Em entrevista, Flordelis nega crime contra Anderson e põe culpa em filha biológica
Em entrevista concedida ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, na madrugada desta sexta-feira,…
Em entrevista concedida ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, na madrugada desta sexta-feira, a deputada federal Flordelis responsabilizou a filha biológica Simone dos Santos Rodrigues pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, baleado na garagem da casa da família. Em janeiro deste ano, um ano após o crime, ocorrido em junho de 2019, Simone afirmou, em depoimento, ter encomendado o assassinato do padrasto junto a uma irmã, Marzy Teixeira. Para a polícia e para o Ministério Público do Rio, porém, a mentora intelectual da execução – Anderson tinha 30 perfurações de tiro, grande parte na região genital – foi a própria deputada.
– Vou carregar uma culpa para o resto da minha vida. Culpa por amar demais um homem e ter ficado cega para algo que estava acontecendo dentro da minha própria casa. Com a minha filha. Principalmente no período em que ela estava com câncer. Minha filha teve 35 tumores. E ela alega que houve uma cena de assédio em um momento em que ela tinha chegado do hospital, da quimioterapia. Algo que soube só agora recente – relatou Flordelis, creditando a supostos abusos sexuais cometidos contra Simone pelo pastor, que ela até então desconhecia, a motivação do crime: – Ainda não falei com a minha filha. Não estive com ela. Ela carregava isso sozinha, em silêncio. Não estou defendendo, porque não concordo com o que ela fez. Eu discordo 100%. Ela não poderia ter feito isso. Não é matando que se resolve o problema.
Dos 11 acusados pela morte do pastor, sendo nove filhos e uma neta de Flordelis, somente a deputada federal encontra-se, por conta da imunidade parlamentar, fora da cadeia, utilizando tornozeleira eletrônica. Pelo menos cinco réus também apontam a própria mãe como mandante do crime. Perguntada sobre os motivos que levariam os filhos a acusá-la, a parlamentar afirmou que eles mentem “por dinheiro” e “Interesses financeiros”:
– Eu fiquei sem nada. Falaram que matei o meu marido por poder e por dinheiro. Que poder? Eu já sou deputada federal, sou pastora, cantora gospel renomada, canal no Youtube com 315 mil inscritos. Que poder é esse que eu estava buscando dele? Eu já tinha.
Na sequência, Flordelis citou supostos problemas financeiros que vem enfrentando desde que o marido foi morto. Falando por vídeo da casa que dividia com o pastor, que diz não ter vendido por ainda estar pagando o financiamento, ela contou ter pego empréstimos em bancos e com conhecidos, além de ter aberto mão de oito templos para conseguir saldar dívidas da Igreja que mantinha com o companheiro. A deputada diz viver só “com metade do salário de parlamentar” – valor que supera, cheio, R$ 33 mil.
– Há meses, preciso de cesta básica de amigos. Se eles não mandam, eu não tenho comida para dar para os meus filhos – garantiu a pastora: – Hoje eu vivo com bastante dificuldade.
Flordelis também falou sobre a internação ocorrida em fevereiro após ingerir uma grande quantidade de remédios. A ida para o hospital deu-se horas depois da decisão do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) que a afastou do mandato de deputada federal. De acordo com a pastora, o consumo dos comprimidos foi causada pelo conteúdo do depoimento de Simone, que havia vindo a público mais de um mês antes.
– Na verdade, eu não esperava o depoimento da minha filha. Eu até hoje estou muito abalada. Foi algo que veio como um terremoto muito mais forte na minha vida. Até hoje não consegui ouvir na totalidade. Naquele momento, fui para o meu quarto de oração e queria apagar. Eu queria dormir por alguns dias. Eu queria esquecer por um momento tudo o que eu estava vivendo, tudo o que eu estava passando, para ver se aliviava um pouco a dor que eu estava sentindo. É uma dor que dilacera a alma – disse Flordelis: – Eu nunca ia acreditar, mesmo tendo uma trama de morte antes, que os assassinos do meu marido estariam dentro da minha casa.
A trama mencionada pela deputada refere-se às pelo menos nove tentativas de matar Anderson identificadas pelos investigadores, todas costuradas, para a polícia, por filhos do casal. Em uma dessas ocasiões, em 2019, o próprio pastor teria tomado conhecimento das intenções de Marzy, uma das filhas, de tirar a sua vida.
– Eu queria muito que ele fosse para a delegacia comigo. Ele disse: “Você hoje é uma deputada federal. Eu sou um pastor renomado. Nós lutamos muito e não quero o nosso nome exposto. Deixa que eu vou resolver” – lembra Flordelis, que continua: – Houve um arrependimento. Houve uma conversa, uma reunião. Ele mostrou as mensagens para todos os filhos mais velhos. Todos sabiam da trama. Alguns amigos pessoais também sabiam. Houve uma reunião, houve pedido de perdão, houve fala de arrependimento. Meu marido fez a oração. E ele disse: “Acabou. Não quero mais esse assunto. Nem dentro nem fora de casa”.
