Denúncia

Em Minas, desenho animado de TV pública é acusado de LGBTfobia e risco à liberdade de crença

Rede Minas pertence à Empresa Mineira de Comunicação (EMC), vinculada ao governo Zema

MINAS GERAIS (AGÊNCIA O GLOBO) – Com estreia nesta segunda-feira (22) nas manhãs da Rede Minas, o desenho cristão para crianças “Danizinha Protetora” já é alvo de denúncias ao Ministério Público por suposta divulgação de mensagens de cunho preconceituoso em relação à opção sexual e por ameaça a liberdade de crença. A Rede Minas pertence à Empresa Mineira de Comunicação (EMC), órgão administrado pelo governo do estado.

Nas redes, o programa infantil tem postagens com mensagens como “Menino é menino e menina é menina e Deus nunca erra”, e também estabelece uma relação “ideologia de gênero” a “artimanhas do maligno”. A animação foi criada pela vice-presidente da Igreja Batista Getsêmani, a pastora Daniela Linhares.

Ainda para proteger os pequenos e defender os valores cristãos, propósitos pelos quais a protagonista da historinha luta a cada episódio, o desenho disponibiliza uma cartilha digital gratuita para pais e responsáveis. Também há publicações pró-família e contra o aborto.

“Nessa linda cartilha digital, feita com muito amor, a Danizinha aborda o assunto ideologia de gênero, mostrando o que é, o que pretende alcançar e como atrapalha a vida das crianças”, diz o texto introdutório ao material. “Uma leitura excelente para quem ama os pequenos e quer ter mais conhecimento para protegê-los das investidas do maligno”.

Alvo de denúncias

A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), pediu ao Ministério Público do estado e à Secretaria de Estado de Comunicação Social (Secom) que retirem o desenho do ar e investiguem indícios de uso da TV estatal para a promoção de mensagens preconceituosas. Ela preside a Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais,

Segundo a parlamentar, a animação propaga discriminação de gêneros, “adotando tão somente o critério biológico, em detrimento a todos os indivíduos que se identifiquem de forma diversa, associando todos estes ao ‘maligno’, em notório discurso de intolerância”. Para ela, o governo de Romeu Zema (Novo) deve ser investigado por mau uso da máquina pública.

— A Rede Minas e a Empresa Mineira de Comunicação são veículos estatais e não podem ser utilizados num viés além de partidário ideológico. Dentro desse jogo de poder que o Zema está fazendo com vistas à disputa de 2026, a Rede Minas coloca uma programação que fomenta o discurso de ódio e a invisibilidade de grupos sociais, de pessoas que existem — afirmou a deputada ao portal Uol.

Um dia antes, o Conselho Estadual de Defesa de Direitos Humanos já havia solicitado que o MP apure se ocorreu, de fato, o descumprimento aos “ditames constitucionais de laicidade do Estado, respeito aos direitos humanos e preservação do interesse público”. Na denúncia, o conselho destaca a “falta de informações que o isente de ser um programa que possua uma linha fundamentalista, anti pluralista e preconceituosa”.

Procurado pelo GLOBO, o governo de Minas Gerais respondeu com uma nota da Empresa Mineira de Comunicação, confira:

“A Rede Minas, gerenciada pela Empresa Mineira de Comunicação (EMC), conta, hoje, com mais de 20 atrações próprias na grade de programação. São telejornais, programas e séries de cunho educativo, cultural e informativo abordando as áreas de interesse do cidadão, que vão de educação e saúde à segurança. A emissora adota tais diretrizes em toda sua programação, inclusive para novos programas ou parcerias sem ônus, que são avaliados por um Conselho Curador, que conta com representantes da sociedade civil, da empresa e do governo. As parcerias são seladas por meio de Termo de Cessão Não-Onerosa”.

Em publicação no X, antigo Twitter, a também deputada estadual Lohanna França (PV) disse que a denúncia contra a exibição do programa pela estatal é grave e merece atenção.

“O clássico caso de abuso de poder ganhou mais uma temporada: um programa evangélico está sendo exibido diariamente na programação da Rede Minas”, disse Lohanna no post, que conta com mais de 7 mil curtidas e mil comentários.