jovenel Moïse para assumir o comando do país.
Charles Emmanuel Sanon, 63, chegou ao Haiti em junho, com um grupo de colombianos que faziam sua segurança, segundo informações do governo. “É um indivíduo que entrou no Haiti a bordo de um avião privado com objetivos políticos”, disse Léon Charles, diretor da polícia nacional.
A polícia chegou a Sanon após interrogar os 18 colombianos presos na quarta-feira, que apontaram que foram contratados pelo médico por meio de uma empresa de segurança venezuelana chamada CTU, com sede na Flórida.
“A primeira pessoa para quem um dos criminosos telefonou foi Charles Emmanuel Sanon. Ele se colocou em contato com outras duas pessoas, que consideramos mentores do assassinato do presidente”, afirmou o chefe da polícia, sem detalhar a identidade dos outros suspeitos.
A partir daí, segundo informações do New York Times, a polícia foi atrás de Sanon e encontrou em sua casa um boné da DEA (agência americana de combate às drogas), munição, dois carros, seis pistolas, 24 alvos de tiro não usados e quatro placas de carro da República Dominicana, país vizinho por onde entrou parte dos colombianos presos na operação.
Segundo autoridades haitianas, os bandidos entraram na casa do presidente haitiano após se identificarem como agentes do DEA, mas o envolvimento do órgão foi negado pelo governo americano.
Depois, dois haitianos com dupla nacionalidade americana foram presos, além de um grupo de 15 colombianos. Os haitianos-americanos presos foram identificados como James J. Solages, 35, e Joseph Vincent, 55. Segundo o New York Times, eles dizem terem sido contratados como tradutores pelos colombianos.
Em meio às investigações em torno do assassinato do presidente, os EUA mandaram neste domingo uma equipe técnica ao Haiti para determinar quais são as necessidades de segurança e de apoio ao país caribenho.
Chegaram ao país homens do FBI, do Departamento de Estado, do Departamento de Justiça e do Departamento de Segurança Interna, que se reuniram, em encontros separados, com representantes da polícia nacional haitiana e com o primeiro-ministro, Claude Joseph, além de outros atores políticos.
O presidente americano, Joe Biden, analisará as informações obtidas durante a visita para decidir como ajudar o Haiti, que vive grave crise provocada pela morte de Moïse.
Não está claro por quanto tempo a equipe dos EUA permanecerá no Haiti. Um funcionário do governo ouvido pela agência de notícias Reuters sob condição de anonimato disse que a Casa Branca, para avaliar a situação, consultará parceiros regionais e a ONU (Organização das Nações Unidas).
Na sexta, autoridades do Haiti pediram que os EUA e a ONU enviassem tropas para ajudar a estabilizar o país. O envio de forças de paz das Nações Unidas depende de aval do Conselho de Segurança e traz à memória a presença de tropas internacionais no Haiti entre 2004 e 2017, em uma missão que teve protagonismo do Brasil. A força de ocupação deu algum semblante de normalidade ao país durante o período, mas, desde a saída da ONU, o Haiti retomou seu ciclo de instabilidade política e institucional.
Biden se vê frente a uma escolha difícil: enviar militares seria um revés na proposta do democrata de reduzir a atuação militar americana no exterior, como mostra a retirada acelerada do efetivo dos EUA do Afeganistão, onde a intervenção prometia ser breve e acabou durando duas décadas.
Por outro lado, uma omissão do democrata pode gerar uma nova crise de migração em massa rumo aos EUA —o Haiti, localizado no Caribe, fica a 1.100 km da Flórida. No sábado (10), dezenas de haitianos foram até a embaixada americana na capital, Porto Príncipe, para pedir asilo.
Segundo reportagem do jornal americano The New York Times, autoridades do governo Biden inicialmente não estavam dispostas a enviar soldados para ajudar o país caribenho, e, assim, o mais provável seria que os americanos ajudassem a treinar militares e policiais haitianos, sem se envolver em combates.
Em 1915, os EUA enviaram uma missão militar ao Haiti, também após o assassinato de um presidente, e acabou ocupando o país por 19 anos. Em 2010, após o terremoto, o governo de Barack Obama enviou US$ 100 milhões em ajuda. Cerca de 1 milhão de haitianos vivem nos Estados Unidos atualmente.
O governo Biden já havia anunciado o envio de agentes do FBI e do Departamento de Segurança Interna para avaliarem como o governo americano pode ajudar nas investigações sobre a morte de Moïse. Ainda não se sabe quem foi o mandante do crime nem a causa.
Autoridades haitianas dizem que 28 homens armados participaram na ação e já prenderam, até o momento, 19 suspeitos, entre colombianos e haitianos-americanos que integravam um grupo paramilitar. Segundo o jornal Miami Herald, alguns dos suspeitos disseram, em depoimento, que receberam a missão de prender Moïse e levá-lo para o palácio presidencial, mas que, ao chegar, encontraram-no morto.
De acordo com a imprensa local, Moïse foi achado com ao menos 12 marcas de tiros. “O escritório e a sala foram saqueados. Nós o encontramos deitado de costas, [usando] calça azul, camisa branca manchada de sangue e boca aberta”, disse o magistrado Carl Henry Destin ao jornal haitiano Le Nouvelliste.
Neste sábado (10), Jimmy Cherizier, líder de uma das gangues mais poderosas do Haiti, disse que seus homens poderão tomar as ruas para exigir respostas sobre o assassinato, o que ampliaria a instabilidade no país. Para ele, Moïse foi morto por um conluio que envolveu a burguesia, policiais e estrangeiros.