Em mensagens, empresários bolsonaristas articulam criação de rádio pró-governo
Mensagens apreendidas pela Polícia Federal no celular de Otávio Fakhoury revelam articulação para criar emissora
Mensagens apreendidas pela Polícia Federal no telefone celular do empresário Otávio Fakhoury apontam que empresários bolsonaristas se articularam para comprar uma estação de rádio que apoiaria pautas de interesse do governo. Fakhoury falou sobre o assunto em troca de mensagens com Fábio Wajgarten, responsável pela comunicação social do governo Bolsonaro.
Fakhoury é investigado no inquérito que apura a organização de atos antidemocráticos, em tramitação perante o Supremo Tribunal Federal (STF) sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Ele foi alvo de busca e apreensão realizada em 16 de junho pela Polícia Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e, por isso, teve seu celular apreendido.
Na conversa obtida pela PF, Fakhoury fala sobre a necessidade de comprar uma rádio e diz já ter um grupo para “financiar a aquisição”, citando como um dos empresários participantes da iniciativa o chef e dono da rede de restaurantes Madero, Luiz Renato Durski Júnior. Por isso, a PF tomou o depoimento de Durski e fez questionamentos a ele sobre o assunto.
A informação chamou atenção dos investigadores da PF, que têm feito perguntas sobre esse assunto nos depoimentos tomados durante a instrução do inquérito.
“Indagado sobre o diálogo por meio do aplicativo de mensagem Whatsapp identificado no telefone celular de Otávio Oscar Fakhoury, entre Otávio Oscar Fakhoury e Fábio Wajngarten, em que Oscar Fakhoury comenta sobre a necessidade de comprar uma rádio FM “target”, em que Oscar Fakhoury afirma já ter um grupo para financiar a aquisição da rádio e, dentre as pessoas mencionadas, Oscar Fakhoury cita o nome do declarante (Junior Duski)”, diz o depoimento de Durski.
Perguntado se faz parte do grupo que que está disposto a financiar a compra da rádio “para promover e ampliar as pautas políticas de interesse de seu grupo político”, Durski afirmou que não. O empresário também disse que nunca foi procurador por ninguém para falar dessa compra e disse que não apoia grupos políticos, mas apenas a pessoa do presidente Jair Bolsonaro.
Em um outro depoimento tomado no mesmo inquérito, do pastor RR Soares, a PF também lhe pergunta sobre essa tentativa de compra de uma rádio pelo grupo bolsonarista. Neste depoimento, o pastor afirma que foi procurado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) pedindo ajuda para encontrar uma estação de rádio em São Paulo para alugar. No depoimento, RR Soares afirma ter conversado com alguns proprietários de rádios e que um deles lhe disse ter faturamento mensal de cerca de R$ 1 milhão, valor informado a Eduardo Bolsonaro.
“Eduardo Bolsonaro disse que só tinha interesse na locação de uma rádio e não tinha esse valor para negociar a locação”, diz o depoimento do pastor.
Procurada, a defesa do empresário Otávio Fakhoury disse que não iria se manifestar sobre o assunto. A Secretaria de Comunição da Presidência da República também não quis se manifestar.
O inquérito no STF apura se existem grupos organizados, com fontes de financiamento, para realizar atos com ataques ao Supremo e ao Congresso Nacional.