‘Ele achava que estava no sítio dele quando foi baleado’, diz advogada da família do ‘hipster da Federal’
Lucas Valença saiu para caminhar à noite e não achou o caminho de volta para a sua chácara, segundo os parentes
O agente da Polícia Federal Lucas Soares Dantas Valença, mais conhecido como o “hipster da Federal“, de 36 anos, estava perambulando pelas redondezas de Buritinópolis, no interior de Goiás, quando teve um surto psicótico, tentou invadir a chácara de um vizinho achando que era a dele próprio e foi morto com um tiro pelo dono da casa. Esta foi a versão apresentada pela advogada da família de Valença, Sindd Lopes, para explicar o incidente ocorrido na madrugada desta quarta-feira.
Segundo ela, Valença estaria sofrendo de uma depressão profunda e fazendo tratamento com um terapeuta desde o início da pandemia de Covid-19. A suspeita é de que ele sofria de bipolaridade, mas não o diagnóstico ainda não saiu. O surto — “o primeiro que ele teve”, disse a advogada — teria acontecido quando ele decidiu fazer uma caminhada noturna pela região, sozinho, desarmado e sem celular, cujo sinal não pega direito na área rural. E não encontrou mais o caminho de volta para a chácara.
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“A família foi totalmente pega de surpresa. Não entendemos que houve um assassinato e, sim, legítima defesa. Mas ele não arrombou a casa. Ele achava que aquele era o rancho dele. Por isso, tentou entrar na residência. Estava perdido e em surto”, contou a advogada, que passou a ajudar os familiares devido à repercussão do incidente.
Segundo Sindd, Lucas conhecia o vizinho que o matou e não tinha nenhuma inimizade com ele. A família tem um terreno na região desde que o agente era pequeno. Era, inclusive, um dos seus lugares favoritos, onde cultivava — e colecionava — plantas bonsai. Valença também utilizava o “rancho”, como os parentes chamam a residência, para abrigar cães abandonados que ele achava na rua e depois encaminhava à adoção.
“Ele ajudava financeiramente várias ONGs de animais. Era uma pessoa amorosa e sensível. E estava num momento de se cuidar. Não bebia, não fumava e era vegetariano. Estava totalmente adepto à ioga e à meditação. E era muito conectado à natureza. Ele ia quase todo fim de semana para a chácara”, disse a defensora.
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Formado em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Goiás, Valença ingressou na Polícia Federal por meio de concurso em 2013 e integrava o Comando de Operações Táticas. Na corporação, ele chegou a fazer a escolta de presos da Operação Lava Jato — a que lhe rendeu a fama e o apelido foi a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha em 2016.
Valença morava com a família em Brasília. O pai biológico dele morreu num acidente de carro, quando ele ainda era bebê. O agente da PF foi criado pela mãe e o padrasto, que são bastante religiosos e estão muito abalados com o ocorrido.
A advogada afirmou que a família não pretende entrar com queixa contra o vizinho por entender que ele agiu em legítima defesa.
“Foi questão de doença mesmo”, frisou ela.
A Polícia Civil de Goiás vai abrir um inquérito para apurar se o dono da casa realmente agiu para proteger a si mesmo e a sua família.
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“Segundo relatos do autor, ele estava em sua casa com sua filha de 3 anos e sua esposa, quando começou a ouvir gritos do lado de fora, dizendo: “Saiam todos de casa, senão vou entrar e matar”. Neste momento, temendo por sua vida e de sua família, ele narra que pegou sua arma de pressão modificada para calibre 22. A vítima, então, desligou o padrão de energia e arrebentou a fechadura da porta. Nesse momento, o autor disse: “Não entre, estou armado”. E, segundo ele, mesmo assim ele entrou e foi para cima do autor, que desferiu um único tiro”, conta o delegado Adriano Jaime, responsável pelo caso.
O autor do disparou chegou a ser preso em flagrante por posse ilegal de arma, mas foi liberado após o pagamento de fiança.
Procurada, a Polícia Federal informou que acompanha as investigações e que não divulga informações pessoais e funcionais de servidores.