NOTA

Entidade policial emite nota de repúdio a grupo que atacou sede do Porta dos Fundos

Renosp diz que ação foi homofóbica, de homens brancos heterossexuais, com sexualidade frágil e conceito de masculinidade ultrapassado

Justiça determina retirada do ar de especial de Natal do Porta dos Fundos para 'acalmar ânimos'

Nesta quinta-feira (26), a Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTQI+ (RENOSP) emitiu uma nota de repúdio ao grupo denominado “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira”, que assumiu a autoria do atentado contra a sede do Porta dos Fundos. A produtora foi atacada com coquetéis-molotov.

“A ação tem viés machista e homofóbico, enquanto reação violenta ao especial de Natal do Porta dos Fundos, que retrata Jesus enquanto homem gay. Essa mesma violência não foi vista em outros cenários representando Jesus como bêbado ou como criminoso. Parece ser um comportamento de homens brancos heterossexuais, infantilizados e de sexualidade frágil, que se agarram a um tóxico e ultrapassado conceito de masculinidade”, lê-se na nota.

Jesus de Nazaré nunca pregou a violência. Ele sempre acolheu prostitutas, ladrões, leprosos e todas as pessoas vulnerabilizadas. Nós, enquanto policiais lésbicas, gays, bissexuais, travestis, homens e mulheres transexuais, conclamamos os demais profissionais de segurança pública a apuraram tal caso. O dever de “servir e proteger” deve incluir a proteção à diversidade e à população LGBTQI+”, conclui a nota.

Segundo o Renosp, a ação exige urgente resposta das instituições brasileiras, pois trata-se de uma atividade criminosa e fascista de uma associação fundamentalista, cujo lema é “Deus, Pátria, Família”.

https://www.youtube.com/watch?v=TGAJ9X7gx8U&feature=emb_title

Caso policial

Agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) há mais de 18 anos, o policial Fabrício Rosa diz que constantemente tem visto nas redes sociais as pessoas dizerem que ser gay é uma ofensa. “Muitas vezes quando alguém quer ofender o outro, chama de gay. Isso precisa ser discutido na sociedade, pois esse tipo de homofobia na linguagem autoriza toda forma de violência”, afirma.

Polícia Civil do Rio de Janeiro criou uma espécie de força-tarefa para investigar o atentado. O caso foi registrado na 10ª DP, onde está sendo tratado como crime de explosão e tentativa de homicídio.

Polícia Civil cria força-tarefa para investigar atentado ao Porta dos Fundos
Sede do Porta dos Fundos foi atacada (Foto: Domingos Peixoto)

Repercussão do ataque ao Porta dos Fundos

O governador do Rio, Wilson Witzel, afirmou que repudia o ataque e “toda forma de violência ou intolerância”. Em agenda no Palácio Guanabara, Witzel disse que o caminho correto para buscar a reparação de eventuais danos causados por um conteúdo é o Poder Judiciário, não a violência.

Um abaixo assinado online pedindo a retirada do especial da Netflix ultrapassou um milhão de assinaturas. Por meio do Twitter, Fábio Porchat fez uma publicação no qual falou sobre as críticas que a produção tem recebido. 

“Gente, pode deixar que eu me resolvo com Deus, tá de boas, não precisa se preocupar não. Agora pode voltar a se indignar com a desigualdade que destrói nosso País. Mas tem que se indignar com o mesmo fervor, tá?”, disse Porchat.

Em meio às polêmicas, o Porta dos Fundos e a Netflixfecharam um especial de Natal para o ano que vem. Mesmo sem a divulgação de dados de audiência pela Netflix, o especial do Porta dos Fundos foi a produção brasileira mais assistida do serviço até hoje, conforme publicado pela colunista Patrícia Kogut.

Vale lembrar que o especial do Porta dos Fundos de 2018, chamado “Se Beber, Não Ceie”, venceu o Emmy Internacional de melhor programa de humor.

Polícia Civil cria força-tarefa para investigar atentado ao Porta dos Fundos
A sede do Porta dos Fundos foi atingida por coquetéis molotov e o caso está sendo tratado como crime de explosão e tentativa de homicídio (Foto: Reprodução)