SURTO

Epidemia de gripe atinge ao menos 17 estados do Brasil

A epidemia de gripe já afeta ao menos 17 estados do país, que dizem ter notado…

A epidemia de gripe já afeta ao menos 17 estados do país, que dizem ter notado aumento incomum de atendimentos por influenza nas últimas semanas. Instabilidades nos sistemas de notificação, porém, não permitem saber o tamanho desse crescimento.

Além de São Paulo e Rio de Janeiro, os locais com avanço mais claro da doença ou maior número de infecções pela variante H3N2 são Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rondônia, segundo o levantamento feito pela Folha com todas as secretarias estaduais de Saúde.

Apenas seis unidades da Federação afirmaram não ter notado uma ampliação na demanda até esta quinta (23), metade deles no Centro-Oeste: Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de Sergipe, Tocantins, Ceará. Outras quatro secretarias não responderam ou não confirmaram.

Apesar da rápida expansão da doença, poucos governos já encaram a situação como epidemia. A maioria fala em alerta, incluindo as administrações paulista e baiana, o que difere do entendimento de epidemiologistas como Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina da USP.

“Hoje a epidemia já é nacional. Estourou em todos os lugares, nem precisa fazer conta. Os registros em dezembro já indicam isso, apesar de haver secretarias negando. É preciso orientar a população”, afirma. Os cuidados são os mesmos da Covid-19 —vacina, máscara, álcool em gel e distanciamento.

Somando os números informados pelas secretarias, o país registra ao menos 1.312 casos e 10 mortes por síndrome gripal causada pela cepa H3N2, a principal em circulação. Mais de metade dos casos (772) está no Amazonas, mas o estado não detalhou se em todos eles a variante foi confirmada por análise laboratorial, como nos outros locais.

Esse total nacional provavelmente está subnotificado. Primeiro, porque a identificação do vírus normalmente é feita por amostragem. Segundo, porque o atendimento de pacientes com síndrome gripal não é de notificação compulsória pelos municípios.

Situações de surto, no entanto, devem ser avisadas obrigatoriamente aos estados, assim como casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). O problema é que, com o ataque hacker ao Ministério da Saúde, as unidades de saúde e vigilância não estão conseguindo notificar nem extrair dados há quase duas semanas.

O parâmetro, então, é uma percepção de aumento na procura por unidades de saúde. No Rio de Janeiro, onde o surto de influenza começou, a média diária de atendimentos por síndrome gripal saltou de 167 no início de novembro para 5.112 no início de dezembro. Na última semana, desacelerou para 4.094.

“Hoje estamos mais tranquilos, mas novembro e início de dezembro foi muito ruim. Foi quase de um dia para o outro. Fechamos numa sexta, tranquilos, Covid sob controle, e na outra semana foram cinco vezes mais atendimentos que a média”, diz Marcos Goldraich, médico de uma clínica da família na favela da Rocinha.

Até agora foram confirmados 362 casos e 36 mortes no estado neste ano, contra 214 casos e 69 óbitos em 2019 (considerando todas as cepas) —2020 foi desconsiderado por ser um ano atípico para as outras doenças respiratórias.

Logo depois, a transmissão começou a crescer em São Paulo. O estado, segundo dados preliminares, ainda tem menos casos (665) e óbitos (50) de SRAG por influenza do que no ano passado (713 casos e 74 mortes), mas os números podem ser maiores pelo problema no sistema.

A Bahia foi outro local que já registrou mortes pela H3N2, de dois idosos acima de 80 anos que não estavam vacinados —um deles com doenças cardíaca e neurológica. Até terça (21), eram 185 pacientes confirmados no estado, dos quais 61 precisaram de hospitalização, quase todos em Salvador.

O avanço da influenza junto com a Covid, que pressiona a demanda nas UPAs, foi um dos fatores citados pelo governador Rui Costa (PT) para cancelar o Carnaval de 2022. “Sabe aquele filme Missão Impossível? Nós estamos na Missão Impossível 3”, afirmou. Apesar disso, o governo não trata a gripe como epidemia.