‘Ele achava que estava no sítio dele quando foi baleado’, diz advogada da família do ‘hipster da Federal’
O agente da Polícia Federal Lucas Soares Dantas Valença, mais conhecido como o “hipster da…
O agente da Polícia Federal Lucas Soares Dantas Valença, mais conhecido como o “hipster da Federal“, de 36 anos, estava perambulando pelas redondezas de Buritinópolis, no interior de Goiás, quando teve um surto psicótico, tentou invadir a chácara de um vizinho achando que era a dele próprio e foi morto com um tiro pelo dono da casa. Esta foi a versão apresentada pela advogada da família de Valença, Sindd Lopes, para explicar o incidente ocorrido na madrugada desta quarta-feira.
Segundo ela, Valença estaria sofrendo de uma depressão profunda e fazendo tratamento com um terapeuta desde o início da pandemia de Covid-19. A suspeita é de que ele sofria de bipolaridade, mas não o diagnóstico ainda não saiu. O surto — “o primeiro que ele teve”, disse a advogada — teria acontecido quando ele decidiu fazer uma caminhada noturna pela região, sozinho, desarmado e sem celular, cujo sinal não pega direito na área rural. E não encontrou mais o caminho de volta para a chácara.
++ Saiba quem é o ‘hipster da federal’ morto em Goiás que virou sensação em 2016
“A família foi totalmente pega de surpresa. Não entendemos que houve um assassinato e, sim, legítima defesa. Mas ele não arrombou a casa. Ele achava que aquele era o rancho dele. Por isso, tentou entrar na residência. Estava perdido e em surto”, contou a advogada, que passou a ajudar os familiares devido à repercussão do incidente.
Segundo Sindd, Lucas conhecia o vizinho que o matou e não tinha nenhuma inimizade com ele. A família tem um terreno na região desde que o agente era pequeno. Era, inclusive, um dos seus lugares favoritos, onde cultivava — e colecionava — plantas bonsai. Valença também utilizava o “rancho”, como os parentes chamam a residência, para abrigar cães abandonados que ele achava na rua e depois encaminhava à adoção.
“Ele ajudava financeiramente várias ONGs de animais. Era uma pessoa amorosa e sensível. E estava num momento de se cuidar. Não bebia, não fumava e era vegetariano. Estava totalmente adepto à ioga e à meditação. E era muito conectado à natureza. Ele ia quase todo fim de semana para a chácara”, disse a defensora.
++ IML de Posse (GO) libera corpo do “Hipster da Federal”
Formado em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Goiás, Valença ingressou na Polícia Federal por meio de concurso em 2013 e integrava o Comando de Operações Táticas. Na corporação, ele chegou a fazer a escolta de presos da Operação Lava Jato — a que lhe rendeu a fama e o apelido foi a do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha em 2016.
Valença morava com a família em Brasília. O pai biológico dele morreu num acidente de carro, quando ele ainda era bebê. O agente da PF foi criado pela mãe e o padrasto, que são bastante religiosos e estão muito abalados com o ocorrido.
A advogada afirmou que a família não pretende entrar com queixa contra o vizinho por entender que ele agiu em legítima defesa.
“Foi questão de doença mesmo”, frisou ela.
A Polícia Civil de Goiás vai abrir um inquérito para apurar se o dono da casa realmente agiu para proteger a si mesmo e a sua família.
++ Autor do tiro que matou “hipster da Federal” responderá por posse ilegal de arma
“Segundo relatos do autor, ele estava em sua casa com sua filha de 3 anos e sua esposa, quando começou a ouvir gritos do lado de fora, dizendo: “Saiam todos de casa, senão vou entrar e matar”. Neste momento, temendo por sua vida e de sua família, ele narra que pegou sua arma de pressão modificada para calibre 22. A vítima, então, desligou o padrão de energia e arrebentou a fechadura da porta. Nesse momento, o autor disse: “Não entre, estou armado”. E, segundo ele, mesmo assim ele entrou e foi para cima do autor, que desferiu um único tiro”, conta o delegado Adriano Jaime, responsável pelo caso.
O autor do disparou chegou a ser preso em flagrante por posse ilegal de arma, mas foi liberado após o pagamento de fiança.
Procurada, a Polícia Federal informou que acompanha as investigações e que não divulga informações pessoais e funcionais de servidores.