Escola de elite de SP com mensalidade de R$ 5 mil demite funcionário e atrasa salário
Colégio Palmares foi comprado em novembro de 2020 por uma empresa de investimento
Menos de um ano após ser comprado em um acordo milionário por uma empresa de investimentos, o colégio Palmares, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, está demitindo funcionários e já atrasou por dois meses os salários dos professores.
A direção do colégio divulgou que enfrenta problemas financeiros por causa da pandemia e “dificuldades naturais da implantação de uma nova gestão”. Entre os pais de alunos, há o receio de que as demissões impactem na qualidade do ensino e alguns já até procuram outras unidades para matricular os filhos.
A escola, com mensalidades de cerca de R$ 5.000, já foi uma das mais tradicionais da capital paulista. Com educação conservadora, a unidade foi uma das mais destacadas na cidade nos anos 1990 e 2000 por ter uma das maiores taxas de aprovação de alunos nas principais universidades públicas do país.
Nos últimos anos, no entanto, o colégio começou a enfrentar problemas financeiros e uma queda no número de alunos. As dificuldades começaram a surgir após uma de suas fundadoras, a educadora Zilda Zerbini Toscano, se aposentar e deixar a administração para o filho.
Para evitar a perda de estudantes, houve uma tentativa de modernizar o projeto pedagógico e até a construção de novos espaços escolares. Ainda assim, o colégio que chegou a ter mil alunos hoje tem cerca de 450 matriculados.
Em novembro do ano passado, a família decidiu vender o colégio para o LIT Capital Group. A empresa de investimentos, que até então não tinha atuação na área, decidiu entrar no mercado de educação de São Paulo com a aquisição do Palmares e da escola Equilíbrio.
Na época, o grupo afirmou que iria aplicar R$ 150 milhões nas duas unidades no primeiro ano —o valor incluía tanto o gasto com a compra quanto novos investimentos que seriam feitos. O LIT Capital também anunciou que planejava novas aquisições na área educacional.
A compra da escola deu ânimo aos funcionários e pais de alunos pela expectativa de novos investimentos na unidade. Mas em maio deste ano os professores tiveram atraso no pagamento dos salários e descobriram que a direção tinha deixado de pagar o plano de saúde. O atraso de salários voltou a ocorrer em agosto.
Na última semana, a direção convocou funcionários da parte administrativa e propôs demiti-los para recontratá-los como pessoa jurídica e com um salário inferior ao que recebiam. Cerca de 30 não aceitaram a proposta e foram demitidos.
Uma funcionária, que trabalhava há alguns anos no colégio, disse que a proposta reduzia seu salário em 30%. Ela disse não ter aceitado por ter se sentido desrespeitada, mas também por medo de ser dispensada ou até mesmo de não ser paga ao ter um contrato de trabalho menos seguro.
Ela e os outros colegas demitidos pretendem entrar com uma ação coletiva contra a escola, já que a direção não pagou as verbas rescisórias. O Sinpro (Sindicato dos Professores de São Paulo) também encaminhou denúncia ao Ministério Público do Trabalho pelo atraso nos pagamentos.
Em nota à Folha, a direção do colégio disse que, pelas dificuldades financeiras causadas pela pandemia, ocorreram “alguns atrasos e a reorganização dos custos operacionais da escola”.
Também informou que deve concluir o pagamento dos salários do mês de julho, que deveriam ter sido feitos em 5 de agosto, até sexta-feira (27). “A nova gestão já assumiu o compromisso com seus colaboradores que esse infeliz fato não mais se repetirá.”
Sobre as demissões, disse que elas foram necessárias e serão conduzidas “estritamente dentro dos ditames legais.”