Em discurso repleto de palavrões, Bolsonaro ataca Lula e critica decisões do Judiciário
Na Associação Comercial de São Paulo, presidente atacou candidato petista: 'Você vai modificar o DNA da cobra, da sogra?'
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar, nesta sexta-feira, a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, sem mencionar diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF), criticou decisões do Poder Judiciário.
Bolsonaro falou durante 40 minutos em um discurso repleto de palavrões a uma plateia de empresários e executivos na Associação Comercial de São Paulo (ACSP). O presidente foi à entidade para inaugurar um auditório.
Bolsonaro não mencionou diretamente o STF, mas reiterou críticas à prisão do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que vê como um cerceamento à liberdade de expressão. Criticou, também sem ser claro, a operação da Polícia Federal que teve como alvos oito grandes empresários bolsonaristas supostamente envolvidos em conversas de WhatsApp que apoiariam um golpe de Estado caso Lula seja eleito.
— Falou besteira (o deputado Silveira), concordo. (…) Quando resolveram julgar o cara, deram (o STF) nove anos de cadeia, início em regime fechado. Nós estamos na Coreia do Norte ou em Cuba? Chegou no empresariado. Qual é a nossa reação a isso daí? — questionou Bolsonaro, que, na sequência, afirmou: — Estamos perdendo a nossa liberdade. O ditador tinha que ser eu, e não alguém que tem obrigação de defender a Constituição. E vocês sabem do que eu estou falando.
Bolsonaro sobre Lula: ‘ Você vai modificar o DNA da cobra, da sogra?’
Ao comentar os problemas que teve durante o mandato na relação com o Congresso, Bolsonaro criticou a fala do ex-presidente Lula ao Jornal Nacional, da TV Globo, de que conversaria com o Centrão em um eventual novo governo petista.
— Não é esse papinho de ontem: “vou conversar”. Não vai conversar porra (sic) nenhuma. Você acha que alguém ali está na praça para ser cantado para levar para a casa. Não é assim que funciona o negócio. A realidade é uma coisa bem diferente — disse Bolsonaro.
O presidente voltou a associar o rival petista ao que chama de fracassos de governos de esquerda na América do Sul. Criticou os governos da Argentina, do Chile, da Colômbia e da Venezuela.
— Vi o Lula falando ontem (no Jornal Nacional) “temos um novo MST”, você vai modificar o DNA da cobra, da sogra? (…) A gente não muda — disse Bolsonaro.
Sem citar Lula, o presidente também chamou de “conversa mole” o discurso do petista de que “vai todo o mundo comer picanha no fim de semana”, e disse que “não tem filé mignon para todo o mundo”.
Ao falar sobre nióbio, Bolsonaro criticou o ex-presidente Michel Temer (MDB) por supostamente ter vendido reservas de nióbio em Catalão (GO) a chineses, o que é falso.
Ao reiterar a importância de sua viagem à Rússia, feita em fevereiro deste ano, em meio às tensões do país com a Ucrânia, Bolsonaro voltou a dizer que conseguiu garantir o suprimento de fertilizantes ao Brasil e criticou o fato de que supostamente a maior parte de reservas brasileiras de fertilizantes estão em terras indígenas. Bolsonaro usou uma expressão racista:
— Se alguém acha que reserva indígena a negada (sic) fez para ajudar o índio, está de sacanagem, não conhece a raça de políticos no Brasil — disse Bolsonaro.
Bolsonaro reiterou seu discurso negacionista em relação à pandemia. Disse, por exemplo, que é criticado pela letargia do governo federal na compra de vacinas contra a Covid-19, mas que não fez a compra porque não havia imunizantes disponíveis, uma informação falsa. Também questionou a efetividade da CoronaVac, imunizante comprovadamente eficaz.
O presidente voltou a criticar as políticas de restrições de mobilidade implementadas por governadores e prefeitos no combate à pandemia, associando-as a uma suposta “ditadura” ou ao cerceamento de liberdades individuais.