BRASÍLIA

Em crítica ao Congresso, ministro do STF fala em ‘orgia legislativa’

Ministro Luiz Fux, do STF, disse em evento que muitas alterações de leis pode causar ambiente de insegurança jurídica

Congresso Nacional em rota de colisão com STF (Foto: Agência Brasil)

(Folhapress) O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), criticou nesta quinta-feira (12) o que chamou de “orgia legislativa” nas alterações de leis no país e disse que elas causam insegurança jurídica e podem afastar investidores.

“Se o profissional a cada dia tem quatro leis tributárias, ele tem que ter um conhecimento enciclopédico inimaginável, e isso efetivamente gera insegurança jurídica na elaboração do planejamento econômico-financeiro das empresas”, afirmou Fux.

A fala no evento STF em Ação, organizado pelo IEJA (Instituto de Estudos Jurídicos Aplicados), em Brasília, acontece em durante a crise que cria embates constantes entre o Supremo e o Poder Legislativo nos últimos anos.

Nas últimas semanas, o Supremo endureceu regras para a liberação das emendas, definindo novos critérios que devem ser adotados pelo Congresso Nacional e pelo governo Lula (PT) para a destinação do dinheiro.

As restrições impostas pelo STF fizeram aumentar a tensão entre os Poderes. A cúpula do Congresso acredita que os reveses no Supremo foram patrocinados pelo governo —e, como retaliação, ameaça não votar o pacote de corte de gastos capitaneado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Na terça (10), o governo editou uma portaria para retomar o pagamento das emendas parlamentares, mas sob as regras definidas pelo Supremo.

Em sua fala, Fux ainda disse que o Congresso “não quer pagar o preço das suas decisões e empurra tudo para o Supremo”. “O Supremo, segundo cláusula constitucional, é obrigado a decidir”, afirmou, dizendo ser a favor de que a corte devolva os temas para que deputados e senadores se debrucem sobre eles.

Um dos assuntos citados por Fux que não foram tratados pelo Congresso, é o da responsabilidade civil das plataformas. Ele é relator de uma das ações sobre o tema e votou para ampliar as hipóteses em que as plataformas podem ser condenadas por conteúdos de seus usuários.

Fux acompanhou o ministro Dias Toffoli, que tinha votado pela inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que prevê que as redes só podem ser condenadas a pagar indenizações por postagens de seus usuários após descumprir ordem judicial.

Após a fala de Fux, o ministro Alexandre de Moraes também palestrou no evento. Moraes voltou a defender a regulamentação de redes sociais e se manifestou sobre o que considera um “novo populismo extremista”.

Segundo ele, a grande diferença entre o populismo de extrema-direita dos anos 1940 e 1950 e o de hoje é que, atualmente, os populistas “aprenderam a corroer por dentro o sistema, aproveitando os desgostos, a desilusão, os temores e os traumas das pessoas”.

“Nós estamos, há décadas, com crescimento de um populismo extremista muito grande, um populismo principalmente de extrema-direita que aprendeu com os erros estratégicos do regime nazista, do regime fascista”, disse Moraes.

“Em vez de atacar o sistema, [o populismo] vem corroendo o sistema por dentro. Em vez de dizer que a democracia é ruim, [dizem] “não, a democracia é ótima, só que os instrumentos da democracia estão sendo fraudados”.

“Em vez de dizer que a mídia e a liberdade de imprensa é ruim, dizem que a mídia está deturpando a liberdade de expressão”, afirmou o ministro.