O primeiro-ministro francês, Jean Castex, levou o Parlamento francês às gargalhadas nesta terça-feira ao mencionar a recomendação dada por Jair Bolsonaro em 2020 sobre uso de hidroxicloroquina para tratar a Covid-19, durante o discurso em que anunciou a suspensão de voos entre a França e o Brasil. O medicamento não é recomendado para tal por autoridades científicas e de saúde.
— O presidente da República [do Brasil] em 2020 aconselhou a prescrição de hidroxicloroquina — disse Jean Castex, em meio a gargalhadas do Parlamento. — E gostaria de lembrar que o Brasil é o país que mais prescreveu [o medicamento].
O momento das risadas, transmitido pela emissora LCP nesta terça-feira, vem repercutindo nas redes sociais. No discurso, Castex mostrou-se preocupado com a disseminação da variante do coronavírus encontrada no Brasil, a P.1, na França. Ele respondeu aos críticos que já vinham cobrando do governo francês a suspensão dos voos.
— Um pouco de decoro, como sempre digo — acrescentou Castex, pedindo silêncio aos parlamentares. — É perfeitamente incorreto dizer que ficamos sem agir. No entanto, estamos vendo que a situação está piorando e por isso decidimos suspender todos os voos entre o Brasil e a França até novo aviso.
A decisão da França, publicada nesta quarta no Diário Oficial do país, estipula que a suspensão dos voos vai até 19 de abril. O governo ainda estuda soluções para repatriar seus cidadãos e residentes que estejam no Brasil.
A França decretou uma quarentena em todo o território nacional por um mês, no dia 31 de março, para frear a terceira onda da pandemia, causada principalmente pela disseminação da variante detectada em dezembro no Reino Unido, que é mais contagiosa. Pela primeira vez desde março do ano passado, as escolas francesas suspenderam as aulas presenciais.
Leia abaixo a tradução do trecho do discurso de Castex sobre o uso da hidroxicloroquina no Brasil:
“Os senhores partem de uma observação estabelecida. A gravidade da situação no Brasil é cansativa. Eu lhes recordo, diante da representação nacional, que [o país] sofre uma situação absolutamente dramática, e a periculosidade da variante do mesmo nome que, efetivamente, apresenta dificuldades reais. Mas me perdoem por lhes dizer, senhores, os senhores estão distorcendo um pouco a realidade ao sugerir que nada seria feito. Mas isso está errado, está completamente errado. Uma coisa que não fizemos foi seguir as recomendações dele [do governo brasileiro]. O presidente da República em 2020 os aconselhou a prescrever hidroxicloroquina. E gostaria de lembrar que o Brasil é o país que mais prescreveu.”