Embora as mensagens que Anderson teria citado na ocasião tivessem vindo do celular de Flordelis, ela nega ser a autora dos textos. Em outro diálogo, alguém no aparelho da deputada chega a questionar um dos filhos: “Até quando vou ter de suportar esse traste?”. Ela também rechaça ter escrito a pergunta e alega que, por fazer muitos shows e ter muitas agendas, grande parte da família e dos funcionários tem a senha de seu celular.
– Tudo o que está acontecendo é de forma covarde, absurda, revoltante. Está mais do que provado que houve uma trama envolvendo alguns dos meus filhos. Mãe nenhuma tem que pagar pelos erros dos filhos. Mãe nenhuma tem que passar pelo que estou passando – afirmou a deputada.
LEIA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA
Sobre o fato de Anderson ter 14 anos e ela, 30, quando os dois se conheceram
“Nunca me preocupei com esse detalhe da diferença de idade. Ele fazia evangelismo na madrugada junto comigo, veio para conhecer a missionária do Comando Vermelho. E começou a evangelizar com o grupo que evangelizava comigo. Mas como ele era muito inteligente, muito além da idade dele, ele assumiu a liderança do grupo muito rápido. A minha admiração também veio muito rápido. E, aos 19 anos, ele se declarou pra mim. Foi bem persistente. Eu dizia: ‘Garoooto’. E ele dizia: ‘Mas eu te amo de verdade’. No dia do casamento, ele me chamou para ir ao cartório resolver coisas de criança. Na porta, ele falou: ‘Por favor, casa comigo. Eu te amo por nós dois’. Achei a coisa mais linda do mundo. E aí me casei.
Sobre Anderson e Simone, sua filha, terem namorado antes da relação dos dois
“Eu não sabia desse fato. Era desconhecido por mim. Nunca foi tocado nesse assunto. Não sabia mesmo. Fiquei sabendo agora recente. Não tinha ciência. Até porque, se soubesse, não teria permitido a ele entrar na minha vida da forma como entrou”.
Sobre relatos de que o casal frequentaria casas de suíngue
“Me causa uma revolta muito grande. Não sei porque mexer em coisas como casa de suíngue. Como muita coisa que criaram. A polícia deveria estar interessada no que aconteceu com meu marido, em achar os verdadeiros culpados, em vez de ficar indo lá atrás, no nosso passado. E se eu tivesse ido para uma casa de suíngue? Eu não fui. E se eu tivesse ido eu não teria problema nenhum em falar que fui”.
Sobre o celular desaparecido (ela chegou a falar com uma amiga pelo número de Anderson depois da morte do pastor)
“Meus filhos ficaram com os telefones. Eu estava sedada, não lembro detalhes. Se ela disse que falei pelo celular dele com ela, acredito que eu tenha feito. Não acho que ela mentiria. Mas não sumi com o celular do meu marido. Pelo contrário. Eu quero muito o celular do meu marido. Eu tenho muitas lembranças ali, todas as viagens que eu fiz com ele. E tenho certeza de que o que tinha nesse celular, de mensagens entre eu e ele, provaria a minha inocência”.
Sobre a relação com Anderson
“Pra você ver a forma que eu e meu marido vivíamos. Eu me achava uma mulher especial, sendo tratada de maneira especial. Depois de tudo o que ocorreu, do depoimento da minha filha, conversando com advogado, conversando com médicos, especialistas, psicólogos. Conseguiram me fazer enxergar que eu vivia de forma abusiva. Eu sempre trabalhei muito. Eu ficava com 40% de todo o dinheiro. Não fazia menos de R$ 50 mil por agenda. O restante ficava sendo controlado pelo marido e por um dos meus filhos afetivos. Inclusive, foi o que me acusou de ser a mandante. Eles dois é que administravam e controlavam o restante do dinheiro tanto da casa, quanto do instituto, como da igreja. No dia do velório do meu marido, esse meu filho pegou todos os computadores da igreja, colocou no carro e levou embora. Por que ele fez isso? É uma resposta que preciso ter. E cadê o dinheiro do meu trabalho? Trabalhei a vida inteira para estar onde estou agora”.
Sobre Simone ter demorado um ano e meio para assumir o crime
“Tenho total convicção do amor dos meus filhos. É algo que preciso muito conversar com a minha filha. É assustador pensar nisso. Todos os dias eu penso nisso. Eu prefiro acreditar que foi por medo”.
Sobre o processo de cassação na Câmara de Deputados
“Estou me defendendo. Estou buscando ajuda para me defender. Há um pedido de cassação do meu mandato. Não acredito que isso vá para frente. Vou fazer a minha defesa falando a minha verdade”.