Preço de passagem aérea sobe com crise da Avianca Brasil
Algumas das rotas mais procuradas no país já têm alta no valor do bilhete de mais de 100% na comparação com abril de 2018
A crise da Avianca Brasil causou uma escalada dos preços de passagens nas rotas operadas pela companhia, que está em recuperação judicial desde dezembro . Com frota 60% menor por causa de dívidas em aberto com arrendadoras de aviões, a aérea já cancelou mais de 1.500 voos.
Levantamento feito a pedido do GLOBO pelo comparador de preços on-line Voopter, que avalia o valor de passagens oferecidas em sites de companhias aéreas e agências de viagens, mostra que, em média, um voo do Rio para Brasília, saindo do aeroporto do Galeão, era ofertado por R$ 342 em abril de 2018. Agora, o mesmo trecho custa R$ 733, alta de 114,10%. De Guarulhos, em São Paulo, à capital federal, a média saltou de R$ 294 para R$ 474 no mesmo período, aumento de 61,3%.
O avanço nos preços ganhou força em março, quando a Avianca sinalizou o fim das operações em aeroportos como o Galeão. Das 20 rotas nacionais e internacionais rastreadas pelo Voopter, 15 tiveram alta de tarifa. O movimento é visível nas rotas de maior demanda, que têm grande fluxo de passageiros de negócios.
A pesquisa do Voopter traz preços médios. Na prática, é possível encontrar cifras bem mais altas. Na próxima segunda-feira, por exemplo, saídas do Galeão podem custar até R$ 1.272 para Brasília e R$ 1.790 para Salvador. Já um bilhete para Lisboa sairia por R$ 3.816.
Para Pettersom Paiva, presidente do Voopter, a crise da Avianca reduziu a oferta de assentos e forçou a migração da demanda, que não caiu no período, para as demais companhias, pressionando as tarifas.
– A praxe da aviação civil é ter softwares sofisticados para definir o preço dos assentos. Eles consideram a oferta e a demanda. A crise da Avianca é um dos motivos para a escalada dos preços nos últimos dois meses – diz Paiva.
Guerra de preços
O desequilíbrio na oferta de voos pode ser minimizado com o leilão de ativos da Avianca, marcado pela Justiça de São Paulo para 7 de maio. A venda de unidades da empresa incluirá as licenças para pousos e decolagens (slots) atualmente detidas pela aérea.
Mas não há consenso entre especialistas de que as tarifas terão seus preços reduzidos com a venda de operações da Avianca a outras companhias.
Para Thiago Nykiel, da consultoria aeroportuária Infraway, a redução pode demorar se Gol e Latam, que detêm 69% do mercado doméstico, dominarem os lances:
-Teria que haver uma guerra de preços entre as duas.
Para David Goldberg, sócio da Terrafirma, consultoria em aviação, a presença de novas companhias no leilão seria o ideal para baixar as tarifas. Se isso não ocorrer, não há garantia que os preços recuem.
A escalada nas tarifas aéreas tem sido mais forte no Rio, que sofre um percalço adicional: uma crise na oferta com a migração de voos a terminais de capitais como São Paulo. Em seis anos, a capital fluminense perdeu 25% de seu número total de pousos e decolagens.
Por isso, passagens para destinos internacionais como Lisboa e Buenos Aires, com saída do Galeão, estão mais caras que aquelas partindo de Guarulhos, o maior aeroporto do país e que fica na região metropolitana da capital paulista.
A crise da Avianca pode reverter uma tendência de queda no preço das passagens aéreas vendidas no país. O termômetro do setor é o Relatório de Tarifas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que mede o valor da tarifa paga pelos passageiros – e não os preços em sites de comparação de preços – e considera fatores sazonais que têm impacto nas tarifas, como inflação, variação cambial e custo de matérias-primas como o querosene de aviação.
No último relatório, do quarto trimestre de 2018, e ainda sem os efeitos da crise da Avianca, o valor médio das tarifas domésticas foi de R$ 374, praticamente o mesmo valor do ano anterior e 50% menor que a média de 2008.
Tarifa dinâmica
Procuradas, as principais companhias aéreas defenderam suas políticas tarifárias. A Latam explicou, em nota, que “trabalha com o sistema de precificação dinâmica, que considera diversos fatores para oferecer a cada cliente o produto mais adequado”.
A Gol, que também adota a precificação dinâmica, diz que o “modelo tarifário faz com que as tarifas oscilem com o tempo e de acordo com a ocupação do voo”. A Azul explica que os preços variam conforme sazonalidade, trecho e outros fatores. E ressaltou que “a alta do dólar e do combustível são elementos que influenciam nos valores das passagens”.