Análise

Privatização da Eletrobras é uma necessidade, diz presidente da estatal

Esse modelo, defendido pelo executivo, prevê uma diluição do capital da União na Eletrobras. O governo teria uma golden share, e haveria limitação de concentração de voto dos demais acionistas

O modelo de privatização da Eletrobras ainda está em análise pelo novo governo, mas, para se manter competitiva no mercado, a companhia deverá se capitalizar, afirmou o presidente da estatal, Wilson Ferreira Junior, nesta terça-feira (29).

“O objetivo da capitalização colocado por este governo é que a companhia tenha capacidade de investimento. É importante que a companhia tenha como aumentar sua competitividade para participar da expansão futura [do sistema elétrico]”, disse o executivo a jornalistas, antes de sua palestra em um evento do Credit Suisse, em São Paulo.

Ferreira afirma que ainda está em “processo de entendimento” com o novo ministro de Minas e Energia, o almirante Bento Albuquerque, e que não foi definido se a atual gestão vai aproveitar o projeto de lei encaminhado pelo último governo, de Michel Temer, sobre o tema.

Esse modelo, defendido pelo executivo, prevê uma diluição do capital da União na Eletrobras. O governo teria uma golden share, e haveria limitação de concentração de voto dos demais acionistas. Além disso, haveria uma partilha igual dos recursos advindos da capitalização entre investidores, governo e consumidores de energia.

A ideia, diz ele, é que a estatal volte a fazer investimentos em áreas como energias renováveis, comercialização de energia no mercado livre (em que grandes consumidores compram diretamente dos geradores, a preços mais voláteis) e em “projetos binacionais”, que ele não especificou.

Em relação à conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3 -um dos projetos mais defendidos pelo novo ministro- Ferreira afirmou que uma concorrência internacional deverá ser feita no segundo semestre deste ano.

A ideia do governo é atrair um parceiro privado para terminar o empreendimento, paralisado após denúncias de corrupção em 2015. “Precisamos de um parceiro tecnológico para que a obra esteja acima de qualquer suspeita”, afirmou.

Ferreira é presidente da estatal desde julho de 2016. Ele foi nomeado durante o governo de Michel Temer e promoveu uma forte reestruturação na empresa, com a redução do número de funcionários e a venda das distribuidoras de energia que restavam na estatal.

Sua escolha pelo novo governo para continuar no cargo foi vista pelo mercado como um sinal positivo pelo setor privado, de que a equipe de Bolsonaro apoiaria uma privatização da empresa.
Além da capitalização da estatal, Ferreira diz que a empresa agora entra em um processo de estabilizar as reestruturações feitas em sua última gestão.

Ainda há a previsão de reduzir mais o número de funcionários, vender alguns ativos que não foram leiloados no ano passado e concluir grandes obras importantes, como usinas eólicas e térmicas em construção.

A empresa também está em processo de contratação de uma consultoria para planejar o futuro da companhia e seus novos investimentos, dentro de uma lógica de mercado, diz ele. “A perspectiva é de criar valor. A forma como a companhia operou no passado cobrou um preço elevadíssimo. Se a empresa perdeu dinheiro, quem mais perdeu fomos nós brasileiros. Não é para ser uma operação destruidora de valor.”