Em casos isolados, sete policiais militares de Goiás foram mortos a tiros em 2018
Em Goiás, sete policiais foram mortos por arma de fogo só no ano de 2018.…
Em Goiás, sete policiais foram mortos por arma de fogo só no ano de 2018. Na maioria dos casos, a própria arma do policial está ligada à morte do agente público. Polícia Militar (PM) lida casos como isolados, mas reformula cursos periodicamente para exposição dessas situações durante formação de novos policiais ou aprovação de promoções. Dois assassinatos continuam sem resposta e a Polícia Civil evita dar detalhes das investigações.
Por motivações e situações distintas, todos os casos em que policiais goianos foram mortos foram provocados por arma de fogo. Além dos dois homicídios ainda sem solução, houve um latrocínio, uma morte em uma confusão em um bar, dois assassinatos seguidos de suicídio e, por fim, uma morte por engano, quando um sargento da PM foi morto pelo colega de farda, que o confundiu com um criminoso.
O Mais Goiás fez um levantamento dos casos ocorridos em 2018. Confira:
MÉDICO E TENENTE DA RESERVA (PM) – Era início da noite, no dia 12 de fevereiro. O tenente da reserva da Polícia Militar e médico ortopedista Antônio Carlos Castro, de 64 anos, procurava um endereço no Jardim Santo Antônio, em Goiânia, quando foi abordado por uma dupla de ladrões. Os bandidos, armados, deram um tiro no oficial que não portava arma, mas se assustou e acelerou o carro.
A vítima morreu no local e chegou a bater a picape Strada em um poste antes de morrer. Um homem foi preso pela Rotam e confessou participação. Os outros dois envolvidos não foram presos.
SOLDADO MORTO EM BRIGA DE BAR (PM) – Já era noite do dia 19 de maio quando o soldado Douglas Gonçalves Lins, de 48 anos, estava em um bar na Praça Central da cidade de Americano do Brasil, a 100 quilômetros de Goiânia. O militar teria se envolvido em uma briga e foi morto com a própria arma, com um tiro no pescoço. Ele chegou a disparar contra o autor, que foi socorrido e levado a um hospital da capital.
Lins trabalhava na 17ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) de Anicuns, e morava com a família em Americano do Brasil. Esposo de uma policial, o homem já chegou a responder processo disciplinar na corregedoria por vias de fato. A corregedoria não informou o que resultou o processo disciplinar. A Polícia Civil não apresentou resultado da investigação dos fatos.
‘MÃO DE ONÇA EXECUTADO’ (PM) – Noite do dia 31 de maio, Romão Amaral Gimenez, de 48 anos, soldado aposentado do Batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitana (Rotam) retornava para o apartamento que morava só, no Parque Amazônia, em Goiânia. Mais conhecido nas redes sociais pelo apelido ‘Mão de Onça’, o militar aposentado era linha dura e combativo contra a criminalidade. Ele não se furtava de deixar claro qual tipo de tratamento preferia aos criminosos. Gimenez atuava como segurança em um supermercado de Aparecida de Goiânia e foi morto por ocupantes de um carro branco.
Testemunhas contaram à polícia que Mão de Onça foi abordado pelos ocupantes do carro, que deram vários tiros contra ele, assim que o policial aposentado estava a poucos metros do condomínio que morava. Os tiros não teriam parado, segundo depoimentos, mesmo depois da vítima já estar jogada no chão. Os assassinos fugiram em seguida e foram gravados. A Delegacia Estadual de Investigação em Homicídios (DIH) investiga o caso e já tem linhas de investigação com suspeitos, mas para não atrapalhar o andamento das investigações, prefere não comentar o fato , que está em processo de apuração.
SOLDADO MORTO NA PORTA DE CASA (PM) – Noite do dia 19 de junho. O soldado Dennyo Edno Gonçalves dos Santos, de 45 anos, chegava em casa, na Rua 10 do Conjunto Riviera, em Goiânia, por volta de 20h30, em um Corsa, momento em que um HB20, de cor escura, se aproximou e efetuou pelo menos 15 vezes contra o militar. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado, mas foi constada a morte do policial antes do transporte.
