Problemas de abastecimento marcam os primeiros 10 meses de controle estrangeiro da Celg D
Em 2017, dificuldades no fornecimento de energia ocasionaram prejuízos a produtores rurais, prejudicaram a realização do Enem e até ajudaram na fuga de detentos
O primeiro ano de controle estrangeiro na gestão da Celg D, empresa de distribuição de energia de Goiás, não apresentou melhorias no serviço aos consumidores. Em 2017, problemas no abastecimento ocasionaram prejuízos a produtores rurais, prejudicaram a realização do Enem e até ajudaram na fuga de detentos.
A Celg D, que era controlada pela Eletrobrás, foi arrematada em leilão pela empresa italiana Enel Brasil em novembro de 2016, com um lance de R$ 2,187 bilhões. Mas só em fevereiro deste ano a transação foi concretizada e a gestão mudou de fato.
A Eletrobras, que detinha 51% das ações da empresa, recebeu R$1.065.266.144,40. O montante que coube a Goiás foi depositado na conta do governo estadual: R$ 1.104.303.365,93. Segundo a diretoria da Enel, a Eletrobras receberá, ainda, cerca de R$ 82 milhões da oferta dos empregados.
Na ocasião, o diretor global de Infraestrutura e Rede da Enel, Livio Gallo afirmou que o objetivo da empresa era transformar a Celg na distribuidora de energia número um do País. Além do valor pago pelo arremate da companhia, a Enel se comprometeu a pagar R$ 4 bilhões em dívidas da Celg e investir R$ 2,218 bilhões nos próximos anos na melhoria do sistema de energia. A prioridade, conforme destacou Livio Gallo, seria a de investir na modernização e na expansão do sistema de distribuição.
Em entrevista ao Mais Goiás, o presidente da empresa, Abel Rochinha, destacou que R$ 700 milhões já foram investidos na Celg D. Este número foi superior ao aplicado anteriormente à compra da companhia pela Enel Brasil, que era de, segundo o dirigente, R$ 300 milhões anualmente.
Problemas recorrentes
Apesar do investimento, em 10 meses de controle italiano da companhia, os problemas da antiga empresa goiana de energia permaneceram. Logo no início de sua gestão, a Enel enfrentou dificuldades com a população. Em março, moradores da Avenida Viena, no Jardim Europa, em Goiânia, recorreram à Justiça para exigir que a Celg Distribuição, retirasse os postes de iluminação na região.
A necessidade de entrar na justiça foi consequência do fato de, em 20 de novembro do ano passado, o corpo de um senhor de 68 anos ter sido encontrado dentro de um poste deixado no canteiro central da avenida. Uma liminar, concedida no mesmo mês, parecia dar fim ao problema, mas a empresa de energia resolveu ignorar a decisão e não retirou a estrutura do local.
Na época, a assessoria de imprensa da Celg-D declarou apenas que a empresa “não recebeu nenhuma notificação judicial determinando a remoção dos postes no local mencionado”. Uma consulta ao processo pelo site do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), porém, comprovou a emissão da liminar pelo juiz José Proto de Oliveira na data alegada pelos moradores.
Abastacimento
Muitos problemas relacionados ao fornecimento de energia puderam ser observados neste primeiro ano de privatização. Após chuvas intensas no mês de março, diversos pontos de Goiânia e algumas cidades do interior como Anápolis, Luziânia e Iporá ficaram sem energia.
A situação se repetiu ao longo do ano em todo o Estado, sobretudo após chuvas fortes e quedas de árvores. No dia 4 de abril, uma falha em uma das subestações da Celg em Trindade, deixaram boa parte dos imóveis do município sem energia elétrica. Imagens da unidade mostram muita fumaça saindo do local.
Outro problema causado pelas quedas de energia no interior do Estado ao longo de 2017, foi a perda de produção agropecuária. Em Palmeiras de Goiás um caso se destacou após um vídeo ser veiculado nas redes sociais. As imagens mostram um produtor de leite jogando fora parte do produto que estragou depois que sua fazenda ficou 36 horas sem luz.
Segundo o produtor, Carlos Roberto Ferreira, depois de tanto tempo sem energia, o prejuízo acumulado foi de aproximadamente R$ 10 mil, pois os animais deixaram de ser ordenhados e a mercadoria armazenada estragou.
Alguns meses depois, no dia 3 de outubro, uma queda de energia em uma unidade prisional de Cristalina, a cerca de 280 quilômetros de Goiânia, foi a oportunidade perfeita para os detentos iniciarem uma rebelião. A falta de luz no município foi consequência de um incêndio em uma subestação da Celg em Luziânia.
Em novembro, a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixou de ser aplicada em Uruaçu por conta da falta de energia que atingiu a cidade. Na ocasião, a Celg informou as chuvas causaram uma falha na subestação Barro Alto, que atende a cidade, interrompendo o fornecimento de energia no local.
Novos investimentos
O presidente da Celg explica que, apesar disso, já houve melhorias no fornecimento de energia e novas obras ainda vão ser realizadas. “Estamos reformando e ampliando a capacidade de 20 subestações e construímos outras cinco em todo o estado. Também estamos construindo novas linhas de alta tensão”, argumenta Rocinha.
A companhia, ainda segundo Rochinha, quer se aproximar de seus clientes e possibilitar que as regiões de produção agropecuária, sobretudo no interior, se desenvolvam. “Estive em cidades do interior do estado, como Cristalina, Águas Lindas, Jataí e Rio Verde. Nesta última, estamos inaugurando uma nova subestação e uma nova linha de alta tensão”, pontua.
*Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo.