Influência

‘Efeito Bolsonaro’ em alta de casos de coronavírus surpreende pesquisadores

Estudo mostra que coronavírus causa mais estragos nos municípios mais favoráveis ao presidente

Bolsonaro mostra caixa de cloroquina para apoiadores em Bagé (Foto: Reprodução Patrick Correa / RBS TV)

Estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) realizado em parceria como IRD (Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento) identifica o que chama de “efeito Bolsonaro” na propagação da pandemia do coronavírus no Brasil.

O levantamento, que considerou uma série de dados de todos os municípios no país, cruzou as informações sobre a expansão da doença com o resultado na votação em primeiro turno nas eleições presidenciais nos 5.570 municípios. Conclusão: há uma correlação entre a preferência pelo presidente Jair Bolsonaro e a expansão da Covid-19.

Segundo a pesquisa, para cada 10 pontos percentuais a mais de votos para Bolsonaro há um acréscimo de 11% no número de casos e de 12% no número de mortos.

“O estudo mostrou que a Covid-19 causa mais estragos nos municípios mais favoráveis ao presidente Bolsonaro”, destaca o texto da pesquisa.

“Podemos pensar que o discurso ambíguo do presidente induz seus partidários a adotarem com mais frequência comportamentos de risco (menos respeito às instruções de confinamento e uso da máscara) e a sofrer as consequências.”

De acordo com os pesquisadores, esse foi o efeito que mais chamou a atenção, pois, em princípio, não haveria razão para explicar o motivo de cidades que votaram mais em Bolsonaro terem proporcionalmente mais mortes do que nos outros locais estudados.

“A argumentação que usamos no nosso artigo é que provavelmente trata-se de um efeito da própria postura do presidente, que minimizou o uso de máscara e a doença, chamando-a de gripezinha”, disse o professor João Luiz Maurity Sabóia, outro pesquisador envolvido no estudo.

A influência de Bolsonaro sobre o comportamento de seus eleitores, apurada neste estudo em particular, vai ao encontro do resultado obtido por outras instituições.

É o caso de um trabalho feito por pesquisadores da UFABC (Universidade Federal do ABC), da Fundação Getúlio Vargas e da USP (Universidade de São Paulo).

Esse estudo concluiu que em praticamente todas as ocasiões em que o presidente minimizou a pandemia, a taxa de isolamento social no Brasil diminuiu —e mais pessoas se contaminaram e morreram, proporcionalmente, nos municípios em que Bolsonaro obteve uma melhor votação na eleição de 2018.