Rússia anuncia que vacina contra a Covid-19 será registrada na próxima semana
Imunizante seria o primeiro homologado no mundo contra o coronavírus; curto prazo de testes e falta de dados preocupam cientistas
O vice-ministro de Saúde da Rússia, Oleg Gridnev, anunciou que o governo registrará a primeira vacina do país contra a Covid-19 na próxima semana, no dia 12. A fórmula é desenvolvida pelo laboratório Nikolai Gamaleia em parceria com o Ministério da Defesa. A federação já havia anunciado na última semana que começará uma campanha de vacinação em massa com o imunizante no mês de outubro. A promessa, no entanto, é encarada com ceticismo por especialistas.
As informações foram divulgadas pela agência estatal Sputnik. Durante o anúncio a jornalistas, Gridnev ressaltou a importância dos ensaios clínicos e informou que, no caso da vacina desenvolvida pelo Nikolai Gamaleia, os testes já estão na terceira e última fase. O vice-ministro disse, ainda, que a eficácia da vacina “será avaliada quando a população tiver desenvolvido uma imunidade (contra o coronavírus Sars-CoV-2). Na primeira etapa da vacinação, médicos e idosos terão prioridade.
O Ministério da Saúde da Rússia afirmou, por meio de nota, que a decisão pelo registro da vacina será baseada nos resultados apresentados a especialistas, sem detalhar o órgão responsável pela análise. O país é o quarto mais afetado pela Covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, do Brasil e da Índia, com mais de 875 mil casos e 14 mil mortes.
Incertezas
Ao redor do mundo, a comunidade científica tem manifestado preocupação quanto à segurança do imunizante, que só pode ser assegurada por meio de um cronograma rígido, e às possíveis barreiras éticas da eventual campanha de vacinação em massa sem evidências de que a fórmula é segura e eficaz contra a Covid-19. A Rússia não divulgou estudos nem detalhes que sirvam como base para as promessas em torno da vacina.
O governo russo informa apenas que os testes do laboratório Nikolai Gamaleia começaram em 18 de junho e contemplaram apenas 38 voluntários no primeiro estágio dos ensaios em humanos. Todos teriam desenvolvido imunidade contra o Sars-CoV-2, segundo o instituto.
Na última terça-feira, indagado sobre a velocidade inusual dos testes russos, o porta-voz da OMS Christian Lindmeier disse que entre há uma “grande diferença” entre encontrar resultados promisores e garantir a segurança e a eficácia de um imunizante.
— Qualquer vacina e qualquer medicamento para esse fim deve, é claro, ser submetido a todos os diferentes ensaios e testes antes de ser homologado — declarou o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, quando questionado sobre o anúncio russo durante uma coletiva de imprensa virtual. — Existem linhas diretrizes e diretrizes claras, regulamentos que servem para fazer com que as coisas avancem de maneira segura e eficaz.
Ontem, quando questionado sobre a promessa russa de uma vacinação em massa a partir de outubro, o diretor-executivo do programa de emergências em saúde da OMS, Michael Ryan, disse em uma coletiva de imprensa que é preciso ter cautela quanto às questões éticas envolvidas no processo de pesquisa por uma vacina: