Especialistas condenam anúncio do governo sobre eficácia de nova droga contra coronavírus
Pesquisadores ressaltam que experimentos podem ter resultado inferior ou mesmo falharem em seres humanos
Ao anunciar testes com um medicamento sigiloso que teria alta eficiência contra a Covid-19, o ministro da Ciência e Tecnologia (MCTIC), Marcos Pontes, ocultou informações cuja divulgação é obrigatória, segundo especialistas. Além disso, os resultados apresentados podem não se refletir no ser humano, já que os testes ainda são feitos em laboratório.
Pontes está conduzindo testes com o vermífugo nitazoxanida, que, segundo ele, poderiam reduzir a replicação do novo coronavírus em células humanas. Os exames foram eficazes em 94% dos casos, destacou o ministro. No entanto, o levantamento ainda está na fase in vitro, ou seja, sem a participação de seres humanos. Os primeiros ensaios clínicos só foram liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última quarta-feira. Não há garantias de que a taxa de sucesso seja a mesma, ou mesmo que o novo produto seja comercializado.
— Menos de 10% dos remédios que dão certo in vitro chegam às prateleiras — assinala Natalia Pasternak, pós-doutora em microbiologia pela USP. — Isso quer dizer o quê? Que a maior parte dos compostos que testamos e funcionam em células em laboratório depois falham em animais e humanos. Isso é muito comum na ciência. — Poucos são os que chegam à fase de estudos em humanos. O ministro deveria esperar os resultados (dos estudos) até maio e junho para dizer se se mostraram promissores ou não.