CORONAVÍRUS

Tensão nos mercados deve chegar à Bolsa brasileira na quarta de Cinzas

A Bolsa brasileira tende a voltar da pausa de Carnaval em forte queda nesta quarta…

A Bolsa brasileira tende a voltar da pausa de Carnaval em forte queda nesta quarta (26), quando reabre às 13h, depois de dois dias de elevada tensão e desvalorizações acentuadas nos mercados internacionais em razão das preocupações com o avanço do coronavírus. A divulgação, na noite desta terça-feira (25), do primeiro caso de suspeita concreta de covid-19 no Brasil, de um homem que veio da Itália, deve complicar o cenário.

Desde segunda (24), enquanto as negociações brasileiras permaneceram paralisadas, o fundo de índice (ETF) que replica o Ibovespa em dólar (iShares MSCI Brazil) recuou 6,4% na Bolsa de Nova York. “A tendência é que o Ibovespa caia também. Os dois índices andam, em tese, juntos. Tudo indica que a queda do Ibovespa vai ser bem pesada”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton.

Os recibos de ações (ADRs) de Petrobras e Vale negociados em Nova York caíram 8,8% e 10%, respectivamente, desde segunda. Os ADRs da Gerdau acumulam queda de 8,6%, e os do Bradesco, de 5%. Como o índice de Ibovespa em Nova York e os papéis das empresas brasileiras são negociados em dólar, a queda do mercado brasileiro pode ser ainda mais acentuada nesta quarta, por incorporar eventual alta da moeda americana.

Nesta terça, porém, o índice DXY, que mede a força internacional do dólar, caiu 0,4%. A moeda fechou a sexta, véspera de Carnaval, a R$ 4,394. A desvalorização do dólar nesta terça reflete a aposta de investidores em cortes na taxa de juros americana. O mercado precifica uma chance de 50% de um corte de 0,25 ponto percentual no início de abril e mais de 0,50 ponto percentual até o fim do ano. Os cortes seriam uma maneira de estimular a economia, que deve ser impactada pelo coronavírus.

Nesta terça, foram identificados casos na Suíça, na Áustria, na Croácia e na Espanha. O caso suíço é de um homem que esteve recentemente em Milão. Na segunda, as principais Bolsas globais tiveram fortes quedas com o surgimento de novos surtos de da doença em países fora da China, especialmente na Itália.

Nesta terça, os mercados seguiram em queda depois que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) alertou que americanos devem começar se preparar para a disseminação do vírus. O índice Dow Jones caiu 3% e foi ao menor patamar desde outubro de 2019, com os dois piores pregões seguidos desde 2018. S&P 500 e Nasdaq foram aos menores valores desde dezembro, com queda de 3% e 2,7%, respectivamente.

O rendimento do título do Tesouro americano de dez anos caiu ao menor já registrado, a 1,354% ao ano. Com aversão a risco, investidores vendem ativos mais arriscados, como ações, e buscam produtos mais seguros, como títulos do Tesouro. O movimento em manada faz os índices acionários despencar e os papéis de renda fixa ficar mais caros, o que reduz o seu rendimento.

O Stoxx 50, índice que reúne as ações das maiores empresas da Europa, caiu 2% nesta terça após recuar 4% na segunda, quando os principais índices europeus registraram a maior queda desde 2016, e o ouro, ativo de segurança, fora ao maior preço desde 2013.

“Pela primeira vez em algum tempo, finalmente estamos acordando para o fato de que esse problema pode continuar por um período e ter um impacto significativo no crescimento econômico chinês e global e potencialmente nos EUA”, diz Randy Frederick, vice-presidente de negociação e derivativos da Charles Schwab Corporation.

Até então, investidores vinham reagindo de forma relativamente cautelosa sobre os potenciais danos do coronavírus na economia global. A chegada da doença ao norte da Itália, no entanto, reacendeu as preocupações. Já são 11 mortes no país e 320 pessoas infectadas. Além disso, as principais regiões atingidas são o norte e o nordeste do país, áreas que compõem um importante polo industrial da Europa, ao sul da Suíça, da Áustria e da Alemanha.

O petróleo continua a cair, reflexo de potencial redução de demanda por combustíveis à medida que a economia global desacelere para conter novos surtos. O barril de Brent recuou 2,3% para US$ 55, e o WTI, 3%, para US$ 49,90.