Em coletiva, força-tarefa do MP-GO fala sobre a denúncia contra João de Deus
A força-tarefa criada pelo Ministério Público de Goiás para acompanhar o caso João de Deus…
A força-tarefa criada pelo Ministério Público de Goiás para acompanhar o caso João de Deus concedeu uma entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (28), na sede do órgão. As duas promotoras de justiça presentes falaram sobre a denúncia apresentada ao Juiz da Comarca de Abadiânia contra o médium.
Gabriella de Queiroz Clementino e Paula Moraes de Matos explicaram que, nesta primeira denúncia, foram apresentados quatro crimes: dois de violação sexual mediante fraude e dois de estupro de vulnerável. Os dois primeiros teriam acontecido em atendimentos coletivos e os dois últimos em consultas individuais.
A força-tarefa não divulgou os dados das vítimas, por se tratar de uma investigação sigilosa e para garantir a privacidade das mesmas. Elas comunicaram que todos os crimes aconteceram entre os meses de abril e outubro de 2018. Foi revelado que pelo menos uma das vítimas não é do estado de Goiás.
19 mulheres
Foram registrados relatos de 19 mulheres. Além das quatro presentes da denúncia, outras 10 foram incluídas como testemunhas, uma vez que seus crimes já estavam prescritos (aconteceram a mais de 10 anos) ou em decadência (quando as vítimas não comunicam o delito ao poder público no prazo de seis meses). Os outros cinco casos ainda aguardam diligências do MP-GO para prosseguir.
Das 19 mulheres incluídas na denúncia, 12 procuraram a força-tarefa do MP-GO. As outras sete entraram em contato com a Polícia Civil. Dos 10 casos prescritos ou em decadência, o mais antigo é de 1975. Aconteceram crimes ainda nos anos de 1987, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2015 e 2018.
As promotoras comunicaram ainda que, se João de Deus for considerado culpado de todos os quatro crimes, as penas serão somadas e ele pode pegar até 42 anos de prisão.
Depoimentos sólidos
A promotora Gabriella afirmou que os depoimentos colhidos para a denúncia são bastante sólidos, pois existem uma série de elementos que comprovam a visita delas à Casa Inácio de Loyola. “As vítimas conseguiram provar que estavam lá no dia do acontecido. Além disso, existem testemunhas que acompanharam as mulheres até a casa. Não podemos passar muitos detalhes, mas são depoimentos sólidos”, afirmou.
Gabriella disse também que a investigação vai continuar, inclusive durante as festividades de final de ano. “Temos mais de 100 depoimentos colhidos, entre testemunhas e vítimas. Vamos trabalhar em revezamento durante o ano novo para que o trabalho continue”, concluiu. Ainda não há previsão para o fim da investigação ou para a apresentação de outra denúncia.
“Uma peça técnica, mas com alma”
As promotoras falaram ainda sobre como é trabalhar com as mulheres do caso. “Não posso negar que foi emocionante ouvir tantos relatos tomados de muita dor. Essa oportunidade [da vítima] ser ouvida, de quebrar o silêncio e de ter o seu relato escutado com credibilidade é despertador para a vida dessas mulheres. É um peso no ombro que sai dessa mulher depois de ter convivido com essa mancha por tanto tempo”, afirmou Gabriella.
“É um desafio que assumimos com responsabilidade e respeito, tanto pela crença de cada um, quanto pela dor das mulheres. É uma peça técnica, mas com muita alma”, concluiu.