Empresária, namorada de Rennan da Penha vai a banco e é levada pela polícia
A Polícia Civil ainda não respondeu sobre o caso
“Preto e dinheiro são palavras rivais?”
É o que a empresária Lorenna Vieira, 21, se perguntou após, segundo ela, ser “humilhada e esculachada por minha conta receber um bom dinheiro”. Queria sacar R$ 1.500.
Ela tem uma marca de cosméticos (preferência para cabelos cacheados, como os seus), a Use Bad Gall. E faz sucesso com ela, até por ser influenciadora digital: são 300 mil seguidores no Instagram e outros 125 mil no Twitter.
Nesta quinta (30), a Miss Beleza Negra 2016 foi a uma agência do Itaú na Penha para resolver “negócios de conta”.
Saiu de lá direto para a 22ª delegacia de polícia, no mesmo bairro da zona norte carioca, onde mora com seu namorado, o DJ Rennan da Penha.
Ela diz que funcionários do Itaú a enrolaram até o banco fechar, pois haviam acionado as autoridades, desconfiados de uma possível fraude. Teriam estranhado a movimentação em sua conta.
Lorenna contou em suas redes sociais que, na delegacia, “ficaram fazendo perguntas tipo ‘você é o que do Rennan, você já visitou [na cadeia]’, tipo assim, então me conhece, né?”.
Seu namorado, coqueluche da cena funkeira do Brasil, passou sete meses encarcerado em 2019, condenado em segunda instância (após ser inocentado na primeira) por associação para o tráfico de drogas.
Foi solto em novembro, beneficiado pela mesma decisão do Supremo Tribunal Federal que contemplou o ex-presidente Lula -a de que um condenado só pode ser preso quando não for mais possível recorrer.
A detenção do jovem, acompanhada de acusações de racismo e criminalização do funk, mobilizou a campanha #DJNãoÉBandido.
Agora é Lorenna quem protagoniza um episódio que, para ela, escancara “a porra do preconceito, não tem outra explicação”.
A empresária afirma que os três policiais que a escoltaram, todos eles brancos, agiram com “o maior deboche, maior desrespeito, maior preconceito”.
Ela diz que vai encerrar sua conta no Itaú e “processar quem tiver que processar”, a instituição, a Polícia Civil ou ambos.
Lorenna conta que, quando os policiais chegaram para levá-la, não havia mais ninguém na agência. “Fiquei lá esperando e não estava entendendo o porquê da demora.”
Até perceber que haviam chamado a polícia. “Me tiraram de lá, aquela vergonha toda, isso tudo que vocês já sabem o que é.” Segundo Lorenna, justificaram a suspeita assim: falaram que não era ela na identidade (o cabelo, na foto, estava liso, e hoje ela o deixa no crespo natural) e que a quantia que estava entrando em sua conta não era normal, logo, não lhe deixaram sacá-la. “Prenderam meu dinheiro, quase me prenderam.”
No mesmo dia, ela foi a um espaço que abrigará uma nova loja de sua marca. Diz que conheceu a lojista de um estabelecimento vizinho que ficou surpresa por ser ela a dona do negócio. “A gente é preto, é humilde, mas é empresário sim, é empreendedor também.”
Rennan da Penha também comentou o caso no Instagram. “Meu bagulho é meu trabalho, não gosto nem de ficar criando polêmica, mas o que aconteceu hoje com minha mulher, no Itaú, não foi maneiro, não.”
O funkeiro questionou o que motivou a suspeita. “Fraude por quê? Ela trabalha, vende o xampu dela.”
Estereótipos do que esperar de um negro, diz, também o assombram. Se não é bandido, no imaginário popular, só pode ser boleiro. Como a vez em que entrou numa agência do mesmo Itaú, e o segurança perguntou se era jogador de futebol. “Fico assim, pasmo, mano. Não posso conquistar nada? Que loucura é essa, mano?”
Também incomoda quando ele e Lorenna estão no avião e recebem olhares tortos. “Dois jovens negros viajando não é normal pra eles.”
Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o Itaú se desculpa e diz que vem tentando entrar em contato com Lorenna para resolver a situação.
Segundo o banco, “o procedimento adotado na agência é padrão em casos de suspeita de fraude, e não tem qualquer relação com questões de raça ou gênero”. O Itaú Unibanco, continua o texto, “acredita que toda forma de discriminação racial deve ser combatida.”
O objetivo, de acordo com a instituição, “era proteger os recursos de Lorenna de possível fraude, uma vez que já havia um bloqueio preventivo de sua conta corrente e era difícil identificá-la com o documento apresentado no caixa”.
A Polícia Civil ainda não respondeu sobre o caso.