Pelo menos sete navios pegaram fogo no porto de Bushehr, no Sul do Irã, de acordo com informações da agência de notícias iraniana Tasnim nesta quarta-feira, no que parece ser o mais recente de uma série de incidentes inexplicados que vêm ocorrendo desde junho. Não houve mortos, segundo a agência.
O caso desta quarta-feira se junta a outros registrados nas últimas semanas em locais como subestações de energia, usinas e, nos casos mais importantes, em uma base militar e na instalação nuclear de Natanz. Essa série de episódios alimenta a crescente tese de que o país está sendo alvo de atos deliberados de sabotagem. O último ocorreu na madrugada de sexta-feira, quando uma misteriosa explosão foi ouvida por moradores dos subúrbios de Teerã. Não se sabe, no entanto, nem a origem e nem se de fato houve uma explosão.
A sequência desses episódios começou em 26 de junho, perto da base militar de Parchin. Segundo o governo, houve uma explosão em um tanque de armazenamento de gás, localizado em uma área próxima, provocado por um acidente. Dias depois, usando imagens de satélite, o New York Times mostrou que a explosão ocorreu na base adjacente de Khojir, onde são produzidos mísseis de longo alcance.
No dia 2 de julho, um incêndio atingiu um galpão relacionado à fabricação de centrífugas de enriquecimento de urânio na instalação nuclear de Natanz.
Como no incidente de Khojir, imagens do local foram divulgadas, mas as causas permanecem uma incógnita. A Organização de Energia Nuclear do Irã disse que as divulgará em uma “data adequada”, mas que o incêndio provocou “estragos significativos” e que deve atrasar o desenvolvimento do programa nuclear do país.
Imagens de satélite obtidas pelo centro de estudos Instituto pela Ciência e Segurança Internacional, publicadas pelo Financial Times, mostram uma grande cratera, além do telhado destruído do galpão. Segundo analistas, o local era usado para fazer a calibragem final das centrífugas antes que entrassem em operação — não havia material radioativo. Como tantas instalações estratégicas no Irã, Natanz tem boa parte de suas construções debaixo da terra, uma forma encontrada para evitar monitoramento externo e, eventualmente, ataques militares.
Além dos incidentes em Natanz e Khojir, houve um grande incêndio em Shiraz, no dia 3 de julho, uma explosão em uma usina elétrica em Ahwaz e um vazamento de gás cloro em uma fábrica de produtos químicos em Mahshahr.
— Poderia ser uma coincidência total o fato de uma onda de explosões e incêndios em um curto período de tempo. Mas dado o fato que muitas ocorreram em instalações militares e nucleares, existe a percepção de que pelo menos alguns estejam relacionados — afirmou, Dalia Dassa Kaye, diretora do Centro de Políticas para o Oriente Médio da Corporação Rand.
Caso se confirme que foi mesmo sabotagem, como chegaram a sugerir alguns artigos publicados na própria imprensa iraniana, restaria saber quem é o responsável. Apesar de um obscuro grupo de oposição ter assumido a culpa, em mensagens publicadas no Telegram, analistas são quase unânimes em apontar para Israel.
Num artigo no início deste mês de julho, a agência de notícias estatal Irna mencionou a possibilidade de sabotagem por inimigos como EUA e Israel, man não chegou a fazer uma acusação direta.
Impacto na imagem
Além de teorias e especulações, o que se tem de concreto é o impacto negativo das explosões no público iraniano, já insatisfeito com a gestão do governo na pandemia do novo coronavírus e com a grave situação econômica, considerada crítica mesmo antes da Covid-19.
Caso Israel esteja mesmo por trás dos incidentes, o objetivo pode estar além de atacar o programa nuclear do país. Em um podcast, reproduzido pelo Jerusalem Post, Raz Zimmt especialista em Irã no Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Israel, afirmou que as explosões estão provocando efeito no público iraniano, com críticas se intensificando contra as autoridades.
— Os dedos estão apontados para o regime, que não dá segurança aos seus cidadãos — afirmou Raz Zimmt.
Nesse caso, o próprio regime pode estar preparando seu “culpado” para a crise: esta semana, vários deputados defenderam que o presidente Hassan Rouhani seja questionado pelo Parlamento, em um movimento que pode levar ao impeachment do líder reformista. No entanto, pelo menos dez parlamentares do grupo deram um passo atrás nesta quarta, após o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, manifestar apoio ao governo.