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Embrapa cria feijão geneticamente modificado que não dá pum

Saiba quanto tempo levará até a criação dos novos grãos

Foto: FreePik

Após comer feijoada ou caldo de feijão muitos sentem uma sensação de inchaço na barriga e ela pode até mesmo ser seguida pela liberação de flatulências. Isso ocorre porque o feijão produz rafinose, um tipo de carboidrato que o corpo não consegue digerir de maneira adequada. Desta forma, cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) descobriram uma maneira de fazer um feijão que não dá pum: através da edição dos genes.

A equipe de pesquisa conseguiu desativar dois genes presentes no feijão que eram responsáveis pela produção de rafinose com a técnica CRISPR (sigla em inglês para Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas). Este método funciona como uma “tesoura”, capaz de cortar uma parte específica do DNA.

Os genes presentes no feijão foram sequenciados, ou seja, identificados e ordenados, há pelo menos 10 anos. Contudo, foi preciso que os cientistas estudassem a maneira como isso impactava na produção do carboidrato causador de desconforto estomacal.

A criação de novos grãos pode levar até oito anos

Eles conseguiram localizar com precisão a ação do gene por trás da rafinose, e além disso, identificaram o da estaquiose, também considerado de difícil digestão pelo organismo humano. Assim, a equipe inativou esses dois genes nos feijões utilizados no experimento.

“No caso de características relacionadas à qualidade tecnológica e nutricional de grãos, a técnica emerge como uma importante ferramenta para editar genes específicos e, com isso, realizar um melhoramento de precisão, abrindo novas perspectivas para o desenvolvimento de variedades mais atrativas para produtores e consumidores”, afirma a pesquisadora Rosana Vianello, que coordenou o estudo inédito junto ao pesquisador Josias Corre na unidade Embrapa Arroz e Feijão, em Goiás.

O próximo passo é esperar as sementes editadas geneticamente crescerem e produzirem sementes com os genes já inativos. Para chegar a uma nova variedade de feijões pode levar de cinco a oitos anos.

“A geração editada T0 está produzindo sementes T1. Vamos plantar T1 e esperamos que a edição seja transmitida para a próxima geração. Somente com o avanço das gerações, de T1 para T2 e de T2 para T3, teremos as edições em homozigose (o que torna a característica editada com herdabilidade estável) e poderemos avaliar o fenótipo (conjunto de características resultante da interação com o ambiente) das plantas, além de testar linhagens em diferentes locais que poderão se tornar uma nova variedade”, destaca Rosana.

“A geração editada T0 está produzindo sementes T1. Vamos plantar T1 e esperamos que a edição seja transmitida para a próxima geração. Somente com o avanço das gerações, de T1 para T2 e de T2 para T3, teremos as edições em homozigose (o que torna a característica editada com herdabilidade estável) e poderemos avaliar o fenótipo (conjunto de características resultante da interação com o ambiente) das plantas, além de testar linhagens em diferentes locais que poderão se tornar uma nova variedade”, destaca Rosana.

No quesito desconforto, o feijão não é o único: outros alimentos como lentilha, repolho, brócolis, aspargo, couve-de-bruxelas e grãos integrais, também produzem rafinoses. Uma solução eficiente quando se tratam de sementes é deixá-las de molho na água de um dia para o outro.

Por isso, a expectativa é que com a solução encontrada pelos pesquisadores, será mais fácil garantir que ninguém passe pela dor de estômago mesmo sem realizar esse cuidado antes do cozimento do alimento.

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*VIA O GLOBO