Coronavírus

Reino Unido inicia plano de vacinação em massa contra covid-19

Margaret Keenan, uma avó britânica de 90 anos, tornou-se a primeira pessoa no mundo a…

Margaret Keenan, uma avó britânica de 90 anos, tornou-se a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer contra a Covid-19, fora de um ensaio clínico. Madrugadora, Keenan recebeu a injeção no hospital da região onde mora, em Coventry, no centro da Inglaterra, na manhã desta terça-feira, às 6h31 (hora local, aproximadamente 3h31, horário de Brasília).

“Sinto-me muito privilegiada por ser a primeira pessoa vacinada contra a Covid-19”, disse Keenan, que completou: “É o melhor presente de aniversário antecipado que eu poderia desejar, porque significa que posso finalmente passar um tempo com minha família e amigos no Ano Novo, depois de estar sozinha na maior parte do ano”. Keenan, conhecida como Maggie por seus amigos, é uma ex-assistente de joalheria que se aposentou há apenas quatro anos. Ela tem uma filha, um filho e quatro netos.

Este é, na verdade, um dia histórico para o Reino Unido e o mundo, com o início da campanha britânica de vacinação contra o novo coronavírus, a primeira a ser adotada dentro de protocolos usuais de saúde pública, através da fórmula da Pfizer/BioNTech, aprovada na última quarta-feira. Idosos, funcionários e residentes de asilos e profissionais de saúde que atuam na linha de frente da pandemia devem ser os primeiros contemplados.

Além da magnitude simbólica do processo na linha cronológica da pandemia, que já soma 1,5 milhão de mortos e 67 milhões de infectados pelo novo coronavírus, o “case” britânico será acompanhado com lupa por todo o planeta pela complexidade da operação. A vacina da Pfizer/BioNTech, por exemplo, depende de armazenamento a -70°C, o que exige freezers especiais e um transporte meticuloso.

Além disso, o papel do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) reflete o primeiro grande teste de um sistema público — a logística exigida pelos critérios técnicos do imunizante é um desafio até mesmo para o Reino Unido — em um país de quase 70 milhões de habitantes.

Por isso, a tão esperada imunização da população deverá demorar meses, como alertou o governo do Reino Unido na semana passada. A etapa que começa hoje incluirá apenas pessoas de alto risco de contrair a forma grave da Covid-19 em uma lista de prioridades.

O ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, disse esperar que a vida volte ao normal a partir da primavera do ano que vem (entre março e junho, na Inglaterra). “Como conseguimos colocar este programa de vacinação em execução mais cedo do que em qualquer outro lugar do mundo, poderemos adiantar um pouco essa data. Tenho grandes esperanças para o verão de 2021 e espero que possamos suspender as restrições a partir da primavera”, Disse Hancock à BBC.

O Brasil ainda não firmou acordos com a Pfizer. Na última quarta-feira, a companhia alertou que a janela temporal para fechar negócio com o governo brasileiro estava se fechando por conta da demanda global pelo imunizante e deu um prazo de uma semana, a expirar no próximo dia 9.

O Ministério da Saúde deu a entender na terça-feira passada (1) que a fórmula da empresa estava em desvantagem nos critérios brasilerios por depender de temperaturas baixíssimas, garantidas apenas por equipamentos raros no país.

Quem será priorizado na primeira fase?

Moradores e funcionários de asilos, idosos de mais de 80 anos e profissionais de saúde que atuam na linha de frente da Covid-19 estão no nível de prioridade máxima da primeira fase. Posteriormente, ainda na etapa inicial, serão contemplados cidadãos em escala decrescente de idade até os 50 anos. Serão inclusos também aqueles entre 16 e 64 anos com comorbidades que representem “alto risco” de mortalidade pela doença. Quem tiver até 49 anos dependerá das próximas fases.

Por razões logísticas, quem se enquadrar no grupo priorizado e der entrada em um hospital ou receber alta médica será imunizado pelo NHS.

Não será possível vacinar-se voluntariamente neste primeiro momento; os cidadãos priorizados serão designados e agendados pelo próprio NHS, minimizando os impactos sanitários de uma correria aos hospitais. No caso de funcionários de asilos, caberá às instituições inclui-los no rol de imunizados.

Espera-se que a rainha Elizabeth II, de 94 anos, e seu marido, o príncipe Philip, de 99, estejam entre os primeiros vacinados no Reino Unido. Segundo especulado pela imprensa britânica, a expectativa do Palácio de Buckingham é que a adesão da monarca incentive a população a vacinar-se.

Autoridades britânicas afirmaram, ainda, que equipes do NHS devem receber as primeiras doses por razões “pragmáticas”. Dadas as condições de armazenamento da vacina, as instalações hospitalares favoreceriam a imunização destes grupos.

Como funciona a vacinação?

A fórmula da Pfizer/BioNTech foi desenhada para ser aplicada em duas doses com um intervalo de 21 dias. Assim, quem for vacinado neste mês deverá voltar em três semanas para receber ser novamente inoculado. Esse é mais um motivo pelo qual a operação é vista como complexa pelas autoridades e por especialistas. É preciso assegurar que cada britânico imunizado receba a segunda dose. Sem ela, a proteção contra a Covid-19 não é garantida.

Onde as pessoas poderão se vacinar?

Na Inglaterra, a primeira fase da operação será concentrada em 50 hospitais. Instalações na Escócia, Irlanda do Norte e no País de Gales, as outras três nações que compõem o Reino Unido, também receberão doses nessa etapa inicial.

Posteriormente, o governo britânico criará mais de mil centros de vacinação, desde ambulatórios até centros de convenção e estádios esportivos adaptados. Serão incluídos, ainda, centros de atenção primária no NHS e farmácias na fase de universalização da vacina dentro do país.

Quantas doses serão aplicadas na primeira fase?

O Reino Unido encomendou 40 milhões de doses da vacina da Pfizer durante a fase de testes clínicos. Como o produto exige duas doses, 20 milhões de britânicos serão contemplados, mas o governo conta com a aprovação de outros imunizantes desenvolvidos pelo mundo, inclusive em território britânico, a exemplo da fórmula da AstraZeneca/Universidade de Oxford.

A Pfizer entregará efetivamente 800 mil doses nesta primeira semana. A quantidade é suficiente para vacinar 400 mil britânicos ao longo dos próximos meses.

Por que a logística é complexa?

Os frascos devem ser mantidos entre -80°C e -70°C. Os dispositivos capazes de armazená-los não estão disponíveis em larga escala como refrigeradores comuns, mantidos a temperaturas entre 2°C e 8°C. Nestes equipamentos mais simples, o imunizante não dura mais do que cinco dias.

Cada refrigerador utilizado na entrega da vacina comporta 975 doses divididas em cinco pacotes e é limitado a quatro transportes a partir da fábrica. O processo de descongelamento demora horas, o que exigirá planejamento por parte dos centros de imunização.

Além disso, a divisão dessas dosagens depende de uma regulação especial por parte do governo que poderia facilitar, por exemplo, o envio de imunizantes diretamente para as casas de repouso.

Quando os trabalhos serão concluídos?

O chefe do NHS, Simon Stevens, estima que a primeira fase voltada para o grupo de risco será concluída até março de 2021. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou na semana passada que espera um retorno “à vida normal” no país com a vacinação da população até o fim de junho de 2021, mas o cálculo depende da autorização de outras vacinas pela reguladora do país.