Em apenas dois meses, cerca de 80 cargas foram roubadas em rodovias goianas
Delegado especializado aponta que houve redução em relação ao ano passado, mas ainda é grande o número de casos em Goiás
A malha rodoviária é a principal modalidade utilizada para o transporte de cargas em todo o país. Em Goiás, segundo aponta pesquisa do Instituto Mauro Borges (IMB), estima-se um total de 27.904 quilômetros de rodovias em todo o estado. No processo entre levar o produto do distribuidor para o comprador e consumidor, muitas cargas são roubadas, sobretudo por associações criminosas.
Somente nos dois primeiros meses de 2018, 80 crimes dessa natureza foram contabilizados, mas apesar de um número significativo, a soma representa uma queda de 15% no roubo de cargas em Goiás se comparado ao mesmo período no ano anterior.
Dados cedidos pela Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar) dão conta que a média de roubos de cargas diariamente nas rodovias goianas entre janeiro e fevereiro de 2018 foi de 1,33, enquanto no mesmo período de 2017 chegou a 1,57. Não é possível, contudo, determinar os roubos de cargas saídas de Goiás e que aconteceram em outros estados. O Mais Goiás solicitou dados dos demais meses do ano junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP) e não obteve resposta.
O titular da Decar, Alex Vasconcelos, explica que os roubos de carga em Goiás possuem características semelhantes, geralmente, segundo o investigador, a atuação de quadrilhas tem ajuda dos próprios motoristas. “Nós temos observado um dado triste que é a participação dos motoristas nesse tipo de crime. O condutor é aliciado a entregar a carga e ficar com parte do lucro. Mas também tem aqueles que são abordados na rodovia que são ameaçados e acabam entregando o carregamento”, explica.
O caso mais recente aconteceu no último dia 30, quando quatro integrantes de uma quadrilha especializada em roubo de cargas de alimentos foram presos. Segundo Alex, um dos investigados era o condutor do caminhão que levantou suspeita da Polícia Civil ao simular um roubo de carga de suco, do qual era o motorista.
Um dos motoristas goianos que teve seu caso de roubo contabilizado foi o dono de uma transportadora de Aparecida de Goiânia, o empresário e também motorista José Lourenço – que conhece bem os perigos da estrada ao longo de seus 43 anos de profissão. Ele conta que há cerca de dois anos uma carga de palmito que estava transportando foi roubada na BR-153, próximo ao Trevo de Goiatuba, e apenas foi recuperada dias depois, com vários volumes faltando.
O susto foi tão grande que o funcionário de José que transportava a carga no dia do roubo acabou pedindo licença do serviço. Para o dono da transportadora, os roubos geram insegurança para quem contrata os serviços e para quem dirige, tornando o trabalho muito perigoso.
Está levando o que?
Em geral, as quadrilhas especializadas em roubo de cargas não se dividem por local de atuação, mas pelo tipo de cargas que costuma roubar. Essa especialização, como explica Alex, é consequência do destino dos itens roubados, já que antes mesmo do roubo há um comprador já definido.
José Lourenço passou por uma outra situação de roubo de cargas há menos de quatro meses em uma rodovia goiana. O motorista e seu ajudante foram rendidos por um assaltante enquanto um comparsa seguia o caminhão em um veículo de passeio. “Ele nos rendeu porque achou que a gente estava transportando gasolina”, disse.
De fato, os números cedidos pela Decar sugerem que as cargas mais cobiçadas são as de combustível. Em 2017, os combustíveis foram preferência em 19,17% dos casos, enquanto em 2018 essa porcentagem chegou a 3,75%. Como José Lourenço estava transportando uma carga de tampas de garrafa plásticas, por sorte, os assaltantes o deixaram ir sem prejuízos físicos e com o carregamento intacto.
Agravante
Quando se trata de áreas rurais a situação é ainda mais delicada. Apesar dos roubos de cargas não serem tão comuns, a consultora do setor jurídico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Rose Curado, relata que no campo, os roubos de animais e defensivos agrícolas também são comuns.
Segundo Alex, em muitas situações, as mesmas quadrilhas que roubam cargas são responsáveis por estes roubos no campo. Estes casos tem sido cada vez mais comuns, segundo Rose, que recebe relatos de agricultores e pecuaristas em busca de seguro para proteger suas propriedades.
*Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo e Alessandra Curado