VALORES

Preço dos ovos deve se normalizar nos próximos meses, diz especialista goiano

Goiás produz cerca de 6,6 milhões de ovos por dia

Marcos Café, professor da Universidade Federal de Goiás e Presidente da Associação Goiana de Avicultura (Foto: Ana Paula Belini)

O preço dos ovos, que sofreu uma alta significativa no começo do ano, deve começar a recuar já nos próximos meses. A previsão é do professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidente da Associação Goiana de Avicultura (AGA), Marcos Café, em entrevista ao portal Mais Goiás. Segundo ele, a normalização dos preços deve ocorrer com a estabilização da produção e a diminuição da demanda sazonal. 

No entanto, segundo o pesquisador, a alta recente não se deve apenas ao aumento da demanda durante a Quaresma. Outros fatores tiveram impacto significativo na valorização do produto, como a redução da oferta interna e o aumento das exportações. 

Goiás é um dos principais produtores de ovos do Brasil, ocupando atualmente a nona posição no ranking nacional e produzindo cerca de 6,6 milhões de ovos por dia. “Produzimos para a nossa demanda interna e ainda conseguimos exportar cerca de 100% do excedente para outros estados e entes, como o Distrito Federal”, afirmou o especialista. 

Mesmo com essa capacidade produtiva, a oferta ficou abaixo da demanda devido a uma série de fatores, incluindo a crise enfrentada pelos produtores no ano passado, que levou à redução do número de aves alojadas. “Houve momentos em que o preço da caixa de ovos não pagava o custo de produção. Muitos produtores estavam no prejuízo, o que fez com que diminuíssemos o plantel”, explicou.

Fatores climáticos

Outro fator que impulsionou a alta dos preços foi a forte onda de calor registrada nos últimos meses. O calor excessivo afeta diretamente a produtividade das aves, reduzindo a quantidade de ovos produzidos. Esse fator contribuiu para uma redução da oferta, pressionando ainda mais os preços.

Preço da carne bovina

A influência da carne bovina também foi um ponto central na explicação do especialista. “A carne do boi é o grande balizador do mercado de proteínas. Quando o preço do boi sobe, o consumidor busca alternativas mais acessíveis, como ovos e frango, o que eleva a demanda e acaba encarecendo o produto”, detalhou. Durante a Quaresma, a procura por ovos já tende a aumentar, pois muitas pessoas reduzem o consumo de carne vermelha. No entanto, desta vez, a pressão foi ainda maior devido às condições de mercado já desequilibradas.

Exportação

O impacto das exportações foi outro elemento que ajudou a impulsionar os preços. Com os surtos de gripe aviária nos Estados Unidos e em outros mercados internacionais, a demanda por ovos brasileiros cresceu, tornando a exportação mais atrativa para os produtores. “Embora o volume exportado não seja tão significativo, ele tem um peso no preço final. Como estamos livres da doença, os mercados externos buscaram o Brasil como fornecedor, elevando o valor do produto aqui dentro”, afirmou o pesquisador. Esse fenômeno incentivou os produtores a direcionarem parte da produção para fora, reduzindo a oferta doméstica e elevando os preços.

Normalização

Apesar dos desafios recentes, a tendência é de que o mercado comece a se reequilibrar nos próximos meses. “Os produtores já estão aumentando o alojamento de novas aves, mas esse processo leva tempo. Do momento em que a pintinha nasce até iniciar a postura, são pelo menos quatro a cinco meses. Isso significa que o impacto desse ajuste só será sentido no segundo semestre”, explicou Marcos Café.

A avicultura é um setor dinâmico e altamente influenciado pela lei da oferta e procura. “O mercado tem vida própria, não tem uma única empresa ou produtor que controle os preços. No ano passado, o setor enfrentava problemas sérios porque o preço do ovo não pagava o custo de produção. Agora, o mercado se ajustou e, com o aumento na oferta, os preços vão cair novamente”, concluiu.

Com a previsão de estabilidade no setor e a retomada gradual da produção, o consumidor pode esperar um alívio nos preços ao longo dos próximos meses.