Rolls Royce faz acordo de leniência de R$ 2,6 bilhões
Empresa assumiu que se envolveu em esquemas de pagamentos de propinas e de corrupção em diferentes mercados internacionais
A empresa britânica Rolls-Royce anunciou nesta segunda-feira (16), em comunicado oficial, que fechou acordos de leniência com as autoridades da Inglaterra, dos Estados Unidos e do Brasil, por ter se envolvido em esquemas de pagamentos de propinas e de corrupção em diferentes mercados internacionais. O acordo total será de 671 milhões de libras esterlinas, o equivalente a cerca de R$ 2,6 bilhões. O Brasil ficará com uma parte deste montante, cerca de R$ 81 milhões.
O acordo deve ser oficialmente anunciado nesta terça-feira (17) pelas autoridades, com detalhes do envolvimento da fabricante de equipamentos em esquemas de corrupção pelo mundo. A companhia faturou 13,5 bilhões de libras esterlinas em 2015, ou cerca de R$ 52 bilhões, e fabrica desde carros de luxo a equipamentos de aviação, defesa aeroespacial, marina, nuclear e energia.
De acordo com o jornal britânico “The Guardian”, a empresa teria se envolvido em esquemas de corrupção em ao menos 12 países. “Esses acordos estão relacionados a suborno e corrupção envolvendo intermediários em diversos mercados no exterior, processo que a Rolls-Royce informou ao SFO (Serious Fraud Office) de 2012 em diante”, afirmou a empresa no comunicado desta Segunda.
No Brasil, o nome da Rolls-Royce surgiu pela primeira vez nas investigações da Operação Lava Jato há quase dois anos, quando o ex-gerente da Diretoria de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco citou a companhia em sua delação premiada. De acordo com Barusco a empresa teria pago propina para garantir o fornecimento de turbinas de geração de energia para plataformas de petróleo da estatal brasileira. O contrato foi de US$ 100 milhões e Barusco faturou US$ 200 mil na ocasião, segundo seu relato. O ex-gerente disse, no entanto, não se lembrar quem mais teria recebido recursos da Rolls-Royce.
A delação de Barusco levou à apuração do envolvimento do empresário Luis Eduardo Campos Barbosa da Silva, que foi apontado pela Polícia Federal como sendo operador da SBM Offshore, Rolls-Royce e Alusa, todas empresas fornecedoras da Petrobrás, no esquema.
O executivo era sócio do representante da SBM, Julio Faerman, na empresa Oildrive Consultoria em Energia e Petróleo e ex-funcionário da Asea Brown Boveri (ABB). Os dois, de acordo com as investigações, eram conhecidos como “Batman” e “Robin” e ambos fizeram delação premiada. À Polícia Federal, Silva disse que a Oildrive prestou consultoria em favor da Rolls-Royce e que os serviços foram efetivamente prestados.
Venezuela
Outra investigação envolvendo a Rolls-Royce que veio a público diz respeito à suspeita de pagamentos de propinas à estatal venezuelana Petróleos Venezuela (PDVSA). A Justiça americana suspeita de que um esquema de corrupção no país possa ter desviado cerca de US$ 11 bilhões.
A empresa não deu detalhes sobre os casos em que esteve envolvida. Foram divulgados apenas os valores que devem ser pagos. Segundo o comunicado da companhia, além dos R$ 80 milhões ao Brasil, o valor acertado com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos foi de US$ 170 milhões, ou cerca de R$ 550 milhões.
A maior parte do valor, cerca de 500 milhões de libras esterlinas, ou quase R$ 2 bilhões, está relacionada ao acordo firmado pela companhia com a UK Serious Fraud Office, órgão antifraude do governo britânico.
Outras empresas
Este é o terceiro acordo em cerca de um mês que é firmado pelas autoridades americanas e que envolvem as investigações da Operação Lava Jato. Em dezembro, Odebrecht e Braskem também anunciaram acordo de leniência, que envolve o pagamento de cerca de R$ 6,7 bilhões.
De acordo com advogados que atuam nos Estados Unidos, existe uma certa pressa do Departamento de Justiça americano em fechar algumas negociações em função da mudança de presidente no país.
Nesta sexta-feira (20), Donald Trump assume e existe a expectativa de que haja uma mudança nas diretrizes de atuação do órgão. Trump chegou a declarar durante as eleições que a lei anticorrupção americana era severa demais com as empresas.