Dennyo Edno estava lotado no Comando de Apoio Logístico e Tecnológico da PM. Uma equipe da DIH esteve no local e ouviu as testemunhas. Segundo as informações, o alvo dos criminosos seria o filho do PM, de 22 anos, que teria rixa com traficantes de drogas da região, e que foi ouvido na delegacia. Para que não atrapalhe as investigações, a Polícia Civil (PC) não divulga detalhes.
SOLDADO MORTO NA PORTA DE CASA (PM) – Era noite de um domingo, 14 de outubro. O sargento da Rotam Alessandro Rosa dos Santos, de 46 anos se matou após matar uma mulher com quem estava numa distribuidora de bebidas. O fato aconteceu na Avenida Araucária, no Jardim Bela Vista, próximo ao limite entre os municípios de Aparecida de Goiânia e a capital. A primeira informação foi de que a mulher que estava com ele, Josiene Rodrigues de Morais, 27, seria namorada do militar, mas isto foi descartado pelos familiares dele posteriormente.
A informação de testemunhas é de que os dois faziam ingestão de bebida alcoólica no local instantes antes do acontecido. Testemunhas disseram que não houve nenhum tipo de discussão antes de serem disparados os tiros. A PC, que faz toda a investigação, não dá detalhes sobre a apuração. A PM lamentou o fato, e informou, à época, que se tratava de uma situação isolada.
BRINCADEIRA DESTRÓI VIDAS (PM) – Era início da noite de 24 de outubro. O que teria sido uma brincadeira entre um soldado da PM e um amigo acabou em tragédia. O policial Flávio Farias de Oliveira, de 30 anos, estava conversando com conhecidos em frente um estabelecimento comercial, quando um disparo com a pistola matou o estudante Matheus Oliveira de Castro, de 20 anos. Após o fato, o militar também se matou com um tiro na cabeça.
O caso aconteceu na Avenida Planíce, no Vila Itatiaia, em Goiânia. Segundo relatos de testemunhas, o policial morreu na hora. O amigo dele chegou a ser socorrido, mas morreu no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage (Hugol). A Polícia Civil recebeu imagens de câmeras de monitoramento que revelam a sequência de fatos como relatados pelas testemunhas e o inquérito será arquivado.
POLICIAL MATA COLEGA POR ENGANO (PM) – Noite de domingo, 18 de novembro. O sargento Mackleyton Rodrigues Alves estava descaracterizado e perseguia a pé um suspeito armado com uma faca. Ele foi baleado e morto por um colega, que chegava em casa, no Setor Granja Cruzeiro do Sul, região Noroeste de Goiânia. De acordo com o registro do fato, o homem que era perseguido, também baleado, foi identificado como Daniel Henrique Venâncio e morreu antes de receber atendimento.
Autor dos tiros que mataram o sargento, o PM disse que estacionava o próprio carro na garagem de casa quando avistou dois homens que corriam armados. Em depoimento, ele contou que se identificou como policial e percebeu quando Macleyton teria se virado, com a arma em punho, antes que fossem disparados os tiros. O caso é investigado pela DIH, que não comenta a apuração antes que ela seja concluído.
EXEMPLOS EVITAM NOVOS CASOS
Chefe da Assessoria de Comunicação Social da Polícia Militar de Goiás (PM-5), o tenente-coronel Marcelo Granja informa que em todos os casos foram instaurados procedimentos disciplinares. Segundo ele, as situações ocorridas que terminal com policial vítima de um fato servem como estudo de caso para a formação de novos militares, na Academia da PM, ou até mesmo para os cursos de reciclagem — obrigatórios nas promoções de cargo ou patentes.
“A Polícia Militar tem uma grande preocupação para que nossos membros não se tornem vítimas, ainda mais com as próprias armas. Por isto mesmo são feitos constantes cursos de aperfeiçoamentos, com atualizações de protocolos a serem seguidos. No contexto de se saber sobre a saúde mental dos policiais, sempre que acontecem ocorrências envolvendo confronto, é de praxe que o militar envolvido passe pela avaliação psicológica”, cita Marcelo Granja. Para ele, a importância, para a corporação, é de que o policial não se torne vítima, já que, em relação a outros Estados, Goiás mantém baixa a mortalidade policial.