DESIGUALDADE

Educação dos mais pobres dispara, mas crise econômica destrói renda

Em dez anos, esforço da classe baixa não foi recompensado e miséria aumentou

Goiás gastou quase 5% a menos com educação que o mínimo estabelecido no primeiro semestre (Foto: Divulgação - Seduc)

Atingida ao seu final pela pandemia do coronavírus, a pior década de que se tem registro na história econômica brasileira interrompeu longa trajetória de redução da miséria e expôs a armadilha que mantém o Brasil pobre e desigual.

Diante de mais pobreza extrema e fome, especialistas apontam saídas possíveis, que deveriam estar combinadas a um plano duradouro de equilíbrio das contas públicas —base para o crescimento sustentável e o aumento da renda.

Nos últimos dez anos, apesar de um expressivo aumento de 27% nos anos de estudo (de 6,4 para 8,1) da população na metade mais pobre, a renda do trabalho dessa parcela despencou 26,2%.

O paradoxo explicita a centralidade do crescimento econômico na redução da pobreza, já que a educação é apontada como a principal mola para o aumento individual da renda.

Com evolução menor na escolaridade, os 50% mais ricos mantiveram seus rendimentos inalterados ou ganharam mais, segundo dados do FGV Social com base na PnadC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

“Essa é a consequência de um país que não cresce e não cria oportunidades. Embora exista tendência de aumento da escolaridade entre os mais pobres, ela não se refletiu no mercado de trabalho”, afirma Marcelo Neri, diretor do FGV Social. “Para piorar, com a pandemia os pobres acabaram ficando mais longe de aulas presenciais ou remotas na comparação com os mais ricos.”